A Gallaudet é uma universidade em Washington, nos Estados Unidos, com programas desenvolvidos para pessoas surdas. Toda a equipe da faculdade deve saber língua de sinais e a maioria dos alunos é surda ou tem alguma perda auditiva. Quem estuda lá também deve saber a língua americana de sinais (ASL), já que a primeira língua da universidade é a ASL– inglês é a segunda. Foi lá que Nyle DiMarco, produtor executivo de Além do som, estudou e desde então queria fazer algo pra mostrar para o mundo a comunidade surda e sua cultura. Então nasceu o reality show Deaf U (em inglês), que estreou dia 9 de outubro na Netflix.
Focado em sete personagens principais, ele mostra o dia a dia dos estudantes da Gallaudet. Filmado um ano atrás, o reality acompanha o último semestre de Alexa, Cheyenna, Daequan, Dalton, Renate, Rodney e Tessa na universidade. A intenção não é focar nas dificuldades que a surdez traz para os jovens, e sim mostrar os dramas, as relações, os problemas, os hobbies, as festas, os questionamentos dessas sete pessoas. E é exatamente esse o ponto forte do reality.
Saindo do lugar-comum
Geralmente, quando se fala de deficiência, as produções tendem a focar nela e a tratar o deficiente ou como coitadinho ou como um herói. Além do som não faz nem uma coisa nem outra: ela humaniza as pessoas, mostrando suas pluralidades. Não é condescendente. Como Alexa Paulay-Simmons, uma das personagens, diz em seu Instagram, “a percepção sobre a pessoa surda é errada, como se precisássemos ser salvos. Não. Nós comemos, dormimos e cagamos do mesmo jeito que todo mundo.” E o reality deixa isso bem evidente.
Vindos de origens diferentes e com níveis de surdez variados, a série apresenta as famílias, os amigos, os namorados e as namoradas de cada um. Em oito episódios de 20 minutos em média, intercala momentos em que os personagens falam com a câmera, como em uma entrevista, com cenas de seus dias na universidade. Muitas festas, muitos encontros, muitos conflitos, e muitas fofocas – típico de qualquer jovem de 20 e poucos anos. Mas também há problemas e situações que só acontecem dentro da comunidade de surdos, como o fato de terem que reorganizar os sofás de um bar para que todos possam se ver e se comunicar melhor.
Pontos negativos
Porém, Além do som não tem somente qualidades. Por ser um reality, geralmente tem-se a ideia de que não há roteiro e que tudo acontece aleatoriamente, mas sabemos que não é bem assim. Todavia, grande parte da série parece ser muito mais roteiro do que “vida real”. Há muitas cenas que parecem encenadas, retirando toda a naturalidade que um reality show deve ter. Os personagens parecem estar seguindo um script, e não vivendo suas vidas normais. Algumas questões aparecem abruptamente também, o que acaba por dar a impressão de serem somente para gerar impacto no espectador.
Além disso, há um enfoque muito grande em somente alguns dos sete personagens, deixando outros mais interessantes de fora. O foco nos relacionamentos amorosos também exagera, mas talvez agrade o público mais jovem. Tenho certeza que o público dos 30+ gostaria que outros assuntos tivessem destaque. Os episódios mais interessantes com certeza são os dois últimos, mas infelizmente têm pouco tempo de tela. Uma pena.
Uma série inovadora
Apesar de seus pontos negativos, porém, Além do som é uma série inovadora. É a primeira vez que os personagens principais são todos surdos ou com alguma deficiência auditiva. É a primeira vez que são retratados de forma real, provavelmente por grande parte da equipe ser também composta de pessoas surdas. É a primeira vez que muitas pessoas ouvintes terão contato com essa realidade. Entender melhor suas dificuldades, percebendo a importância da acessibilidade na sociedade. Mas, também, perceber que pessoas surdas são iguais a todo mundo.
Ademais, veja mais:
The boys in the band | Filme da Netflix discute LGBTfobia
Amizade entre mulheres | Conheça 5 filmes que estimulam a sororidade