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Cabelo de Preto é coroa de rei.
Literatura e HQCultura

Cabelo de Preto | Crônica

Por
Alvaro Tallarico
Última Atualização 18 de março de 2023
4 Min Leitura
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Alexandre Kdoum em foto de Alvaro Tallarico
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Cabelo de Preto foi uma crônica publicada primeiramente no Diário do Rio de Janeiro

Não sei se sou preto ou branco. O que é ser moreno? Mulato é uma palavra que cai a cada dia mais em desuso porque teria origem em mula. Mulato claro já me chamaram, preto claro, branco.

Dependia também da quantidade de sol. Uma vez, estava de chapéu, e uma mulher, em dúvida sobre minha cor, falou: “tem que ver o cabelo dele”.

A princípio, na época da minha infância, morava em Madureira. Na pré-adolescência, em dado momento fui viver na Tijuca. Final dos anos 90. No bairro de Madureira eu era só mais um, porém, na Tijuca, meu cabelo crespo e enrolado era alvo de bullying. Chamavam de bombril. Ou diziam continuamente “cabelo ruim, raspa”. Tinha personalidade forte então mantinha o cabelo enrolado apesar da encheção de saco diária. Aguentei alguns anos. Um dia ainda, em frente ao espelho, aqueles fios não queriam descer, teimavam em enrolar; chorei. Certa manhã nublada, cansado, desisti; e raspei o cabelo. Alguns chegaram a dizer “finalmente” quando cheguei na sala de aula aquele dia. Era como se comemorassem uma vitória. A vitória da opressão.

Somente muito tempo depois, no segundo ano do ensino médio que decidi deixar crescer novamente.

Era um outro contexto. O colégio em que estudava, a Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch, no bairro de São Cristóvão, parecia atrair muitos que buscavam fazer a diferença e possuía alunos de todo o Estado do Rio de Janeiro, das mais distintas classes e estilos. Tinha cursos gratuitos de comunicação e audiovisual. Finalmente, sim, finalmente, pude deixar meu cabelo crespo crescer, assim como muitos outros fizeram na mesma época. Depois, fiz tranças rastafari. Que orgulho. Era como abraçar uma ancestralidade e buscar a própria identidade, que passava pelas minhas características genéticas rechaçadas como inferiores.

Meu pai sempre me contava a vez que visitou a avó dele no hospital.

Uma ex-escrava que tinha conseguido uma carta de alforria. Ouvir aquilo me marcou para o resto da vida. Logo ali, tão próximo, a escravidão.

Nos momentos de aperto, meu pai dizia: “Valha-me, meu São Benedito”. Nunca ficou na mão.

Tem algumas mentiras que são espalhadas por aí. Que a colonização portuguesa foi menos cruel do que outras, que a miscigenação brasileira mostra como todos se misturavam. Não existe nada disso. O que existe é um racismo desgraçado enraizado nas bases do país. Minha experiência em Portugal só me traz mais certeza disso. O preconceito com os imigrantes africanos e brasileiros é óbvio. Existe uma desconfiança constante se você não for completamente branco-europeu. Só de entrar em um mercado, o segurança já fica mais atento e segue meus passos.

Não sei se sou preto ou branco. Sei que sou humano, sei que sou brasileiro, sei que sou antirracista. Qualquer forma de racismo é inaceitável. Seja onde for meu punho estará levantado. Cabelo de preto. Máximo respeito.

Por fim, confira a declamação do poema Cabelo de Preto:

Ademais, leia mais:

Volta na Ilha Grande em Imagens
Mais uma opção vegana na Tijuca
Ana Catão | “Nossa missão é trazer essa história que foi varrida para debaixo do tapete”
Tags:Afro-brasileiraalvaro tallaricocabelo bomcabelo de pretocabelo ruimCrônicacrônica cariocacronicaspoemapoesiapreconceitoracismorap
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Jornalista especializado em Jornalismo Cultural pela UERJ.
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