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Crítica

Crítica | Auto da Compadecida, a Ópera

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Auto da Compadecida a Opera Marília Vargas Creditos Rapha Garcia

Surpreendente e divertida. Assim é Auto da Compadecida, a Ópera, baseada na obra mais famosa de Ariano Suassuna, com a Orquestra Ouro Preto voando em cima das ótimas músicas originais de Tim Rescala. Além disso, a regência do Maestro Rodrigo Toffolo é de uma elegância magistral.

Mas é circo ou teatro? A obra brinca com essa metalinguagem no início, pois comporta elementos de ambos e é um caldeirão de ludicidade, nem armorial, nem medieval, é uma opera buffa nacional, ou seja, uma ópera-cômica, sem fim trágico.

A princípio, o começo pode até gerar certo estranhamento, porém, vai tudo num crescente, e o público se acostuma durante o primeiro ato para toda a magia que vem no segundo. O elenco tem química e, acima de tudo, talento artístico em todos os quesitos precisos, entre o canto e a necessidade de atuação. O primeiro momento em que Carla Rizzi entra é estupendo, a mezzo soprano impressiona quando abre a boca e assombra o público positivamente.

O canto lírico da Compadecida

Ainda por cima, o canto lírico de Marília Vargas, que vive a Compadecida, é de emocionar. Meus olhos ficaram cheios de água enquanto ela cantava advogando pelos pobres filhos, defendendo-os do diabo. É um canto de esperança e fé, de um lirismo poético lindo, celestial. Indubitavelmente, toda essa sequência do segundo ato empolga.

Claro, o fato de que sou um devoto de Nossa Senhora ampliou ainda mais minha emoção e foi arrepiante, mas, assim como a obra original, Auto da Compadecida, a Ópera é algo que ultrapassa crenças, pois gera um orgulho do Brasil, de ser brasileiro, com suas nuances e misturas tão específicas. A entrada de Jesus Cristo em cena, na energia carismática de Maurício Tizumba, e a dobradinha de Rafael Siano (Chicó) e Jabez Lima (João Grilo), são outros destaques.

Importante também ressaltar o figurino de Manuel Dantas Suassuna, filho de Ariano, que empresta toda uma originalidade armorial e mais do sangue Suassuna.

O espetáculo é longo, entretanto nem parece, passa rápido, porque é realmente bom e completo. Em verdade, deixa até um gosto de quero mais, e um senso de gratidão. Não à toa, o público aplaudiu de pé na noite em que assisti, última terça-feira (29).

A saber, a ópera esteve no Teatro Alfa, em São Paulo, nos dias 5 e 6 de novembro e chegou ao Rio de Janeiro para os dias 29 e 30 de novembro. A próxima parada é em Belo Horizonte, 09 e 10 de dezembro.

SERVIÇO

Orquestra Ouro Preto: “Auto da Compadecida, a Ópera”

Rio de Janeiro

Data: 29 e 30 de novembro de 2022

Horário: 21 horas

Local: Cidade das Artes Bibi Ferreira(Av. das Américas, 5300 – Barra da Tijuca)

Ingressos: No Sympla e bilheteria do teatro.

Belo Horizonte

Data: 9 e 10 de dezembro de 2022

Horário: 21 horas

Local: Palácio das Artes(Avenida Afonso Pena, 1537 -Centro)

Ingressos: No Eventim e bilheteria do teatro.

Informações: www.orquestraouropreto.com.br

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Pedágio.

Pedágio entra em circuito no dia 30 de novembro. Todavia, ele esteve na programação do Festival do Rio e da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Com roteiro e direção de Carolina Markowicz, tem Maeve Jinkins e Kauan Alvarenga nos papéis principais. Também integram o elenco Aline Marta Maia, Isac Graça e Thomás Aquino, que, mais uma vez, faz par com Maeve (como na série Os Outros).

A sinopse é a seguinte: uma mulher trabalha em um pedágio. Mãe solo, ela faz tudo por seu filho, porém, começa a se incomodar com vídeos performáticos que ele faz para a internet. Achando que uma terapia de conversão possa dar um basta ao que o filho faz, ela começa a juntar dinheiro para pagar uma cura gay ministrada por um famoso pastor internacional. Contudo, a forma que ela faz isso é ilegal.

Por enquanto, fique com o trailer do filme:

Brasil retratado

O filme mostra uma realidade muito comum: até onde uma mãe vai para proteger um filho. No caso, o que essa mãe acha que é proteção. Porque, para ela, colocá-lo em uma terapia de conversão é uma forma de proteção. Portanto, retrata também outra realidade mais comum ainda, infelizmente: o imenso preconceito que ainda existe contra pessoas LGBTQIAP+. E as consequências desse preconceito.

A diretora traz esse tema de uma forma muito original e criativa. Além de todo cenário não ser um que costumamos ver em filmes – todavia, afinal, é um cenário bastante brasileiro -, mostra uma mãe que tem um medo muito grande do que pode acontecer com seu filho em um lugar tão cheio de preconceitos, mas que não isola ou rechaça o filho. O longa também mostra a hipocrisia tão comum entre pessoas preconceituosas, que afirmam que ser gay é errado, mas não hesitam em trair seus companheiros sempre que há oportunidade, sendo que, segundo as regras que seguem, trair é tão errado quanto ir para a cama com alguém do mesmo sexo (enfim, a hipocrisia, não é mesmo?).

Revelação

Pedágio é um filme que consegue passar muito bem sua mensagem. E grande parte disso se dá por causa dos atores. Maeve Jinkings já é grande conhecida do público. Além de atuar em novelas, também participou de longas de renome, como O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho, e Boi neon, de Gabriel Mascaro. Espera-se que ela se entregue à personagem, pois o público está acostumado com essa característica da atriz. E é o que ela faz. É possível ver como a mãe retrata ama aquele filho, e manda-lo para a dita terapia não vem de um lugar de maldade. Nem todas as outras coisas que faz. Vem de um lugar de cuidado e proteção extremos, já que, como é comum, ela é tudo que ele tem, mãe E pai.

Os atores Kauan Alvarenga e Maeve Jinkings e a diretora Carolina Maskowicz
em debate sobre o filme no Festival do Rio 2023. Imagem: Livia Brazil.

Contudo, Kauan Alvarengua, que dá vida ao filho, é uma grata surpresa, já que é novato nos longas. O jovem ator mostra um equilíbrio perfeito ao interpretar Tiquinho. Ao conversar com o ator, ele se mostrou muito feliz e chocado com a resposta do público ao filme e à sua atuação. Se continuar nesse caminho, Kauan tem muito a mostrar e a nos surpreender. E obviamente que as atuações incríveis são graças, também, à direção certeira de Carolina Markowicz.

Premiações

Pedágio foi exibido nos festivais de Toronto (Canadá) e San Sebastián (Espanha). Além disso, recebeu o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Roma (Itália). No Festival do Rio, venceu quatro categorias: melhor atriz (Maeve Jinkings), melhor ator (Kauan Alvarenga), melhor atriz coadjuvante (Aline Marta Maia) e melhor direção de arte. O longa também foi um dos pré-selecionados para a edição de 2024 do Oscar, mas Retratos fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, acabou sendo o escolhido.

A diretora Carolina Markowicz, e o ator Kauan Alvarenga conversaram um pouco comigo sobre a recepção do filme no Brasil e no exterior. Carolina também comentou sobre a mensagem de Pedágio e como é fazer cinema sendo uma mulher. Está tudo no vídeo abaixo.

Ficha técnica

PEDÁGIO

Brasil | 2023 | 101min.

Direção e Roteiro: Carolina Markowicz

Elenco: Maeve Jinkins, Kauan Alvarenga, Aline Marta Maia, Isac Graça e Thomás Aquino.

Produção: Biônica Filmes.

Distribuição: Paris Filmes.

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