Dirigido por Kiyoshi Kurosawa, Cloud: Nuvem de Vingança se utiliza de personagens inescrupulosos para contar sobre ganância e a vingança humana
Recentemente, por conta de uma campanha publicitária para o filme F1 (2025, Joseph Kosinski), diversas miniaturas de carros foram vendidas junto com lanches do Mc Donald’s. Originalmente, o preço dado pela rede de lanchonetes era de R$ 99,90, caso a miniatura fosse comprada junto a um combo com sanduíche, ou R$ 74,99 caso fosse comprada separadamente. Rapidamente, esta promoção se esgotou, e não demorou muito para que, por toda a internet, alguns usuários começassem a vender o produto por valores exorbitantes que poderiam chegar, em sites como OLX, a até R$ 800 reais, por miniatura, sendo um valor exorbitante se comparado com o preço original.
Ao assistir Cloud: Nuvem de Vingança, penso como a arte não se distancia da realidade, sempre existindo oportunistas não importa o tempo ou o lugar. A produção japonesa conta a história de Ryôsuke Yoshii, um jovem que revende online diversos produtos baratos por preços elevados, enganando seus clientes com falsificações e fraudes, mentindo até mesmo para a própria namorada, porém, esta vida cobra seu preço quando um grupo de clientes insatisfeitos, inicia uma busca por vingança.
Confira abaixo o trailer de Cloud: Nuvem de Vingança e continue lendo a crítica
Seguindo a tradição de filmes orientais com a mesma temática, porém, mais voltado para a realidade do que uma produção como Oldboy (2005, Park Chan-wook), por exemplo, Cloud: Nuvem de Vingança mantém uma atmosfera de crítica social e política, sem deixar de lado um ritmo frenético de thriller que instiga o espectador, porém, perde um pouco o gás em seu terceiro atoa, que não consegue dar continuidade ao tom, tornando-se um filme de ação e tiroteio, semelhante à Cães de Aluguel (1992, Quentin Tarantino), ao se construir sequências inteiramente rodadas em um armazém, que apesar de bem executadas, destoam do resto da produção.

Cena de Cloud: Nuvem de Vingança- Copyright Nikkatsu
Evitando aprofundar objetivos e desejos de seus personagens, acompanhamos uma jornada cheia de reviravoltas, em que ninguém é passível de redenção, empatia, ou superior aos demais, como todos apresentando suas respectivas falhas e demônios internos, sendo culpados seja própria sociedade, ou dentro do próprio espectro de vitimismo em que se auto coloca, no caso de Yoshii, por exemplo, ele vivencia ambos os lados.
O roteiro de Kurosawa é mordaz no retrato de uma sociedade fragilizada e refém de golpes, abordando o modo como esquecemos toda a civilidade e harmonia na medida que nos sentimos enganados, e impotentes, atuando da maneira que achamos certo, mesmo sem ser o melhor resultado, e cedendo a uma impulsividade que não temos controle. Apesar disso, Cloud: Nuvem de Vingança evita se aprofundar e refletir sobre este retrato, deixando o espectador deduzir por conta própria com base no universo que é construído como opressor e frio.
Cloud: Nuvem de Vingança varia entre farsa, thriller, suspense e filme de ação, transmitindo, em pouco mais de 2 horas, muitas surpresas ao espectador que acompanha a construção de um caos generalizado, exemplificado rapidamente durante a produção, estando no primeiro momento tudo calmo, para no momento seguinte recebermos muitas informações de uma vez só, e nos surpreendendo a cada reviravolta.
Cloud: Nuvem de Vingança se utiliza deste universo exagerado com o intuito de instigar o público, sem defender um lado ou outro da discussão, afinal, todos os personagens acabam tendo que lidar com suas próprias escolhas, porém, o fato de manter o espectador como passivo perante este mundo, somente acompanhando e nunca fazendo parte dele, ocasiona um distanciamento e uma dificuldade de compreensão em certos momentos, se isto afeta a tensão sentida pelo espectador, depende do nível de imersão de cada um antes da chegada do terceiro ato.

Cena de Cloud: Nuvem de Vingança- Copyright Art House
Cloud: Nuvem de Vingança, é uma distribuição O2 FILMES e estreia no dia 17 de Julho nos cinemas brasileiros.
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