“A sindicalista”(La syndicaliste) é um filme que nos conta a história da principal representante sindical de uma potência nuclear multinacional francesa, que, sozinha contra todos, tenta trazer ao mundo os escândalos que ali estão ocorrendo.
O filme conta uma história bem forte e emocionante, mostrando uma realidade na qual várias mulheres sofrem dia após dia. Maureen Keaney, interpretada por Isabelle Huppert, luta para que várias mulheres e outros trabalhadores não percam seus empregos. Entretanto, quanto mais a trama fica complicada, mais o mundo irá mostrar suas garras e como todos veem e tratam as mulheres.
A princípio, no começo do longa, observamos pequenas ações ou falas, quase sutis, mas incomodativas, mostrando o preconceito e machismo. Vemos principalmente o vivenciado por mulheres em locais de destaque caso a percepção que se tenha é a de que elas, ao cumprirem suas missões, “estão atrapalhando”.
Aliás, veja o trailer de “A Sindicalista”, e siga lendo:
Em seguida, no decorrer da trama, tudo fica mais evidente e escancarado. Maureen, em sua luta, acaba sendo torturada e abusada em sua própria casa, como um aviso para parar. No início, ela é uma vítima, porém ela se vê se transformando de vítima para suspeita e isso sendo guiado e usado como desculpa pelo preconceito.
A protagonista se vê encurralada e a trama é conduzida de forma que se possa, para um espectador mais suscetível, concordar com as reviravoltas, não importando o quão absurdos possam ser os argumentos para transformar a protagonista em vilã. O filme nos mostra como nós, sejam homens ou até mulheres, podemos ser, a qualquer momento, prontamente conduzidos a, não importando o quão absurdo seja, transformar uma mulher em vilã, como se fosse normal e correto.
Parede
Em dado momento de “A sindicalista” vemos a protagonista sendo colocada contra a parede por uma outra mulher, uma juíza e, para justificar a narrativa de que Maureen é louca é utilizado um estrupo que a mesma sofreu quando jovem, além do fato de ela tomar remédio para depressão. Em contra partida, na mesma cena, a juíza justifica o completo descontrole do chefe de Maureen, em que ele joga uma cadeira de tanta raiva nela, simplesmente porque ela questionava o trabalho dele; logo normaliza-se um homem perder completamente seu controle e ficar violento.
Essa discrepância nos joga na cara as dificuldades das mulheres e o machismo na estrutura da sociedade, fazendo não só nós espectadores presenciarmos tudo, mas questionarmos o quanto disso está enraizado em nós e nem percebemos.
“A sindicalista” é um filme que não só irá te entreter, mas fará você questionar o sistema em sua volta. Ademais, se perguntará o quanto dessa mancha podre da sociedade está empregada em você sem nem ao menos saber. Talvez em suas falas, algumas ações sutis, como pensar mal de uma mulher por vestir certa roupa ou não vestir outra determinada. Indubitavelmente, essa obra escancara verdades que muitos talvez ainda não estejam prontos para encarar.
Por fim, baseado em uma história real, longa foi indicado ao prêmio de Melhor Filme da mostra “Horizons” no Festival de Cinema de Veneza de 2022 e estreia nesta quinta (29).