Valle Sagrado e Machu Picchu. Como fazer?
Ouvi falar que era bom fazer os dois numa tacada. Então, vamos de mochilão.
Entretanto, o objetivo mesmo era Machu Picchu, a cidade sagrada, mágica. Ademais, aproveitando o máximo do caminho para conhecer outras belezas e história Inca.
A partir de Cusco pegamos um passeio para o Valle Sagrado, onde conhecemos Pisaq e outras localidades. Várias empresas fazem, pesquise a mais barata. Saltamos em Ollantaytambo, onde ficamos durante uma noite.
Deu para conhecer um pouco da pequena cidade. Partimos 9h da manhã via van (tem várias que fazem esse trajeto) até a hidroelétrica de Santa Teresa. 2h de viagem por curvas altamente enjoativas.
Chegando lá são entre 2h30 e 3h de trilha pela linha do trem até Águas Calientes. A paisagem e o senso de aventura, além da economia de não pagar o caro trem (que não é peruano, mas sim privatizado por uma empresa chilena!), fazem valer a pena. Caminho plano e tranquilo, belas paisagens.
Chegando em Águas já veio um rapazinho oferecendo seus serviços de hospedagem. Gostamos do preço, mais barato do que os que havíamos visto pela internet e lá fomos com ele. Local simples. Não recordo, mas creio que saiu 15 ou 20 soles por um quarto privado, sendo que normalmente esse preço é para quarto compartilhado.
Custo-benefício e escadas
O custo-benefício foi ótimo. De noite comemos uma pizza e conheci um pessoal que fazia uma expedição São Paulo-Nova York de carro.
Acordamos 4h da manhã no dia seguinte e caía uma bela chuva. Na porta da hospedagem já veio a moça vendendo capa. Compramos duas e seguimos em direção a trilha até Machu Picchu. Essa foi perrengue. Aquele chuvaréu, aquela escadaria… A outra opção era pagar 20 dólares e subir de ônibus até a entrada… Escada acima então.
Ufa, chegamos. Entramos em Machu Picchu ainda cansados e seguimos em direção a Intipunku, a Puerta del Sol. É o local aonde chegam os que vem pela famosa trilha inca de 4 dias. É uma trilha com bonitas paisagens, que dura uns 40 minutos.
De Intipunku viemos voltando até a entrada da trilha da Montana Machupicchu, podíamos entrar até as 10h. Chegamos 9:50. Uma pequena fila e começamos essa linda e cansativa subida aonde pudemos ter diversas vistas da Ciudad Sagrada.
O alto da montanha Machu Picchu
No caminho ainda nos deparamos com uma mãe e um filhote de Urso-de-óculos (Oso de anteojos). Foi espetacular.
Ao chegarmos no topo da Montana havia algumas pessoas e o cuidador do local disse que já era hora de todos partirem. Mas eu tinha acabado de chegar! Enquanto muitos iam embora fomos enrolando e ficando por lá.
Na descida, enquanto um idoso atrasava o guia, nos adiantávamos, sentávamos e contemplávamos aquelas maravilhosas vistas.
Do alto da Montaña Machupicchu a cidade sagrada fica pequenina, e a cadeia de montanhas ainda mais grandiosa, com WaynaPicchu saltando como um puma guardião.
A saber, a subida é bem cansativa e na descida a sensação de vertigem por causa da altura é maior ainda. O esforço é válido? Sim, se você gosta de aventura. Não, se você quer conhecer melhor a cidade sagrada.
Após descermos da montanha saímos do parque para pegar algumas coisas na mochila, comer algo, recuperar as forças e voltar para explorar.
Já saindo encontrei uma brasileira que havia conhecido no dia anterior em Águas Calientes. Era a única mulher da excursão São Paulo – Nova Iorque de automóvel 4×4.
Fez Reiki em mim e na Bárbara. Energização em Machu Picchu é mais forte!
Seguimos embora. A brasileira Raquel foi de ônibus. Bárbara e eu estávamos mortos de cansaço e queríamos descer a trilha direto até a linha do trem e voltar para Cusco, onde estávamos maravilhosamente hospedados no Llama Guest House (propriedade de um brasileiro e uma peruana, casados, com uma linda filhinha).
O presente Inca
Conversávamos e íamos nos preparando para a árdua missão. Perguntei para um rapaz que lá estava que opções tínhamos para chegar ainda naquele dia em Cusco. Trabalhava na empresa de ônibus e nos falou sobre o trem, mas que era caro. Falei que o trem estava completamente fora de cogitação. Sugeriu que ficássemos uma noite mais em Águas Calientes, porém neguei, dizendo que teríamos de voltar naquele dia, era final de viagem e a grana estava curta. Olhou nos meus olhos e pediu que aguardasse.
Falei para Bárbara ficar tranquila e esperar. Esperamos alguns longos minutos. Começou a ficar ansiosa, afinal, não podíamos perder tempo. Lá veio o rapaz. Nos levou um pouco para o canto e sacou duas passagens para o ônibus. Ofereci pagar, porém ele não quis. Que emoção senti.
Pediu que esperássemos um pouco. Rapidamente fomos nos arrumando, com sorriso largos.
De pronto, gritou para um colega “Armando, cuantos faltam? “. “Dos!”, respondeu. Então falou “Dos, dos acá”, e nos chamou e direcionou para a fiscal. Entregamos e entramos no ônibus. Ele ainda disse para a motorista para nos deixar “en la puente”. E que lembrássemos disso. Sentamos em bancos separados.
Naquele momento senti uma felicidade e sensações muito gostosas. Foi inesquecível e marcante.
De repente, lá da frente Bárbara pergunta: “En la Puente?”. Digo “Sim, en la puente”. A motorista freia subitamente e saltamos.
Tchau, Valle Sagrado e Machu Picchu.
Assim, subimos a escada logo a frente e saímos na linha do trem. Iniciamos uma louca caminhada. Em pouco tempo, anoiteceria. Haveria algum carro para nos levar quando chegássemos? Lembrei de nossa viagem ao Uruguai.
Definitivamente só víamos pessoas chegando, vindo em direção Águas Calientes. Ninguém – absolutamente ninguém – mais além de nós ia para a hidroelétrica.
Afinal, fizemos a trilha em 1h50 a partir de onde iniciamos.
No fim da linha, tinha um carro. Tinha um carro no fim da linha. Ô, glória!
Um garoto com pouco tempo de habilitação tentando fazer um pouco de dinheiro. Conversamos sobre pagamento e chegamos a um consenso, enquanto ele ainda ficou aguardando para ver se chegava alguém mais. Claro que não chegou.
Deixou-nos em Santa Maria, onde pegamos um ônibus para Cusco.
Em suma, chegamos umas 4h da madrugada e conseguimos um táxi por 3 soles (normalmente já chegam jogando o preço para 10 soles quando percebem que você não é peruano).
Dormimos. Sonhei com Sucre, na Bolívia.
Valle Sagrado e Machu Picchu – Como fazer é uma tentativa de ajudar mochileiros com uma pequena história.