O filme é uma animação emocionante que narra a história de um jornalista americano que pesquisa a MPB. Entre entrevistas e viagens, ele se interessa pela história de Tenório Jr., pianista que estava na banda de Vinícius de Moraes e Toquinho na Argentina quando desapareceu.
O longa tem diversas participações de artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil e Milton Nascimento em um divertido formato que traz o universo documental em entrevistas e vozes reais dos artistas compondo a narrativa do protagonista que pesquisa a música brasileira. Mas também parece trazer uma perspectiva pessoal como em uma autoficção dos momentos do diretor Fernando Trueba em sua história como amante da Cultura Brasileira. E essa é uma parte enriquecedora do texto.
Contexto histórico
A história de Tenório Jr., provoca discussões para além da beleza da música popular brasileira. Em um contexto de ditadura no Brasil e na Argentina, a narrativa indica que o músico foi sequestrado, torturado e morto em Buenos Aires após sair do hotel de madrugada. Com alguns detalhes sem desfecho, um depoimento de uma figura que afirma ter presenciado seu assassinato afirma que Tenório representava uma possível ameaça ao atual poder argentino por seu histórico enquanto artista.
Esse panorama é muito interessante de ser abordado visto que Bossa Nova e MPB normalmente aparecem na mídia internacional de forma romântica e poética. O que são, sem dúvidas, características marcantes dos gêneros, mas a história da arte brasileira também tem um lado marcado por exílio e censura, assim como a onda anti-democrática do mesmo período na América Latina. Portanto, é uma boa surpresa entrarmos na narrativa de um grande pianista brasileiro com um viés investigativo que não ignora a complexidade da rotina dos artistas na época da ditadura militar.
DIREÇÃO, ROTEIRO E ANIMAÇÃO
Os premiados diretores do longa Fernando Trueba e Javier Mariscal fazem um trabalho belíssimo, contemporâneo e leve apesar do drama envolvido e da carga histórica. A animação é um excelente recurso para manter a ludicidade da trama, com alguns personagens inteiramente inventados, como um amigo do protagonista dublado por Tony Ramos e cenários do Brasil com aquele gostinho de “casa” através das belíssimas cores e do marcante contorno do traço.
O longa parece perfeito para ser exibido no primeiro dia de Festival do Rio por brincar entre o nacional e o estrangeiro; o histórico e o atual; e o tenso, mas poético. Portanto, vale muito curtir um cineminha hoje, 23:50h no Cine Odeon e aproveitar esta homenagem ao Rio e à Música Popular Brasileira.