Clarice Lispector e Nelson Rodrigues têm um encontro no Jardim Botânico em meados de 1949, quando ainda eram dois jovens nomes da literatura brasileira. Esse encontro nunca existiu, mas, a princípio, aí começa o espetáculo “Clarice e Nelson – Um recorte biográfico a partir de entrevistas”, que estreia, dia 11 de novembro, no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil. Com texto de Rafael Primot e Franz Keppler e direção de Helena Varvaki e Manoel Prazeres, a montagem conta com os atores Carol Cezar e Marcos França.
“Eu e o autor Rafael Primot queríamos fazer um projeto juntos como atores, o que acabou não acontecendo. Mas um dia, eu disse a ele que a Clarice já tinha entrevistado o Nelson para a revista “Manchete”, em 1968. Começamos, então, a imaginar como teria sido a conversa antes e depois dessa entrevista. E se eles tivessem se conhecido em outro momento? Veio dessas nossas suposições a ideia de montar o espetáculo, que começa justamente com a conversa entre dois atores querendo montar uma peça”, conta a atriz Carol Cezar.
Entrevistas reais
Nada do que é dito nesse encontro fictício é inventado. O texto é todo costurado por trechos de entrevistas reais que ambos os escritores concederam a diferentes veículos ao longo da vida. Assim, o público terá contato com as visões de mundo e pensamentos verdadeiros dos escritores, com respeito aos seus direitos de imagem e autorais. Como em um quebra-cabeça, percebemos o quanto eles são diferentes em suas obras e na maneira de ver a vida, mas tão iguais em suas dores.
“É uma peça que fala também sobre a criação artística. Começa com um processo criativo entre um ator e uma atriz e segue com nossos Clarice e Nelson imaginários falando sobre vida e obra”, comenta o ator Marcos França.
“Clarice e Nelson – Um recorte biográfico a partir de entrevistas” visita o período em que os autores ainda estão em busca de seus estilos literários. Um período conturbado de suas vidas, em que Nelson Rodrigues se encontra em crise com a perda de seu irmão e sua doença crônica, e Clarice Lispector se sente aprisionada em um recente casamento e um bebê, sem ter a certeza de que poderia continuar administrando sua vida como mulher, mãe e escritora.
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