“Cabul, Cidade no Vento” apresenta duas histórias da capital afegã. Depois de uma curta introdução de crianças brincando de bater com pedras no metal, mais sobre isso mais tarde, o filme abre com Abbas, pai de família e motorista de ônibus cantando com um amigo no seu veículo e fonte de renda. O documentário retorna para as crianças e apresenta quais vão ser retratadas: um grupo de 3 irmãos chamados Afshin, Benjamin e Husein, todos pequenos e filhos de um ex-policial.
Nos primeiros momentos de “Cabul, Cidade no Vento” já se compreende um possível objetivo do filme: comparação por contraste, tanto entre audiência e documentados quanto entre crianças e adultos. Em um lado da história se vê uma parcela da vida adulta em Cabul, da outra se vê o dia a dia de crianças comuns dessa cidade. Em uma se experiencia o presente e na outra se especula o futuro. De ambos os lados se pode observar o desespero quanto ao presente e o medo do futuro.
Os momentos mais dolorosos são as conversas entre documentados e a câmera, em que apenas os seus rostos são visíveis, como numa foto do Platon. O mundo é isolado e apenas as emoções, pensamentos mais íntimos e sonhos ficam em foco. Coisas terríveis e belas são declaradas, e a mágica do cinema se encarrega de te atropelar de dor, medo, empatia e carinho por pessoas que podem muito bem nem estar mais vivas.
Dor
Ainda no tema da dor, uma das coisas mais difíceis de compreender e contextualizar numa mente ocidental é a quase absoluta pobreza nessas ruas. O mais chocante são as crianças andando de um lado pro outro, sozinhas, independentes, tendo apenas pedras e lixo para brincar. Mas elas prevalecem, o que é loucura, mas essas crianças não têm opção, é deitar e morrer ou seguir; essa resiliência está normalmente associada a heróis de guerra, ou políticos em crise, mas ver essa qualidade associada à crianças de menos de 12 anos é impactante.
Ainda assim, a vida é vivida. O diretor Aboozar Amini mostra essa existência sem fetichismos pelo sofrimento nem sentimentalismos exagerados, apenas a sequência de pequenos momentos que compõem a vida diária. Nem todos podem viver os pequenos problemas da classe média, mas Ver esses problemas existenciais básicos, que nem passam na nossa cabeça, expostos clinicamente numa tela é uma vacina contra a apatia.
Deserto
Cabul está num deserto árido entre montanhas secas e geladas; o resto do resto do que um dia foi uma colônia. Ondas sucessivas de ataques britânicos, estadunidenses, da ISIS e Taliban transformaram esse país numa montanha de poeira. É apenas natural que os seus cidadãos sejam um produto desse ambiente agressivo. É quase poética a forma como as pessoas só seguem vivendo, cobertas de pó, oprimidas pelos medos mais primais, mas ainda assim procurando alguma alegria, algum escape.
Mais do que uma manifestação de uma realidade longínqua, “Cabul, Cidade no Vento” é um lembrete. Pessoas vivem do outro lado do planeta num nível de desespero total. E aqui na rua do lado outras pessoas estão em uma situação igual. Não importa a origem, a dor é universal. Esse murro de realidade no meio dos cornos ajuda a manter viva a empatia, e por isso, esse filme de Amini é inestimável.
Enfim, “Cabul, Cidade no Vento”, documentário de Aboozar Amini estreia exclusivamente na Supo Mungam Plus.
Serviço:
Onde assistir: www.supomungamplus.com.br
Quanto: 7 dias grátis para o assinante. Através de uma assinatura mensal, por R$23,90, ou anual, por R$199,90, realizada no próprio site da plataforma (www.supomungamplus.com.br). Além da opção de cartão de crédito, já está disponível Boleto ou Pix para o Plano Anual.