“Downton Abbey 2” é o final de um ciclo para a série que encantou o mundo. Se passando no final dos anos 1920, o filme mostra a mais nova aventura da família Crawley e dos seus criados. Entre revelações bombásticas, casamentos e muito drama burguês, “Downton Abbey 2” entrega duas horas de diversão leve sem muita substância ou profundidade.
História
Como um todo, o plot do longa é bem simples, a Lady Violet (Maggie Smith) ganha uma villa no sul da França de um antigo peguete e cabe ao seu filho (Hugh Bonneville), nora (Elizabeth McGovern) e um considerável séquito, irem até lá resolver todas as pendências legais. Enquanto isso, a Lady Mary (Michelle Dockery) e o resto dos serviçais ficam em Downton para cuidar das filmagens de um filme mudo que se passa no castelo.
De forma simples, a história é apenas um fio condutor quase irrelevante. O plot da gravação do filme some depois de um tempo e a parte na França é sobre pequenos problemas familiares. Essencialmente, “Downton Abbey 2” é um conjunto de cenas soltas que se unem em volta de pequenas atitudes passivo-agressivas, a falta de um conflito de classe e muito chá.
Felizmente, existe evolução em dois personagens. A já mencionada Lady Mary e o seu jovem mordomo Barrow (Robert James-Collier) consegue mudar um pouco entre a série, o filme anterior e essa nova e final aventura. Dentre as dezenas de personas retratadas no longa, essas duas são as únicas que passam por alguma forma de crescimento pessoal. No meio de um filme quase despropositado, eles oferecem um resquício de senso de fechamento. Vale também lembrar que Barrow é um personagem LGBTQI+ num drama histórico. Apesar de estar enfurnadinho no armário, esse mordomo tem uma vida particular além do trabalho, e é bom saber que ele consegue ser feliz com um bigodado bonitão.
A leveza do ser
Entre os dois núcleos de personagens, nobres e funcionários, existe uma servitude tão apaixonada que isso quase beira o cômico. Feliz e infelizmente, é isso que a audiência parece querer, já que em nenhum momento existe alguma vontade de inserir um conflito social mais relevante. Assim, “Downton Abbey 2” parece ser uma propaganda idílica sobre a elite britânica num momento em que o as monarquias e todo o seu aparado/pessoal decorativo se provam inúteis e custosos.
Pior do que isso, parece que Downton Abbey justifica uma divisão gritante e preocupante de classe, trabalho e dinheiro. Pessoas pobres servindo felizes a todos os desejos de uma elite que é tão útil quanto uma geladeira no Alasca. Em pelo menos dois momentos duas personagens falam sobre como tiveram uma boa e interessante vida, enquanto são paparicadas por trabalhadores cansados e mudos. Mesmo que a expansão do socialismo na Europa não seja o ponto de “Downton Abbey 2”, é de uma falta de tato atroz ignorar essa mudança no cenário político num filme que vende o lazer fantástico dos ricos.
Finalmente
Terminando, “Downton Abbey 2” é bonito, mas mal editado. A montagem final parece corrida e sem nexo, criando transições brutas e possibilitando diálogos vazios em vários momentos. Por outro lado, a fotografia, os cenários e os figurinos estão todos belíssimos. Cada roupa, ambiente e escolha de fotografia carregam uma autoridade que chega a surpreender num filme que tecnicamente é insuficiente.
Dessa forma, “Downton Abbey 2” é só prazer, sem julgamento de valor ou temas sérios. Como finalização para a série, o longa parece ser uma forma meio forçada de amarrar todos os fios soltos a fim de criar uma catarse. Pelo menos é bonitinho, e a Lady Violet continua hilária e mortalmente mordaz.
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