Dirigido por Anthony Schatteman, Corações Jovens não reinventa o gênero, mas oferece algo cada vez mais precioso: conforto e segurança dentro de uma narrativa LGBTQIA+
É quase um clichê nas produções com protagonismo queer ver o casal principal separado ao final, como em Retrato de uma Jovem em Chamas (2020, Céline Sciamma), ou até encerrando em tragédia, como em Close (2023, Lukas Dhont). São raras as histórias que ousam sonhar com um desfecho feliz, harmônico e leve, sendo Corações Jovens, com orgulho, uma dessas exceções.
Ambientado no interior bucólico da Bélgica, entre fazendas, lagos e árvores que evocam o romantismo do século XIX, a produção acompanha Elias, um jovem introspectivo, e Alexander, seu novo vizinho. A conexão entre os dois é imediata, como um raio que desperta em Elias uma batalha interna: aceitar seus sentimentos e viver plenamente seu primeiro amor, ou negar a sua felicidade por medos e preocupações que este sentimento desperta.

Lou Goossens em cena de “Corações Jovens”- Divulgação Mares Filmes
A fotografia íntima privilegia closes e desfoques sutis, alternando entre o foco nos atores e planos abertos que revelam o cenário idílico. A direção de arte e o uso do espaço constroem uma atmosfera poética, delicada e acolhedora, enfatizando que o conflito central é interno, apesar de o roteiro incluir figuras que funcionam como pequenas forças antagônicas, mas os que realmente ganham destaque são aqueles que apoiam Elias em seu processo de autodescoberta, tornando o filme bonito, emocionante e, sobretudo, necessário.
Talvez o aspecto mais surpreendente seja o fato de Corações Jovens não seguir o padrão trágico de tantas narrativas queer, afinal, estamos tão acostumados a esperar o pior que cada cena parece prenunciar uma desgraça, mas ela nunca vem. O relacionamento de Elias e Alexander é retratado com leveza e naturalidade, sem o peso do preconceito ou da repressão, ambos nadam no lago, ambos tem o primeiro beijo após a chuva, ambos se separam por conta do medo e raiva de Elias.
A resolução se dá de um modo bem mais simples do que aparenta, por meio do apoio em um tom quase utópico: todos aceitam Elias, todos o apoiam, e o incentivam a vivenciar este amor. E, com isso, o filme ganha cores, vida e um desfecho luminoso, literalmente, em um parque de diversões, onde as luzes parecem elevar a história a um novo patamar emocional.
Desde o início, a obra é guiada por uma suavidade constante, acompanhada de uma trilha de piano sutil e emotiva. A música, que celebra a força do primeiro amor, ecoa nos diálogos e subtextos: esse amor, quando surge, deve ser vivido com coragem e verdade, e para Elias, aceitar isso é um processo de confissão e libertação, e quando finalmente acontece, o espectador se emociona com a simplicidade da aceitação. É um choro de alívio e desejo: “como queria que fosse assim”.
Vale lembrar de Regras do Amor na Cidade Grande (Eoni, 2025), lançado pela A2 Filmes, também apresenta um protagonista gay. Em uma de suas cenas mais tocantes, a mãe, em choque com a revelação do filho, assiste a Me Chame Pelo Seu Nome (2018, Luca Guadagnino) para compreendê-lo melhor. Já em Corações Jovens, não há essa pausa: Elias é aceito imediatamente por todos, inclusive por Valerie, sua ex-namorada, que compreende e o apoia.

Lou Goossens e Marius De Saeger em cena de “Corações Jovens”- Divulgação Mares Filmes
E então, surge a pergunta inevitável: se o cinema está repleto de romances heterossexuais leves e felizes, por que não podemos ter o mesmo para histórias entre dois meninos?
Com uma edição cuidadosa e uma trilha sonora que embala cada momento com ternura, Corações Jovens emociona por seu retrato honesto e gentil, sendo um retrato belíssimo daquilo que todos desejamos sentir: um primeiro amor vivido sem medo.
Distribuído pela Mares Filmes, Corações Jovens estreia nos cinemas no dia 13 de novembro.
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