Quatro amigos que se conheceram em Chicago, e um sonho de retratar uma cidade mítica e mística, Brasília. Assim começou o projeto de Uma Máquina para Habitar, um trabalho coletivo. A filmagem durou 8 anos e é um mergulho na história e no que há de mais mítico em Brasília, onde convivem o poder e o misticismo. A direção é de Yoni Goldstein e Meredith Zielke, enquanto Sebastian Alvarez assina a produção e o roteiro (em parceria com Goldstein). A saber, Andrew Benz dirigiu a fotografia, filmou a maior parte do filme, operou drones e foi um dos produtores executivos.
Em Uma Máquina para Habitar estão em cenas lugares conhecidos de turistas e cidadãos de Brasília, como o Congresso Nacional e o Vale do Amanhecer. Porém, por um prisma inusitado e inesperado e lugares como a cúpula do Senado. Inclusive lá, depois de muita negociação, por exemplo, a equipe pôde filmar e encontraram manuscritos nas lajes do prédio Congresso deixados por Candangos que trabalharam na construção da cidade.
Alvarez, produtor do longa, era o único deles que falava português, graças às suas várias viagens ao Brasil, e estudos na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. “Durante esses anos fiz amizades com estudantes brasileiros de todo o país, e conheci algumas das idiossincrasias de várias regiões desse grande território. Como parte desse processo, conheci um pouco mais profundamente as lutas que os brasileiros têm enfrentado ao se empenharem para fortalecer sua democracia”.
Anos de filmagem
O projeto começou em 2010, quando Goldstein leu pela primeira vez sobre Brasília e suas cidades satélites enquanto ele trabalhava com Zielke e Benz, na Cidade do México. Suas leituras na época tem influência de dois autores: James Holsten, escrevendo sobre a antropologia do modernismo no Brasil contemporâneo, e Ernani Pimentel, autor de “Brasília Secreta”, que implementou a Cabala, a numerologia e a geometria sagrada para traduzir o desenho urbano de Brasília em uma metalinguagem do que ele diz serem seres interdimensionais.
Ao longo dos 8 anos de filmagens, Uma Máquina para Habitar acompanhou três presidências diferente. Isso, segundo Alvarez, fez o quarteto “passar por muita tensão e ansiedade, mas também muita esperança, ilusão e idealismo. Tudo isso se infiltrou em nosso processo e observamos muita propaganda, fervor fanático, falcatruas e sensacionalismo, o que nos levou a pensar em reflexão e poesia, em vez de persuasão e prosa.”
Escolhas
A escolha por uma linguagem da ficção-científica serve para que os espectadores reflitam e se sintam desafiados. “Como pretendíamos exibir o filme nos cinemas, em uma grande tela, queríamos que o público se sentisse envolvidos pela monumentalidade da cidade, pela complexidade que o cerca, e queríamos que ele refletisse sobre estar preso no sonho de outra pessoa.”
Na realização de Uma Máquina para Habitar há duas abordagens de produção documental: um modo observacional e uma metodologia participativa. O primeiro é uma perspectiva concreta da cinematografia terrestre e aérea. Utilizando diversos equipamentos como, drones, helicópteros e balões de ar quente, a perspectiva da câmera pode girar mecanicamente. Além disso, pode flutuar entre a arquitetura como se fosse uma nave alienígena, ou o olho da mente do arquiteto. Juntamente com as ferramentas cinematográficas tradicionais, o filme utilizou a tecnologia LIDAR para criar scans 3D da cidade (incluindo prédios, pessoas, carros e objetos).
A saber, o filme terá exibição na 44ª Mostra Internacional de Cinema.
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