A alegria é a prova dos nove é um filme para ultrapassar os tabus. É provocativo, e não apenas no conteúdo, como também em sua forma. Não espere um filme tradicional, com uma historinha linear com princípio, meio e fim. É um longa feito de recortes da vida dos personagens, o que dificulta até a narração de uma sinopse. É como se fossem diversas conversas diferentes. Porém, sobre o mesmo assunto: sexo.
Não é um filme apelativo, desenhado para vender a sensualidade como um produto. A obra trata o sexo como algo natural. Portanto, todas as cenas onde há o corpo nu não chocam, e sim naturalizam a nudez e o ato sexual. Não há, contudo, sexo explícito, não se assustem. Mas existe, sim, uma discussão saudável sobre o tema ao longo de seus 101 minutos.

Gatilho
É importante, todavia, frisar que nem tudo é bonito. Há uma cena de assédio sexual que pode causar gatilhos em algumas pessoas. portanto, é importante deixar isso avisado para quem for assistir. Porém, até mesmo essa cena encontra um lugar lógico na trama e tem motivo para acontecer. É plausível e determinante para se iniciar uma discussão sobre a sexualidade feminina e tudo a que a mulher é obrigada em uma sociedade patriarcal.
Etarismo: não há
Um aspecto muito importante – e crucial – do filme é o fato de a protagonista ter mais de 80 anos. Helena Ignez, que estrela e dirige o longa, completa 86 ano em 2024 e interpreta uma mulher livre, plena e consciente de seus desejos. Em uma sociedade que afirma que as pessoas perdem valor após os 40 anos, principalmente as mulheres, é essencial ter na tela mulheres diversas, de várias idades, afirmando quem são e mostrando que são desejantes e desejadas.
Além disso, Ney Matogrosso também está no elenco. Esse é um fato significativo, dado que o cantor fez tanto para a liberdade sexual brasileira ao longo de sua carreira. E continua fazendo.
Por fim, foi muito acertada a escolha de haver um personagem assexual na trama. Prolonga a discussão para além do sexo e discute a relação entre sexo e amor. Uma discussão muito pertinente, além de muito atual.

Sensações
Contudo, apesar da produção tratar o sexo como algo para além do espectro do tabu, é nítido que A alegria é a prova dos nove não irá agradar a todos. Por sua estrutura não tradicional, por não seguir um enredo clássico e, claro, também por não ter medo ou vergonha de falar sobre sexo sem pudor nenhum. É preciso ir ao cinema sabendo o que se espera. E o que o espectador pode esperar, para resumir, é um filme de sensações. Positivas e negativas.
A alegria é a prova dos nove estreia nos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira, 23 de maio.
Sinopse oficial
A alegria é a prova dos nove é um filme memorial, de amor, sobre a viagem realizada a Marrocos nos anos 70 por Jarda Ícone (Helena Ignez), artista, sexóloga e roqueira octogenária, como se define, e Lírio Terron (Ney Matogrosso), defensor dos direitos humanos. Na verdade, uma viagem que não acabou em suas vidas.
Jarda Ícone dá aulas presenciais e online sobre como as mulheres podem obter o seu próprio orgasmo. Com seu grupo de discípulas e amigas Ana Brasil, Sheyla Fernanda, Caroline Sylvie e Lakshmi, desenvolve projetos feministas e artísticos autossustentáveis.
A alegria é a prova dos nove é iconoclasta e político, mas nada politiqueiro no sentido tradicional. É uma ode aos movimentos underground e da contracultura, e um hino à liberdade. Além disso, seu título é uma homenagem a Oswald de Andrade, um dos principais nomes do modernismo brasileiro.
Por fim, fique com o trailer:
Ficha Técnica
A ALEGRIA É A PROVA DOS NOVE
Brasil | 2023 | 101min | Drama, Vanguarda
Direção e Roteiro: Helena Ignez
Produção Executiva: Helena Ignez e Michele Matalon
Elenco: Helena Ignez, Ney Matogrosso, Amjad Milhem, André Guerreiro Lopes, Arthur Alves dos Santos, Barbara Vida, Dan Nakagawa, Danielly O. M. M, Djin Sganzerla, Fernanda D’Umbra, Fransérgio Araújo, Guilherme Gagliardi, Guilherme Leme, Jesus Cubano, Judite Santos, Julia Katharine, Lea Arafah, Mário Bortolotto, Michele Matalon, Negro Leo, Nill Marcondes, Rafael Rudolf, Samuel Kavalerski, Thaís de Almeida Prado, Vera Valdez
Produção: Mercúrio Produções
Apoio: DGT Filmes, Filmes de Infiltração, Nomade Label, Near Foundation, Cavi Borges (no Rio de Janeiro)
Distribuição: Mercúrio Produções
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