Ó Paí, Ó 2 estreia nessa quinta-feira (23) com ares de nostalgia. Produto do Bando de Teatro Olodum, que existe há 34 anos, o projeto já teve peça, série e um primeiro longa, de 2007. O segundo filme acompanha os mesmos personagens, com acréscimo de uma nova geração muito necessária. Não só ela, já que desde o começo Ó paí, ó trata de assuntos importantes e até à frente de seu tempo, que só começaram a ser discutidos amplamente na sociedade anos depois de seu primeiro lançamento, mas a partir dela, da nova geração, assuntos atuais foram levantados.
Só para ilustrar, fique com o trailer do filme:
Música contando história
Ó Paí, Ó 2 traz bastante música em seus 90 minutos. Com Roque ainda em busca de uma carreira musical, o longa explora bastante as músicas do repertório do cantor interpretado por Lázaro Ramos. Contudo, dessa vez, traz um clima de filme musical mesmo, com as letras servindo de enredo e conversando com o espectador. Contando de fato a história. Não são somente trilha sonora, como no primeiro filme. Roque, inclusive, olha diretamente para o espectador quando canta.
Esse recurso é utilizado também para dar ênfase ao que está sendo cantado, já que, com exceção de uma música, as letras tem um tom político muito forte. E diante de tudo o que passamos nos país nos últimos anos, e sabendo que hoje ainda temos um grupo grande de pessoas que falam – e defendem – abertamente inúmeros preconceitos, foi uma escolha muito acertada da diretora Viviane Ferreira. Aliás, Viviane é somente a segunda mulher negra a dirigir um longa de ficção no país, uma realidade que precisa modificar urgentemente.
Apesar de ser um filme que usa o recurso musical muito bem, Ó Paí, Ó 2 apresenta algumas falhas no áudio. Em algumas cenas, é perceptível que houve dublagem. A dublagem de cenas é um recurso comum em filmes, e ocorre principalmente quando há falhas no áudio original ou quando há dificuldade na captação de som (principalmente em cenas externas). O que não pode acontecer é o espectador notar isso. E por conta de uma falta de sincronia entre som e imagem, é possível perceber. É uma falha, mas nada que atrapalhe o aproveitamento do filme.
Costura de vidas
Além da história de Roque, que agora tem um filho que o acompanha, os outros personagens também têm seus enredos contados. Joana, uma das personagens mais interessantes, muito por conta da atuação de Luciana Souza, que dá um show, sofre pela morte de seus filhos. Porém, agora visita um terapeuta, interpretado por Luis Miranda, para lidar com a situação. Maria e Reginaldo, agora separados, trabalham para sustentar seus filhos, que ganham força na trama. Neusão está prestes a perder seu bar e Yolanda se mostra uma mãe superprotetora da filha que está à frente de movimentos artísticos.
O filme traz diversas questões e mostra variados modos de se viver a vida, exemplificados por seus personagens tão variados. É verdade que as questões não são aprofundadas, assim como as vidas dos personagens. Há uma quantidade grande de enredos acontecendo, como acontece em um cortiço. Forma e conteúdo se misturam aqui, e a falta de aprofundamento não faz o filme perder sua força. A intenção aqui é relembrar personagens queridos do público.
Como o próprio Lázaro mencionou na pré-estreia do longa no Rio de Janeiro, esse filme existe por causa do público, porque o público quis. Portanto se trata de uma carta de amor ao público, à Bahia, à arte, e ao Brasil, mostrando a capacidade do povo brasileiro, mesmo diante de tantas adversidades. O foco não é o aprofundamento, e sim mostrar a quem assiste o quanto somos múltiplos, capazes e como podemos resolver tudo com amor (sem esquecer que é preciso, também, lutar por direitos). É um filme bonito, engraçado e, acima de tudo, potente e otimista.
Ficha técnica
Ó PAÍ, Ó 2
Brasil | 2023 | 90min. | Comédia
Direção: Viviane Ferreira
Roteiro: Viviane Ferreira, Elísio Lopes Jr, Daniel Arcades, Igor Verde
Produção: Dueto Produções e Casé Filmes
Coprodução: Globo Filmes
Distribuição: H2O Films
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