Achei curioso assistir Softie no mesmo dia em que uma amiga disse ter vergonha de dizer que gosta de certo tipo de música. Fiquei pensando, com o comentário de minha amiga, como o mundo nos faz sentir envergonhados ou até diminuídos por termos gostos diferentes do mais comum. Ou pode até ser parecido com o mais comum, mas se em nossa volta as pessoas não são adeptos do mais comum, elas podem nos fazer sentir ridículas só por não termos gostos semelhantes ao delas. Digo que achei curioso a coincidência do dia porque Softie fala um pouco sobre isso.
Johnny é um garoto de 10 anos que não se assemelha às outras crianças de sua idade. Uma das primeiras cenas do filme, inclusive, mostra um adulto dizendo que achava que ele fosse mais velho e sua mãe concorda, com a justificativa de que ele é muito maduro. Na verdade, ele precisou ser, já que esse menino de 10 anos precisa tomar conta de quase toda sua família: da mãe, que bebe demais com frequência, e da irmã mais nova. O irmão mais velho só quer saber dele mesmo, como é comum dos adolescentes, e dispensa até as próprias responsabilidades para o menino.
Maturidade forçada
Muito por causa dessa maturidade imposta, Johnny é muito diferente das crianças de sua idade. Ele se sente diferente das outras crianças. E se sente mal por isso, já que os “amigos” não hesitam em apontar essas diferenças e a rir dele. Até sua mãe estranha a sua singularidade, sem se dar conta de que muito disso é por consequência de suas ações – e sem se preocupar com a forma como mostra essa estranheza para Johnny. Por conta de tudo isso, ele se sente um peixe fora d’água em todos os lugares que frequenta. Até conhecer um professor de sua escola, que parece conseguir compreender sua essência.
Para exemplificar, fique com o trailer do filme:
Um filme quase autobiográfico
Petite nature, no original, retrata de forma muito delicada as nuances de uma criança descobrindo as realidades da vida. Ou seja, como é o mundo real. E o que ela vai fazer com essas descobertas. Tudo é mostrado sem enfeites, de forma bastante natural e crua, inclusive as cenas em que Johnny, aos poucos, vai entendendo sua forma de se relacionar com as pessoas. Contudo, ao mesmo tempo, muito bonito e sem violência, mesmo nas cenas mais duras de se assistir. Talvez isso aconteça porque é um filme quase autobiográfico. Segundo o diretor Samuel Theis, Softie se baseia em sua infância, mas com espaço para um pouco mais de ficção. “Eu não queria estar tão ligado à realidade”, explica Theis, que assina o roteiro com Gaëlle Macé.

Além de ter sido nomeado ao Prêmio Queer Palm em Cannes, Softie recebeu uma indicação ao César de melhor ator promissor para o protagonista Aliocha Reinert, que interpreta Johnny Jung. A indicação foi merecida, já que Aliocha arrasa no papel de Johnny. O ator tem muita facilidade não apenas em demonstrar toda a confusão e desesperança que o garoto sente, como também a raiva e a sagacidade que vai ganhando. É uma atuação muito madura para alguém tão novo, algo que tem em comum com seu personagem.
Vida real
Apesar de Johnny ter que se virar sozinho na maioria das vezes, não é um filme que culpabiliza as mães e as mulheres. Muito pelo contrário. É nítido que aquela criança está com mais responsabilidades do que deveria ter, mas o espectador consegue perceber que a mãe de Johnny o ama e se preocupa com ele. Isso porque Softie também mostra as dificuldades que enfrenta uma mulher que precisa cuidar sozinha de três filhos. O roteiro se preocupa em não jogar a culpa nessa mulher, e sim nas circunstâncias em que essa família se encontra. Esse é um ponto muito positivo de Softie.
No final, é um filme que retrata a realidade de uma grande parcela da população mundial. E como eles conseguem passar por seus problemas com uma mistura de sentimentos. Mesmo na infância. Softie estreia no Brasil no dia 07 de dezembro.

Serviço
SOFTIE
Petite Nature | França | 2021
93 minutos | Drama
Direção: Samuel Theis
Roteiro: Samuel Theis, Gaëlle Macé
Produção: Caroline Bonmarchand
Elenco: Aliocha Reinert, Antonie Reinartz, Melissa Alexa, Ilia Higelin
Distribuição: Pandora Filmes
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