Banquete Coutinho é um recorte da obra de Eduardo Coutinho, um filme claramente derivado do seu objeto de estudo e estrela, o próprio Coutinho. Se você não conhece a obra do Coutinho é difícil separar o documentário do documentado. Essa emulação de estilo pontuada com (muitos) trechos dos filmes do Coutinho acabam te dando a impressão que você está presenciando uma obra maior do que realmente é.
Curiosamente vemos nosso conhecido entrevistador no papel oposto ao seu costumeiro. Ele responde a perguntas feitas em off, faz pausas para ponderar e apresenta uma persona não necessariamente construída, mas única e atuada, presente e existente apenas naquele momento. Coutinho se torna uma das dezenas de personagens apresentadas ao mundo pelos seus filmes, dotado de uma narrativa e histórica únicas, idiossincrático, com trejeitos e maneirismos ímpares.
Positivos e análise
Um dos pontos altos do longa é justamente o momento onde Coutinho fala sobre essas personas e como elas não existem em nenhum outro momento. Por mais que ele faça documentários, temos a presença de personagens perante a câmera. Toda a excepcionalidade dramática performada perante as lentes é o fruto de um construto criado não pela direção dos documentários, mas pelos próprios entrevistados. Estes se munem de uma roupagem mais excitante do que a que eles carregam no dia-a-dia. Existe a possibilidade de que isso ocorra apenas pela presença das câmeras, microfones, cabos, equipe e do Coutinho. Ou talvez isso ocorra porque Coutinho é uma pessoa agradável que entende como se relacionar com aquele a sua frente. Seja lá o que for, o diretor consegue extrair o puro sumo daquele a quem entrevista. Não posso dizer o mesmo de Josafá Veloso.
Aliás, veja o trailer e siga lendo:
Negativo
A montagem do longa é bem feita, mas acaba sendo apenas isso, uma montagem. Vemos mais do trabalho do Coutinho do que do diretor desse documentário. Se fosse só a entrevista salpicada com pequenos frames e trechos curtos do trabalho do Coutinho teríamos apenas uma meia hora de conteúdo. Entretanto, os trechos de conversa entre Josafá e Eduardo são parcos e, em alguns momentos, esotéricos.
Por mais que seja fascinante ter acesso a visão não publicada de alguns dos melhores documentários do mundo, é decepcionante que Banquete Coutinho é só uma diluição de todos os outros no qual ele se baseia. Últimas Conversas, Jogo de Cena, Edifício Master, Babilônia 2000, O Fio da Memória, Cabra Marcado para Morrer: todos esses títulos absurdos apresentam uma realidade brutal, bela, genuinamente nacional e única na sua abordagem; Banquete Coutinho apenas simula na sua inexperiência.
Enfim, este interessante filme faz parte da 15ª CineOP. Essa mostra segue até 7 de setembro de 2020, gratuitamente. Basta acessar www.cineop.com.br.