Um homem seminu num ambiente com luzes multicoloridas, neon e tendo como trilha sonora hits da música eletrônica. A primeira cena de “CAM” não deixa dúvidas sobre o personagem que integra a trama e a diversidade de questões que abarcam seu universo. Embebidos pela tecnologia e bem amparados por uma inquieta construção artística, a Cia. Artera de Teatro estreia dia 27 de outubro às 21h a curtíssima temporada de mais uma montagem original totalmente idealizada para o formato digital, cuja dramaturgia e direção são de Ricardo Corrêa.
A princípio, a peça gira em torno de Brad, um camboy (interpretado por Davi Reis) que, numa dessas salas de chat, realiza um encontro privativo com alguns indivíduos – o último show antes de sua entrada num reality pautado por relacionamentos e volúpia.
Em seguida, a performance interativa reflete a superexposição online, a pós-pornografia, o desejo por pixels e por Pix. Além disso, questiona o vazio das relações pautadas nos padrões de beleza e o sexo como motor de uma busca desenfreada por tudo aquilo que sirva para aplacar a solidão. Através de números e jogos, o homem exposto em seu “pay per view” de nudes reflete sobre o corpo e aquilo que ainda chamamos de alma.
Virtual
“Sujeitos ou objetos de desejo? O sexo virtual tem pouco conhecimento sobre o outro. Para muitos, esse conhecimento do outro nem sempre é desejado. Buscamos aqui questionar sobre sexualidade e padrões de comportamento. Lançando luz sobre um homem sobrevivendo e ‘consumido’ pelo corpo. A ‘pós-pornografia’ para nós, serve como um misto de protesto, em que a arte e pornografia, se fundem, para se opor à pornografia convencional. É uma forma de pensar a nossa relação com sexualidade e mídia, um jeito de fazer pornografia com novos significados que se expandam em formas de desejo de corpos ‘fetichizados’ pela pornografia usual”, reflete Ricardo.
Insta
A saber, a apresentação acontece ao vivo, numa live realizada através de uma conta de Instagram secreta e fechada que aceita como seguidores o público de cada sessão. Elaborada no começo da pandemia, a montagem que marca os 18 anos da companhia é atravessada por situações clássicas pelas quais muitos integrantes do vasto cosmo LGBTQIA+ costumam passar, mas também por questões contemporâneas que não ficam restritas à comunidade.
Enfim, adentrando a realidade da população gay, especificamente, a pesquisa da companhia aturdiu seus integrantes.
“É sempre surpreendente cada recorte que escolhemos. Neste trabalho, sinto que foi a busca pelo sexo, a confusão entre ficção e realidade. A peça fala diretamente com o gay de hoje sobre a relação corpo versus internet, a doentia busca por seguidores, o uso exacerbado de aplicativos de relacionamento, problemas de aceitação, padrões de beleza, solidão, a ‘guetificação’ e o preconceito da própria comunidade, sobretudo aos corpos que não se encaixam dentro desses padrões do masculino e da virilidade”, antecipa Davi.
SERVIÇO:
Temporada: 27, 28, 29 e 31 de outubro e 04, 05, 06 e 07 de novembro
Horário: 21h
Duração: 45 minutos
Classificação Etária: 18 anos
Capacidade: 20 pessoas por apresentação
Ingresso: R$ 50 (inteira)
Reserva e Compra de Ingressos: @ciaarteradeteatro (Instagram) ou [email protected]