Lucas Weglinski e Joaquim Castro, os dois diretores de Máquina do Desejo – Os 60 Anos do Teatro Oficina nos apresentam a trajetória da mais antiga companhia de teatro independente do Brasil: O Teatro Oficina. A partir da sua fundação em 1958, o teatro brasileiro nunca foi mais o mesmo, tendo todo o seu cerne chacoalhado com este e outros movimentos transgressores.
Ao longo de quase duas horas nos deparamos com muitos relatos, praticamente todos anônimos. Vozes com tons e timbres diferentes são a única prova de que temos mais de um narrador, e mesmo assim as histórias fluem como um rio, nunca as mesmas, mas todas uma só. Várias visões e experiências análogas em volta do mesmo tema contam fragmentos de histórias que se unem formando a saga que é do Teatro Oficina.
Novo teatro
Além de mostrar os últimos 60 anos do teatro brasileiro vanguardista, Máquina do Desejo apresenta uma visão dos movimentos de resistência artística contra a ditadura. Eliminaram a liberdade de expressão, mas este grupo de artistas permaneceu focado numa performance revolucionária. Zé Celso, o diretor e líder do Oficina, foi claro na sua colocação, porém é curioso pensar que este teatro foi comparado à luta armada. A revolução na metodologia e linguagem teatral se limitava aos palcos e à mente daqueles que os frequentavam, talvez se alastrando pela “pequena burguesia”.
Ainda assim, é um fato consumado que uma revolução não se luta apenas com armas e balas, mas com mentes, principalmente mentes sadias e criativas. Não se pode negar que o Teatro Oficina foi uma parte central da resistência cultural em São Paulo. De 1964 até 1985 o grupo mostrou uma força de vontade fantástica, seja aqui, seja no exílio.
Dando continuidade, o espaço físico do teatro também é um espaço de guerra. Primeiro foi a desconstrução do teatro tradicional, as ideias se misturando, florescendo uma forma mais visceral de comunicar; depois veio o prédio em si, uma batalha legal com os vizinhos e a cidade de São Paulo. Assim o prédio se tornou o lar do desbunde, da mudança, da gênese de um pensamento não conformista. O projeto de Lina Bo Bardi apenas facilitou o florescimento desse novo formado do que pode ser teatro.
Finalmente, mesmo depois de repressão, incêndio, exílio e tombamento o Teatro Oficina é uma Máquina do Desejo; uma máquina que produz liberdade a cada montagem, com cada ator, com cada verso e estrofe.