O filme “SEMENTES: MULHERES PRETAS NO PODER”, dirigido por Éthel Oliveira e Júlia Mariano, tem estreia online marcada para o dia 07 de setembro. Inclusive, poderá ser visto gratuitamente. A princípio, a obra acompanha, escuta e revela quem são algumas das mulheres pretas na política do Brasil. Elas emergiram após o brutal assassinato de Marielle Franco. O Brasil tem a menor representação parlamentar feminina na América do Sul com menos de 10% de cadeiras existentes na câmara dos deputados ocupadas por mulheres. Dessa forma, para elas, responder politicamente ao assassinato de Marielle Franco significou candidatar-se a cargos de deputadas federal e estadual nas eleições de 2018, ou seja, disputar o espaço da política institucional do qual Marielle foi brutalmente arrancada.
No Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018, a vereadora Marielle Franco foi brutalmente executada. Tristeza e indignação inundaram os dias após ao assassinato. Logo, milhões de brasileiros saíram às ruas, em todo país e no resto do mundo, para cobrar justiça. Contudo, a resposta ainda não temos: quem mandou matar Marielle Franco?
Legado
A tentativa de silenciamento da vereadora se transformou em força e luta. Marielle era semente. Seus assassinos não imaginavam que seu legado se multiplicaria em novas forças políticas femininas. Em sua maioria de mulheres pretas e periféricas como ela, que vieram em forma de organização política e anunciaram suas candidaturas aos cargos de deputada federal e estadual nas eleições de 2018. Houve um aumento de 93% em candidaturas autodeclaradas pretas em 2018.
“SEMENTES: MULHERES PRETAS NO PODER” foi rodado no Rio de Janeiro, durante o primeiro turno das eleições de 2018 no Brasil. A saber, acompanha seis candidatas: Mônica Francisco, Renata Souza, Talíria Petrone, Rose Cipriano, Tainá de Paula e Jaqueline Gomes. Assim, busca mostrar como é o processo de construção dessas mulheres como figuras políticas, como driblam as dificuldades financeiras e trazem de volta às urnas eleitores desacreditados que desistiram do voto.
Força feminina
Primeiramente, o longa foi feito com baixo orçamento e sempre teve uma equipe majoritariamente feminina. Inclusive, com paridade entre mulheres brancas e pretas. Aliás, sua equipe técnica é formada por mulheres pretas na direção, roteiro, direção de fotografia e trilha sonora, o que garantiu a elas estar em posições de chefia. Certamente, o olhar do filme segue pelas perspectivas diversas dessas mulheres pretas, assim como as retratadas em frente às câmeras.
“SEMENTES: MULHERES PRETAS NO PODER” é o primeiro longa da co-diretora Éthel Oliveira, da fotógrafa Marina Alves e da roteirista Lumena Aleluia. Uma escolha da produtora executiva e co-diretora Júlia Mariano, que coloca em perspectiva o próprio cinema brasileiro e toda a produção de memória e história que vem com ele. Pois temos um cinema fundado no fazer de pessoas brancas, que desconsidera outras perspectivas e olhares de mundo. Sendo assim, esse mono-olhar branco, que constrói nosso imaginário coletivo, é redutor e empobrecedor. Mas, para além disso, é também constitutivo do racismo estrutural brasileiro. É perceber como o corpo feminino negro é trabalhado no cinema nacional para se ter o tamanho do problema.
Certamente, “SEMENTES: MULHERES PRETAS NO PODER” nasce do desejo de contar como a barbárie da morte de Marielle Franco se transformou no maior levante político conduzido por mulheres negras que esse país já viu. Além disso, nasce também, com o objetivo de quebrar, de certa forma, essa cultura no audiovisual, e mostrar uma história sobre lideranças negras, contadas por profissionais negras.
AS PERSONAGENS
MÔNICA FRANCISCO, 48 anos
Ex- assessora de Marielle Franco, é pastora evangélica e militante do movimento de favelas no Rio de Janeiro. Se define como “mulher, negra e defensora da Comunicação Comunitária e Popular”. Durante muitos anos atuou no Movimento de Rádios Comunitárias . Além disso, fundou a Rede de Instituições do Borel e do Grupo Arteiras. Integrou a equipe do Mandato da vereadora Marielle Franco na equipe de Favelas. Além disso, é natural do Morro do Borel, faz parte do PSOL RJ e ganhou para deputada estadual em 2018 com 40.631 votos.
ROSE CIPRIANO, 45 anos
É professora da rede municipal de Duque de Caxias. Nascida na Vila Cruzeiro e criada na Figueira, comunidades icônicas do Rio de Janeiro, ingressa no Instituto de Educação Roberto Silveira em 1989. Se gradua em Matemática e se especializa em educação especial. Na juventude, atuou na Pastoral do Negro, em São João de Meriti e Caxias, e no PVNC (Pré-Vestibular para Negros e Carentes). Foi professora da rede estadual entre 1992 e 1996 e desde 1997 ensina na rede municipal de Duque de Caxias mesclando suas atividades com as do SEPE-Caxias, órgão do qual faz parte desde 2006. Esse é o lugar e o olhar de Rose: a periferia, a luta das mulheres e dos negros e negras, a educação pública e de qualidade para todos. Ademais, foi candidata a deputada estadual pelo PSOL-RJ, obteve 17.483 votos em 2018.
TAINÁ DE PAULA, 35 anos
É arquiteta e urbanista, ativista feminista, atua nas áreas de habitação popular, planejamento urbano e arquitetura pública. Coordenadora Regional da Plataforma Brasil Cidades, integrante da Comissão para a Equidade de Gênero no CAU/RJ e presta assistência técnica para o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) do Rio de Janeiro. Integra os coletivos #partidA Feminista e Intelectuais Negras Zacimba Gaba. Tainá de Paula foi candidata a deputada estadual pelo PcdoB em 2018, obtendo um pouco mais que 8500 votos.
JAQUELINE GOMES, 40 anos
Jaqueline é mulher negra e a primeira trans a ser candidata pelo Partido dos Trabalhadores no Rio de Janeiro a uma vaga na câmara legislativa no Rio de Janeiro. Jaque também é professora na Baixada Fluminense, pesquisadora, comprometida com os direitos humanos e a luta contra o racismo, o machismo, as LGBTfobias e quaisquer outras intolerâncias. Sua bandeira é construir um mandato coletivo a serviço da justiça, da educação pública, dos direitos das mulheres, da igualdade e da efetiva valorização da diversidade. Reconhecendo sua trajetória única, a vereadora Marielle Franco lhe concedeu a Medalha Chiquinha Gonzaga em 2017. Enfim, Jaqueline foi candidata a deputada estadual pelo PT RJ, obtendo um pouco mais que 2200 votos.
RENATA SOUZA, 36 anos
Jornalista e cria da Maré, foi eleita como deputada estadual com mais de 60.000 votos. Renata se define como mulher, negra e feminista. Parceira de Marielle Franco desde 2000, quando se conheceram no Censo da Maré, pré vestibular comunitário frequentado por ambas. Pós-doutoranda em Comunicação pela UFF, Renata atua desde 2006 na política institucional, quando junto com Marielle, compôs a comissão de direitos humanos da ALERJ, presidida pelo deputado estadual Marcelo Freixo.
Desde então, a pauta da Segurança Pública é central em suas ações, seja na militância nos movimentos sociais, na política partidária e também na universidade. Renata já conhece a máquina do estado por dentro e teve uma base partidária mais sólida para sua candidatura. Em 2018, ganhou para deputada estadual pelo PSOL RJ e desde o princípio do seu mandato preside a comissão de direitos humanos da ALERJ.
TALÍRIA PETRONE, 33 anos
Eleita deputada federal, em 2018, com mais de 100.000 votos, havia sido a vereadora mais votada, em Niterói, em 2016. Desde o início de seu mandato, Talíria enfrenta ameaças e a intolerância, principalmente nas redes sociais. Mensagens de ódio, recobertas de violência como “tem que voltar pra senzala”, “tem que meter uma bala na cara” são constantes nas redes sociais da, hoje, deputada. Talíria enfrentou a animosidade de vereadores da Câmara de Niterói. Diariamente, precisava responder aos insultos e atos de intolerância cometidos por seus “colegas de trabalho”. Desde a execução de Marielle vive sob escolta policial, só se locomovendo em carro blindado. Enfim, ela diz que a única resposta possível a tudo isso é seguir firme em frente na luta e na política, disputando ainda mais estes territórios institucionais. “Não vão nos calar!” reafirma.
Afinal, o filme poderá ser visto gratuitamente na embaubafilmes.com.br.