Away e o espaço, a fronteira final. Eu adoro essa introdução de Jornada nas Estrelas (Star Trek): espaço, a fronteira final. É tão marcante. Assim como a série Away, nova aposta da Netflix. A ótima atriz Hilary Swank vive Emma Green, uma mulher com uma missão muito sonhada e extremamente difícil, por diversos motivos. Ela é uma astronauta liderando uma viagem para Marte, o planeta vermelho. Serão três anos longe da filha e do marido.
Os sacrifícios que fazemos em prol de um objetivo maior. Equilíbrio entre a família e o profissional. Essas são algumas das coisas que nos deparamos, enquanto, a cada episódio, conhecemos um pouco mais da tripulação, o que deixaram para trás e suas motivações. Amores e decepções percorreram as vidas de cada um. Certamente, são humanos, apesar de serem tratados como heróis. Um dos grandes atrativos dessa série é exatamente esse. Como de outros filmes que abordam missões no espaço, como Armageddon (1998), cujo foco maior é o drama. E é o caminho dessa série, logo adianto.
Aliás, há outros filmes que podem surgir na mente, como Gravidade (Gravity) e Interestelar (Idem). Porém, esses últimos tem focos completamente distintos do que Away apresenta. A série faz questão de trazer diversidade e representatividade e ir além da questão espacial, focando nos seres humanos com suas nuances.
Universo de cada um
O espaço sideral é fascinante, e o jeito como somos tão ínfimos e insignificantes perante todo o universo. Porém, cada um de nós tem seu próprio universo, rodeado por faixas, relacionamentos amorosos, família, trabalho, estudo, espiritualidade. Lutamos para manter o equilíbrio entre tudo isso. É uma luta constante, pois não é fácil lidar com todo esse universo.
Os desafios extraordinários que a vida nos impõe… Não são como ir para Marte após um parada na Lua, mas algumas coisas que nos acontecem podem parecer um pouco com isso. Passei por situação que tento comparar em certo momento da vida. Indo estudar em outro país temporariamente, e preocupado com familiares no Brasil. É possível fazer um paralelo com a viagem do imigrante quando segue para ser um estrangeiro. Logicamente, na série a questão é muito mais grandiosa. Emmy é uma mulher comandando uma missão para Marte.
É interessante um diálogo de Emma com sua amiga Mel onde elas falam de algo que ensinaram no treinamento de astronauta: que não é sobre conquistar espaço, mas sim, sobre resiliência. É exatamente o que aqueles astronautas indo para Marte precisam: resiliência. Aguentar a saudade de seus entes queridos, superar as dores vividas, e manter o foco na longa viagem de três anos.
Diversidade e representatividade
Como já disse, a série busca ressaltar a questão da diversidade, uma união global dentro da mesma nave. Temos uma estadunidense, um russo, um indiano, uma chinesa e um ganense. Além disso, Away conta com uma atriz com Síndrome de Down, amiga de Lex, e atores com deficiências físicas, sendo esse um dos assuntos abordados. Há diferenças culturais que tornam algumas interações curiosas, porém, a série segue mais num rumo novelesco com as situações que vão acontecendo. Ou seja, a vida pessoal dos astronautas é o que se sobressai e viaja na nave junto com eles.
O terceiro episódio, “Metade do Céu”, é um dos mais tocantes, e um diálogo sorrateiro emociona. Engraçado porque antes de ver esse episódio eu tive que assistir um filme francês chamado Espírito de Família para escrever uma crítica para o site Cinema Para Sempre. Era uma comédia mas que tentava tirar alguma emoção do espectador além do riso. Contudo, nesse cena em que Mei conversa com uma pessoa na Terra, me emocionei mais do que em todo o filme que havia acabado de ver. A atriz Vivian Wu, que faz Mei, convence como uma mulher que carrega o peso da tradição e precisa conter seus sentimentos que levam em outra direção. Nadia Hatta como Mei Chen apresenta beleza e emoção contra a injustiça que ocorre. O único problema é forçar um paralelismo com Emma e seu marido, não flui.
Ato Essandoh
Outro grande destaque é o ator Ato Essandoh, o qual ganha mais destaque no bom episódio 6, “Questão de Fé”, onde acompanhamos uma metáfora com a água e as plantas, o que remete ao passado do personagem e sua crença em Deus. Inclusive, conheci esse ator através de uma ótima série de ficção científica chamada Tales From The Loop, e ele confirma que é ótimo ao entregar vitalidade e verdade para o olhar de Dr. Kwesi Weisberg-Abban e suas orações.
Afinal, nos últimos episódios a tensão aumenta. Porém, no geral, muita vezes os diálogos em Away são piegas e o drama excessivamente novelesco, mas há bons momentos e pode prender o espectador que se conectar com os personagens, ainda mais pensando na situação de isolamento deles – e nos dias de hoje.