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Crítica | Crime Sem Saída

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Chadwick Boseman em Crime Sem Saída, leia a crítica

“Crime Sem Saída” (21 Bridges) traz a clássica trama de ação policial. Aliás, o filme estreia dia 12 de dezembro nos cinemas, com o ator Chadwick Boseman no papel principal. Inclusive, é o mesmo ator que brilhou no papel de T’Challa, o Pantera Negra, o que já chama atenção e público. Esse filme foi lançado no início do ano passado e arrecadou mais de U$1 bilhão de dólares nas bilheterias mundo afora.

Ademais, por trás das câmeras temos um time de primeira linha em filmes de ação, que busca oferecer ao espectador uma experiência diferente do previsível em filmes dessa natureza. Em linhas gerais, o roteiro do filme não inova, mas podemos destacar atributos técnicos primorosos como a fotografia, que está sensacional. Apesar da falta de novidade, podemos destacar 3 sutilezas que compõem o universo de sugestões de reflexão inseridas na estrutura da obra.

A primeira sutileza é notada na personagem da atriz Sienna Miller, que interpreta a detetive Frankie Burns. Fazendo a dupla de investigadores com Andre Davis (Chadwick Boseman). Essa personagem se apresenta como uma mãe solteira pouco vaidosa. A ausência de vaidade da personagem está evidenciada nas roupas largas que ela usa, além de nenhuma maquiagem. A questão não é legitimar um padrão de roupa justa e cara pintada para as mulheres. Mas no contraponto na qual a personagem está inserida, tendo em vista que sua dupla também é um indivíduo solteiro, mas sem filhos, sempre bem arrumadinho.

Antagonismo Moral

A princípio, esse antagonismo moral entre os personagens é sutil na ótica predominante na realidade contemporânea, onde cabe muitas coisas, e muitos preconceitos, como é o caso do arquétipo de mãe solteira como sinônimo de “mulher problema”. Cabendo a mulher nessa condição, suportar todo julgamento social e familiar acerca do fracasso no matrimônio, e consequentemente responsável por comandar um lar considerado desestruturado, de acordo com o pensamento conservador.

Aliás, nesse ponto, considero que o filme falhou ao reforçar este estereótipo, quando, ao contrário disso, seria possível destacar outras características positivas da personagem. Afim de propor a desconstrução da naturalização do estigma entorno das mães solteiras.

A segunda sutileza é percebida na cena principal de “Crime Sem Saída”, quando o detetive Davis e o chefe do Distrito 85 discutem no interior da cozinha da casa do chefe de policia, interpretado pelo fabuloso ator J.K. Simons. No desenrolar dessa conversa o chefe de polícia destaca a realidade precarizada dos policiais do seu distrito, no tocante a falta de valorização salarial e estrutural desses trabalhadores. E nesse sentido, a trama propõe uma reflexão acerca de um problema inerente a todas organizações de segurança pública existentes nos países democráticos do mundo.

A terceira e última sutileza que podemos destacar é relativa às consequências do estado de proibicionismos insustentáveis, que predominam no mundo real e são refletidos na ficção. E que, para manutenção dos mesmos, muita gente sofre, morre ou se machuca. Nesse contexto, os policiais precarizados são facilmente seduzidos pelas atividades corruptas. Enquanto a outra alternativa em relação as práticas delituosas, que sustentam uma vida digna e saudável para todos, é viver infeliz, com muitos problemas conjugais e contas atrasadas. Enfim, “Crime Sem Saída” tem pontos que fornecem a reflexão.

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas, com Cida Bento e Daniel Munduruku | Assista aqui

Veja o filme que aborda ações afirmativas e o racismo na ciência num diálogo contundente

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku

Na última quinta-feira (23), fomos convidados para o evento de lançamento do curta-metragem Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku. Aconteceu no Museu da República, no Rio de Janeiro.

Após a exibição um relevante debate ocorreu. Com mediação de Thales Vieira, estiveram presentes Raika Moisés, gestora de divulgação científica do Instituto Serrapilheira; Luiz Augusto Campos, professor de Sociologia da UERJ e Carol Canegal, coordenadora de pesquisas no Observatório da Branquitude. Ynaê Lopes dos Santos e outros que estavam na plateia também acrescentaram reflexões sobre epistemicídio.

Futura série?

O filme é belo e necessário e mereceria virar uma série. A direção de Fábio Gregório é sensível, cria uma aura de terror, utilizando o cenário, e ao mesmo tempo de força, pelos personagens que se encontram e são iluminados como verdadeiros baluartes de um saber ancestral. Além disso, a direção de fotografia de Yago Nauan favorece a imponência daqueles sábios.

O roteiro de Aline Vieira, com argumento de Thales Vieira, é o fio condutor para os protagonistas brilharem. Cida Bento e Daniel Munduruku, uma mulher negra e um homem indígena, dialogam sobre o não-pertencimento naquele lugar, o prédio da São Francisco, Faculdade de Direito da USP. Um lugar opressor para negros, pobres e indígenas.

Jacinta

As falas de ambos são cheias de sabedoria e realidade, e é tudo verdade. Jacinta Maria de Santana, mulher negra que teve seu corpo embalsamado, exposto como curiosidade científica e usado em trotes estudantis no Largo São Francisco, é um dos exemplos citados. Obra de Amâncio de Carvalho, responsável por colocar o corpo ali e que é nome de rua e de uma sala na USP.

Aliás, esse filme vem de uma nova geração de conteúdo audiovisual voltado para um combate antirracista. É o tipo de trabalho para ser mostrado em escolas, como, por exemplo, o filme Rio, Negro.

Por fim, a parceria entre Alma Preta e o Observatório da Branquitude resultaram em uma obra pontual para o entendimento e a mudança da cultura brasileira.

Em seguida, assista Nenhum saber para trás:

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