Na cidade de Paterson, em Nova Jersey, vive o pacato motorista de ônibus que pouco fala embora tenha muito a dizer. O filme retrata o cotidiano de Paterson, vivido por Adam Driver, durante uma semana. Isso mesmo, a personagem e o local onde é desenvolvida a trama recebem o mesmo nome e, a princípio, esse fato pode intrigar o espectador. Sua capacidade de observação é uma característica forte, cada detalhe é capturado através do seu olhar e também pelos ouvidos atentos. Sejam as conversas dos passageiros, os pedestres passando pela via, as placas e os semáforos à frente ou as atitudes de seu cachorro em casa, tudo é notado de forma singela e bastante pessoal.
Para quem prefere filmes de ação, com muitas movimentações ou grandes reviravoltas… ele não é o mais recomendado, pois foge de todas essas definições. No entanto, seu tom melancólico traduz a leveza e simplicidade que dão o toque essencial para o desenvolvimento de uma reflexão ou o prazer de assistir à beleza daquilo que já é esperado. Paterson possui algo particular que é a escrita, o poeta amador jamais deixa de lado o caderno de anotações onde consegue ao mesmo tempo, internalizar e expor o que move os seus sentidos.
A sua esposa Laura (Golshifteh Farahani) também é artista e se expressa por meio de pinturas, decorações e até na criação de roupas. Ela não mostra ser tão segura no que faz e parece sempre buscar a própria essência e novas formas de se descobrir como artista. Apesar disso, a mulher é a maior apoiadora do marido. Em todas as oportunidades ela diz o quanto os escritos de Peterson são importantes e como ele é dedicado também a leitura. Inclusive, um dos autores preferidos do protagonista é William Carlos Williams, autor do poema “Paterson”, publicado em 1946. Enfim, o que Laura mais faz é incentivar o poeta a publicar o primeiro livro para que as pessoas se conectem ao trabalho que é restrito apenas ao escritor.
Paterson não usa smartphone, não é um grande sonhador e ainda assim não costuma reclamar da sua vida. Para ele, tudo está sempre bom ou, no mínimo, na normalidade de sempre. Isso é que o difere das pessoas que o rodeiam como a sua esposa, colegas de trabalho ou amigos que parecem sempre buscar por algo novo, um pertencimento ou aprovação. Esse é um filme para assistir sem grandes pretensões, longe da ansiedade e apenas permitir o tempo passar e a história se desenrolar. Em Paterson reparamos a beleza do cotidiano, aquilo que é natural como acordar diariamente e viver o novo dia com tranquilidade. Nele notamos que a inspiração também se faz presente quando nada acontece.