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Crítica | ‘Era Uma Vez Um Sonho’ é elegia caipira emocionante na Netflix

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Era uma vez um sonho

Era Uma Vez Um Sonho. A princípio, a escolha do título brasileiro não comporta o tamanho da profundidade e tristeza deste filme. Seu nome original “Hillbilly Elegy” é perfeito; a tradução literal seria algo como Elegia Caipira. Elegia significa um tipo de poesia triste e melancólica feita para funerais e momentos de lamentação. Caipira é aquele que vive no campo e cujos hábitos são pouco tolhidos diante de um local que não se faz necessário, que não se dedica a instruir sobre detalhes, onde o urgente é o dia e é o fazer, o trabalho; típico de quem é responsável por manufaturar braçalmente seu sustento e muitas vezes de forma mais isolada dos convívios sociais; aquele que trabalha mais do que festeja.

Não é tarefa fácil transmitir esta noção de realidade e o sentimento nela imbuído, ao que Amy Adams, Glenn Close e Gabriel Basso fazem magistralmente, a ponto de acionar meus próprios gatilhos emocionais sobre o assunto. Pois é, esta que vos fala é uma tremenda caipira.

Vamos ao que vi no filme sobre a família Vance e que rasgou um pedaço pouco visitado do meu peito:

Segredos de família que carregamos conosco. Não daqueles que viram novelas, mas aqueles que são velados por todos. Ambiente conservador, onde as coisas mudam devagar e tudo pode acabar desviando de um padrão que não existe além do imaginário local, e que por motivos contratualistas primórdios passa a ser seguido sem saber de onde ou porquê.

Tempo. Como o mesmo tempo parece ter leituras diferentes em cada lugar. Só quem já pôde ir à uma cidade de interior consegue entender a diferença, que é sentida fortemente por quem chega ou por quem se vai. E ir, por si só, já é uma tarefa árdua.

Quantos J.D. Vance existem por aí e quantas vidas são direcionadas a partir de onde você veio? Como é tentar viver sem abandonar valores que podem justamente te impedir de ter acesso à certos lugares e conquistas que você, como qualquer outro, deve poder almejar e ter condições de alcançar?

Luto

Elegia é sobre luto. E ninguém vive este momento tão bem quanto o caipira. Todos sentem dor, onde quer que estejam, mas o compartilhar coletivo de uma partida é certamente mais presente em locais onde o tempo te permite sentir, onde a pressa não sobrepõe o respeito ao momento de despedida. Não importa o quanto os membros de uma família estejam quebrados individualmente ou mesmo em suas relações, eles estarão unidos mais do que nunca em momentos como este. Pode não ser algo que almejamos, mas é real e presente.

Lidar com consequências, viver apagando incêndios e administrar o que resta de um estilo de vida muitas vezes sem perspectiva de mudança, melhora ou realizações, um mundo de oportunidades limitadas, distantes; principalmente para queles que acreditam que não há mais tempo. Neste filme, vemos intenções mudarem realidades.

Amadurecimento

Amadurecer para além da noção de certo e errado, de culpa e inocência numa visão dicotômica adolescente e limitada da vida. Coisa esta complexa e cheia de relações cujo controle é inexistente. Inconsequências, e o que aprendemos com elas. Quem é responsável pelos irresponsáveis? São estes mais vítimas ou culpados pelo que se tornam? Há uma linha tênue.

Outro destaque do filme são as regras e necessidades burocráticas feitas sem a ótica do outro, do diferente de mim, das múltiplas realidades do mundo, e que por isso mesmo favorecem determinadas camadas e setores sociais. Vemos que na tentativa de acompanhar outra realidade, podemos nos perder de nós mesmos, e sem referências, seremos menos que nada. O que importa não é o que nos tornou o que somos hoje, é o que fazemos com nossa bagagem de feridas e vivências tão únicas.

Enfim, esta história que expõe fragilidades e vulnerabilidades é tão atual quanto necessária. É de fato um belo ano para as adaptações literárias da Netflix.

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Estreias do fim de semana nos streamings (31/03 – 02/04)

Os destaques dessa semana são a série ‘O Poder’ da Prime Video, a segunda temporada de ‘O Rei da TV’ e a primeira de ‘Kindred’ no Star+

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Mais um final de semana chegando recheado de séries novas para todos os gostos. Tem muita coisa interessante, então vale conferir todos os trailers. No final, conte-nos as estreias que mais te interessaram lá nos comentários!

O Poder T1 – Prime Video

Algumas adolescentes pelo mundo começam a desenvolver poderes misteriosamente, que lhes permitem manipular a eletricidade. Agora, Margot (Toni Collete), Roxy (Ria Zmitrowicz) e Allie (Halle Bush) decidem explorar esse novo poder . Com uma mistura de drama, ação e um mundo de fantasia, O Poder é mais uma série exclusiva da Prime Video.

Wellmania T1 – Netflix

Liv sempre aproveitou a vida sem pensar no amanhã. Até que um problema de saúde a leva a uma jornada de bem-estar. Ela está determinada a melhorar. Não importa o preço. A humorista australiana Celeste Barber protagoniza esta comédia dramática e ácida, baseada no livro de Brigid Delaney.

Emergência: Nova York (Série documental) – Netflix

Esta série documental acompanha profissionais de saúde na luta constante para equilibrar a pressão do trabalho com as exigências da vida pessoal em Nova York.

Instável T1 – Netflix

Um homem introvertido precisa trabalhar com seu excêntrico e bem-sucedido pai, que está à beira de um desastre pessoal e profissional.

Marinheiro de Guerra (Minissérie) – Netflix

Em meio à Segunda Guerra Mundial, dois marinheiros enfrentam situações terríveis em um navio norueguês enquanto lutam para sobreviver. Estreia dia 2 de abril.

Kill Boksoon – Netflix

Quando assassinos ditam as regras, os segredos assumem o comando. Conheça os assassinos mais implacáveis neste suspense eletrizante.

Rye Lane: Um Amor Inesperado – Star+

Dois jovens de vinte e poucos anos que se conectam ao longo de um dia agitado no sul de Londres. Eles se ajudam a lidar melhor com o ex de cada um, e acabam voltando a acreditar no amor.

O Rei da TV T2 – Star+

O apresentador, o empresário, o candidato, o refém. Todas as faces de Sílvio Santos estão na segunda temporada de O Rei da TV.

Kindred: Segredos e Raízes T1 – Star+

Quando Dana, uma jovem negra e aspirante a escritora, começa a se estabelecer em sua nova casa, ela se vê viajando entre o passado e o presente, surgindo em uma plantação do século XIX e confrontando segredos que ela nunca soube que corriam em seu sangue.

Vozes em Ascensão: A Música de Wakanda para Sempre (Série documental) – Disney+

Uma série documental sobre todo o processo de criação da trilha sonora de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre.

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