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Clarice e Nelson – Um recorte biográfico a partir de entrevistas | Crítica

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critica Clarice e Nelson - Marcos França e Carol Cezar Foto Ícaro J. Brito

O espetáculo Clarice e Nelson – Um recorte biográfico a partir de entrevistas tem a façanha de trazer dois grandes escritores para perto do público. Esse é um dos maiores poderes do teatro, essa proximidade, muito bem utilizada nessa montagem.

O título da peça já adianta, não temos os sobrenomes deles, são seus primeiros nomes, o negócio é mais pessoal, íntimo. No palco, os medos e as angústias desses baluartes literários os trazem para o comum, para perto de nós, reles mortais de frente para os imortais.

Na sinopse, Clarice Lispector e Nelson Rodrigues têm um encontro fictício no Jardim Botânico em meados de 1949, quando ainda eram dois jovens nomes da literatura brasileira. Esse encontro não aconteceu, mas a peça cria essas conversas a partir dos trechos de entrevistas concedidas pelos escritores ao longo da vida.

As falas de Clarice e os olhos de Carol

É dessa forma que viaja o texto de Rafael Primot e Franz Keppler com direção de Helena Varvaki e Manoel Prazeres. Brincando na metalinguagem a montagem conta também a história de um ator (Marcos França) e uma atriz (Carol Cezar) que debatem sobre como levar essa ideia para os palcos. Essa mescla é interessante, em suas idas e vindas, nos devaneios dos atores e nas verdades dos autores.

O elenco entrega bem seus papeis, há uma química e uma evocação dos escritores. Carol, em especial, hipnotiza quando olha nos olhos dos espectadores, jorrando as falas de Clarice, arrepiando em muitos momentos, unindo vocação e talento.

“Escrever sempre me foi difícil, embora tivesse partido do que se chama vocação. Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir.” (Clarice Lispector)

O cenário de Letícia Ponzi e George Bravo é pura literatura, entre páginas e páginas de livros, como tapetes mágicos, folhas em branco e máquinas de escrever. Uma delas parecia a que meu pai tinha. Tal fato ajudou na minha emoção pessoal, escutar o bater das teclas, lembrar de outras eras. Aliás, meu pai era fã de Nelson Rodrigues e suas tiradas pontiagudas, das quais muitas estão no espetáculo.

“Todo amor é eterno e, se acaba, não era amor.” (Nelson Rodrigues)

O espetáculo passa rápido e deixa um gosto de quero mais, talvez até a vontade de ver de novo, reviver esses símbolos através daquelas atuações, sonhar que conhecemos e estamos lado a lado com esses humanos que tanto nos fascinam.

Devido ao sucesso, a temporada do espetáculo Clarice e Nelson – Um recorte biográfico a partir de entrevistas, em cartaz no Teatro III do CCBB RJ, segue até dia 18 de dezembro.

Serviço:

Clarice e Nelson – Um recorte biográfico a partir de entrevistas

Temporada: De 11 de novembro a 18 de dezembro de 2022.

Dias e horários: 5ª a sáb., às 19h30, e dom., às 18h.

Local: CCBB – Teatro III (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro).

Informações: 3808-2020.

Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Onde comprar: na bilheteria do CCBB ou no site Eventim: https://ingressos.ccbb.com.br/teatro-clarice-e-nelson-um-recorte-biografico-a-partir-de-entrevistas__449

Capacidade: 72 pessoas

Duração: 55 minutos

Classificação indicativa: 14 anos

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Crítica

‘Isto é Amor!’, saiba mais sobre o livro de Sonia Rosa, por Paty Lopes

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capa do Livro Isto é Amor de Sonia Rosa. Mostra uma mãe com seu filho, ambos são negros claros. O fundo é rosa.

Nia Produções Literárias nasceu em 2015. Veio de um desejo muito particular de levar literatura infantil com protagonismo negro a lugares não convencionais e assim alcançar um público que precisava, mas não conseguia ter acesso de forma “convencional” a essa literatura. Nia significa propósito, e com esse proposta que ela se sustenta por todo esse tempo (que parece ser pouco, mas só quem vive de empreender sabe o que cada dia a mais significa). Tatiana Oliveira, é a responsável pela curadoria dos livros editados pela Nia.

Vamos falar do livro “Isto é Amor!”. Obra da querida e renomada autora Sonia Rosa.

O livro apresenta ilustrações de Sandra Ronca, que não pecou. Podemos dizer que Sandra usou de toda sua aquarela em tons pastéis para ilustrações delicadas e que fazem bem aos olhos, posso dizer que uma das mais belas vista por mim.

Suavidade é o termo certo, mas que deixam as crianças conectadas.

Posso afirmar isso, pois li a história para crianças autistas no Museu de Arte Moderna, as crianças se encantaram com os corações e as demais figuras.

É possível entreter as crianças com as ilustrações do livro, em suas páginas, como já dito, notamos que as personagens trafegam em espaços diferentes, e também contém objetos que crianças em desenvolvimento da fala terão oportunidade de aprendizado, o que julgo importante, dependendo da fase que estão.

A gramatura do livro, das folhas, descartam a ideia de um livro simplório, se bem que nenhum livro é simplório, afinal são deles que adquirimos a maior riqueza da vida, o saber. Então posso dizer que temos um livro corpulento, que inclusive serve como um excelente presente de aniversário, de natal ou dia das crianças, afinal estamos em outubro e nada mais justo que incentivar a leitura dos pequenos. Mais que isso, aproximar-se, contar histórias, criar enlaces, que ficarão para a vida, na memória de cada criança.

O livro é mesmo um mimo, visita às estações do ano, permeia na escola, festa, praia, além de mencionar as frutas, tudo isso para falar sobre o amor.

Embora a autora tenha livros que abordem as relações étnicas-raciais, no livro Isto é Amor! Ela trouxe a ilustração de personagens negros somente, a história é aquela que todos conhecemos, ou quase todos, afinal falamos de um Brasil precário, em reconstrução, nem todas as crianças têm acesso à escola, alimentação sadia e infelizmente aos direitos que as cercam, os que estão no Estatuto da criança.

O livro faz entender o amor em amamentar, e tudo aquilo que nos leva a infância, como bolos, a presença da avó, banhos de mangueira, tudo simples e que cabe no bolso de qualquer pai e mãe. Isso é importante, não cria uma ilusão que para o amor é preciso tanto, o impossível para alguns pais. O que torna a leitura democrática. Curti bastante esse cuidado!

Esse livro foi criada para crianças negras? Já que as brancas não estão nas ilustrações? Claro que não! Eis aí um excelente momento de interatividade da criança e aquele que está lendo para elas, se for o caso.

Durante a contação de histórias, com crianças com síndrome de Down e autistas, em nenhum momento elas fizeram comentários, me fazendo perceber, que o racismo é coisa de adulto mesmo!

Caso as crianças questionassem, eu colaria fotos deles, da avó deles, ou abriria espaço para eles criarem os seus autorretratos, ao lado dos personagens, porque o que vale mesmo é que eles entendam que viverão em uma sociedade miscigenada, onde os direitos obrigatoriamente devem ser os mesmos para todos.

A saber, Sonia Rosa é carioca, mestre em Relações Étnicos-Raciais pelo Cefet/RJ, pedagoga, professora e contadora de histórias. Sua obra literária é repleta de personagens negros em protagonismo. Em 2020 comemora 25 anos de carreira, com mais de 50 títulos, sendo o primeiro “O Menino Nito”. Já recebeu alguns prêmios pela FNLIJ, inclusive o Altamente Recomendável. Alguns dos seus livros “visitaram” o Catálogo da Feira de Bolonha – maior evento de Literatura Infantil do mundo. Tem livros editados na França, países africanos de língua francesa, Itália, Galícia, México, Canadá e Estados Unidos. Dez bibliotecas levam o seu nome.

Para comprar: https://www.nialiteratura.com.br/product-page/isto-%C3%A9-amor

Por fim, leia mais:

Paty Lopes e o Livro Infantil: Meu Amigo Down

Paty Lopes e o Livro Infantil: O dia em que descobri o que é o Axé

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