Dirigido por Bruno Saglia, Diminuta ambiciona um drama profundo e épico; porém, torna-se refém de uma imaturidade técnica que compromete toda a produção
Fazer cinema não é fácil: exige sangue, suor e lágrimas de todas as frentes, desde o momento de concepção até o lançamento nas salas. Assim como em um relacionamento, cada etapa coloca à prova seus envolvidos de maneiras distintas, gerando resultados igualmente diversos. Às vezes nasce uma obra-prima; outras vezes, um filme apenas divertido; em alguns casos, um projeto que só será reconhecido anos mais tarde. Mas há também produções que, apesar das boas intenções, chegam ao público ainda cinematograficamente imaturas, despertando a sensação de que não se trata de um corte final, como é o caso de Diminuta.
A trama acompanha a história de Cristiano, um homem que cresceu cercado pela música em uma pequena cidade do Vêneto, na Itália, mas que se muda ainda jovem com um tio para o Sul do Brasil. Lá, ele cria raízes, traumas e memórias, afastando-se da música, sua verdadeira paixão. Entretanto, após chegar a um beco sem saída em sua vida, decide retornar à Itália em busca daquilo que deixou para trás.

Reynaldo Gianechini em cena de “Diminuta”- Divulgação
Diminuta parte de uma premissa simples e cheia de potencial, porém, desde o início, o público já percebe algumas fragilidades. A primeira delas são as atuações. Sustentado pelo esforço de Reynaldo Gianecchini, o elenco oscila entre o exagero e o artificial, algo que vai na contramão da proposta dramática que envolve temas densos como câncer, traumas, legado e superação, com nenhum dos protagonistas conseguindo transmitir este cenário que os cerca.
Somam-se a isso erros de continuidade, paletas de cores que “engolem” os atores, acontecimentos sem lógica ou consequência, inserções publicitárias forçadas em plena narrativa e uma fotografia marcada por grandes “vácuos visuais” resultando em composições inorgânicas e desconfortáveis, uma edição marcada por fade outs aleatórios que nada acrescentam à obra, entre outras questões. Ainda assim, dois elementos em particular afundam o filme: o design de som e o roteiro.
Como aponta Rodrigo Carreiro em O Som do Filme: Uma Introdução (2018): “A trilha sonora de um filme é composta por três elementos: a voz (diálogos, narração, monólogos), os ruídos (efeitos sonoros) e a música.”
Estes três elementos podem ser encontrados em Diminuta, mas sua integração é inteiramente inorgânica. A trilha frequentemente se sobrepõe às vozes dos atores; há dessincronização entre fala e movimento labial; a música, constante, raramente fortalece a narrativa, perturbando mais do que auxiliando, além de não acompanhar os beats dramáticos das cenas, iniciando e terminando como se estivesse desconectada da ação.
No que diz respeito ao roteiro, Diminuta orquestra uma narrativa grandiosa, mas tropeça ao incluir uma enxurrada de ideias com a intenção de fortalecer a jornada de sofrimento de Cristiano. Após perder o filho para o câncer, o protagonista enfrenta um casamento abalado com uma esposa que jamais superou o luto, algo que o filme repete à exaustão. Entre sofrimento e mais sofrimento, Cristiano encontra um professor de música que o inspira, mas, após a morte de seu mentor e sua demissão, abandona tudo e segue para a Itália, onde começa praticamente outro filme.

Reynaldo Gianechini em cena de “Diminuta”- Divulgação
Essa segunda parte, em que Cristiano tenta se reconectar com suas raízes e reencontra amigos de seu falecido avô, poderia ser o respiro de que a obra tanto necessitava. Contudo, interações pouco verossímeis e arcos mal desenvolvidos, como sua relação com uma prostituta, que não afeta a narrativa em nenhum nível, e o conflito com sua banda, sem aprofundamento, exceto pela figura de Max, um antagonista totalmente desnecessário, tornam tudo ainda mais disperso, provocando risos involuntários por conta de tramas paralelas e erros técnicos amadores.
Ao final, Diminuta é uma tentativa de épico dramático que claramente precisava de mais tempo de maturação antes de chegar ao público, além de um trabalho técnico mais cuidadoso que permitisse a verdadeira imersão cinematográfica a que se propõe. Há intenção, há paixão, há quase duas horas de esforço evidente da equipe envolvida, mas nada disso consegue salvá-lo.
Diminuta está disponível no streaming Belas À La Carte.
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