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Crítica | Brooklyn Sem Pai, Nem Mãe: crime numa cidade segregada

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Crítica do filme Brooklyn Sem Pai Nem Mãe

Brooklyn – Sem Pai, Nem Mãe” (2019) é uma adaptação do livro homônimo de Jonathan Lethem. A história se passa na década de 1950, na cidade de Nova York, onde Frank Minna (Bruce Willis) é dono de uma agência de investigação. Com ele, trabalham: Lionel Essrog (Edward Norton), Gilbert Coney (Ethan Suplee), Danny Fantl (Dallas Roberts) e Tony Vermonte (Bobby Cannavale). Todos meninos resgatados de um orfanato abusivo por Minna.

Enquanto participa de uma investigação sigilosa, Minna pede que Lionel e Gilbert o deem cobertura durante uma reunião. Porém, a situação sai do planejado e Minna é assassinado. Lionel, um homem com síndrome de Tourette – responsável por repetições de palavras, espasmos e tiques incontroláveis – e memória fotográfica, está ao seu lado na hora da morte e decide finalizar a investigação para descobrir o motivo pelo qual seu mentor fora assassinado.

Ao se aprofundar na investigação, Lionel se aproxima de Laura Rose (Gugu Mbatha-Raw), uma jovem ativista que luta pelos direitos habitacionais de pessoas negras, numa sociedade dividida pela segregação racial. Bem no centro dessa problemática, estão o ambicioso Moses Randolph (Alec Baldwin) e o prefeito William (Peter Lewis).

Edward Norton na direção

Além de atuar em “Brooklyn – Sem Pai, Nem Mãe”, Edward Norton é responsável pela direção e adaptação do roteiro. Em alguns momentos, fica claro que há um desgaste da centralização de três funções em apenas uma pessoa. Na atuação, ele se destaca em diversos momentos do filme, principalmente ao lado de Gugu Mbatha-Raw e Alec Baldwin. Os momentos de raiva, dor e vulnerabilidade do personagem são interpretados com precisão.

Porém, o mesmo não pode ser dito para a direção. Há diversas cenas que não participam da narrativa.  Não há motivos para a existência de cenas psicodélicas quando o personagem utiliza de drogas, para diminuir os efeitos de sua síndrome, ou para demonstrar sua mente funcionando de forma diferente. As ações dos personagens já evidenciam a forma peculiar que o cérebro do protagonista funciona. Aliás, tais cenas são repetitivas e apenas prolongam a duração do filme.

Segregação racial e desigualdade econômica

A saber, o roteiro comete os mesmos erros da direção. Ele poderia ser focado nas cenas mais pertinentes à história geral do filme. E a narração do personagem sobre a forma que enxerga o mundo agrava a sensação de repetição dentro da história. O ritmo lento, num filme de duração de mais de duas horas, pode cansar quem não é fã de mistérios. E o final abrupto, como se tudo tivesse que ser resolvido nos últimos vinte minutos, pode decepcionar quem se sente preso ao enredo.

Já a estética de Nova York, local da boêmia talentosa dos bares de jazz, dividida pela segregação racial e desigualdade econômica, é um grande atrativo do filme. Indubitavelmente, as cenas marcam o período histórico e encantam o espectador. Além disso, para quem gosta de jazz, a trilha sonora é um presente, afinal são diversos instrumentais e músicas do estilo musical presentes nas cenas.

Enfim, um filme cheio de drama e mistério, “Brooklyn – Sem Pai, Nem Mãe”, usa o assassinato de um detetive para mostrar a luta por uma cidade mais igualitária para todos seus moradores.

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas, com Cida Bento e Daniel Munduruku | Assista aqui

Veja o filme que aborda ações afirmativas e o racismo na ciência num diálogo contundente

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku

Na última quinta-feira (23), fomos convidados para o evento de lançamento do curta-metragem Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku. Aconteceu no Museu da República, no Rio de Janeiro.

Após a exibição um relevante debate ocorreu. Com mediação de Thales Vieira, estiveram presentes Raika Moisés, gestora de divulgação científica do Instituto Serrapilheira; Luiz Augusto Campos, professor de Sociologia da UERJ e Carol Canegal, coordenadora de pesquisas no Observatório da Branquitude. Ynaê Lopes dos Santos e outros que estavam na plateia também acrescentaram reflexões sobre epistemicídio.

Futura série?

O filme é belo e necessário e mereceria virar uma série. A direção de Fábio Gregório é sensível, cria uma aura de terror, utilizando o cenário, e ao mesmo tempo de força, pelos personagens que se encontram e são iluminados como verdadeiros baluartes de um saber ancestral. Além disso, a direção de fotografia de Yago Nauan favorece a imponência daqueles sábios.

O roteiro de Aline Vieira, com argumento de Thales Vieira, é o fio condutor para os protagonistas brilharem. Cida Bento e Daniel Munduruku, uma mulher negra e um homem indígena, dialogam sobre o não-pertencimento naquele lugar, o prédio da São Francisco, Faculdade de Direito da USP. Um lugar opressor para negros, pobres e indígenas.

Jacinta

As falas de ambos são cheias de sabedoria e realidade, e é tudo verdade. Jacinta Maria de Santana, mulher negra que teve seu corpo embalsamado, exposto como curiosidade científica e usado em trotes estudantis no Largo São Francisco, é um dos exemplos citados. Obra de Amâncio de Carvalho, responsável por colocar o corpo ali e que é nome de rua e de uma sala na USP.

Aliás, esse filme vem de uma nova geração de conteúdo audiovisual voltado para um combate antirracista. É o tipo de trabalho para ser mostrado em escolas, como, por exemplo, o filme Rio, Negro.

Por fim, a parceria entre Alma Preta e o Observatório da Branquitude resultaram em uma obra pontual para o entendimento e a mudança da cultura brasileira.

Em seguida, assista Nenhum saber para trás:

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