Um filme divertido, ácido e inteligente, que foge a banalidade, tornando uma realidade excepcional em algo próximo e palatável. A forma como os autores e diretores nacionais estão cada vez mais conseguindo reproduzir nossas particularidades locais e nacionais com qualidade técnica, de roteiro e atuação dá gosto de ver. Numa exibição gratuita pelo 2º Festival “Mulheres do Audiovisual”, a Inffinito acertou em cheio na estreia e me deixou animada para rever a película nas telonas dos cinemas.
O que vemos neste drama/comédia é um povo brasileiro safo, resiliente, obstinado, sonhador, que tem uma veia empreendedora, de liberdade e justiça, que supera traumas e limitações advindas de uma condição social imposta por sua origem, por uma predisposição de um destino parcial (algumas pessoas estão mais expostas a tragédias do “destino”) ou das consequências adversas dos caminhos escolhidos por nós e por aqueles que nos cercam e afetam diretamente.
Que horas ela volta?
Regina Casé revive um estilo de personagem que a consagrou, muito próximo daquele de “Que horas ela volta?”, atuação que me incapacitou numa sala de cinema lotada de Botafogo anos atrás, me impedindo por ao menos cinco minutos de conseguir me levantar do assento, pois não via o chão além das lagrimas grossas nos olhos. Seu brilhantismo na atuação me emociona e diverte sempre, é uma aposta de carta marcada ir ao cinema apreciar seu trabalho. Mesmo que empreste seu talento a um personagem sem falas, acredito fielmente que chegaria ao mesmo resultado de embasbacamento, trata-se aqui de presença.
Vale aqui fazer uma menção gentil e atenciosa ao trabalho de Rogério e Giselle Fróes. Pai e filha dão um espetáculo à parte, mostrando através de seus papeis que mesmo estando em círculos sociais e grau de educação similares, cabe apenas a nós a escolha do ser; pois podemos nos corromper à soberba, à arrogância e à mesquinhez ou conseguir manter nossa essência, generosidade, solidariedade e vontade de fazer o bem. O filme todo trata sobre essências, da capacidade de análise do meio que se habita e o quão aptos estamos a nos posicionarmos e criticarmos aquilo que é danoso, cruel e contrário aos nossos valores.
Um filme que vale a pena ser visto. Preparem-se para rir, aprender e se emocionar.