Camarada Matagal vem com um álbum repleto de mundos e que perpassa “Entre os Vivos e os Mortos”. A abertura com “Antes da Tempestade” apresenta um instrumental cheio de mistérios e suspense, abrindo o portal para as músicas que vem a seguir. A cara de psicodelia e anos 70 é bem clara, assim como a base a partir de ritmos brasileiros como o forró, e oriundos da África, como o jongo. “Jequitiba de Boca do Mato” é uma árvore – ou não? Um ser encouraçado que é mais do que parece, como todas as canções do disco. São várias camadas em diferentes níveis de percepção.
Do meio do mato, de Cachoeiras de Macacu, sob as forças das águas, a energia da sequência musical é pungente. As músicas da banda formada por Manuela Vaz, Leonardo Ramos, Federico José Klurfan e Lula Mattos, dá vontade de dançar em cima do gramado e nadar num no rio infinito. Certo misticismo está presente em toda a teia que o disco tece. “Casa de Arara” é para fechar os olhos e fazer ninho numa rede para, em seguida, achar “Rastro do Nexo” em caminhos tortuosos no meio do labirinto caótico do urbano. Como achar paz? A pequena morte, o orgasmo, “deveria nos aproximar de Deus”, como diz a letra?
Ventos de Oya
Em “Catedrais”, há um aroma de xamanismo na reflexão de uma não-existência. Afinal, “sob areia movediça, não se constroem catedrais” e essa música parece chamar os ancestrais indígenas para caminharem ao lado enquanto um “Jongueiro Alien” trava uma batalha contra o preconceito.
Inclusive, a galera do Camarada Matagal é da pegada roots até no ponto de construírem seus próprios instrumentos artesanais de sopro, percussão, violinos, violões, contra baixos, címbalo, cajon, e outros efeitos sonoros originais. São todos elaborados por eles com materiais reciclados como sementes, bambu e outros elementos naturais como madeiras reutilizadas. O disco foi produzido integralmente em homestudio. “Esse lançamento nasceu da parceria que temos com o Serrafolk, um festival massa de Cachoeiras de Macacu criado pelo Filipe Gonçalves. O som me lembra um pouco o grupo Perfume Azul do Sol“, disse ainda Rodrigo Garcia, do selo Porangareté, diretor artístico do álbum
O álbum traz ainda reflexões como em “Sobrevivi” passando por uma ancestralidade que não quer ser esquecida. No geral, Camarada Matagal canta a liberdade pelos ventos de Oya, se você se abrir e permitir se levar pelas trilhas da floresta. Por fim, o banho de cachoeira é certo e pode ser revigorante – ou transcendental.