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Hadis Pakbaten, Majid Panahi (II) e Mohammad Ali Elyasmehr em cena de "Foi Apenas um Acidente"- Divulgação Imovision
Cinema e StreamingCrítica

Crítica: ‘Foi Apenas Um Acidente’- entre o otimismo e o ciclo de violência

Por
André Quental Sanchez
Última Atualização 2 de dezembro de 2025
6 Min Leitura
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Hadis Pakbaten, Majid Panahi (II) e Mohammad Ali Elyasmehr em cena de "Foi Apenas um Acidente"- Divulgação Imovision
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Dirigido por Jafar Panahi, Foi Apenas um Acidente é uma necessária tragicomédia sobre os perigos do famoso “olho por olho, dente por dente”.

Vencedor da Palma de Ouro no último Festival de Cannes e escolhido como representante da França ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2026, Foi Apenas um Acidente abre margem para muitas discussões éticas, sociais e políticas. Ao se utilizar de um caos concentrado para discutir ciclos de violência e persistência dos traumas, a produção de Jafar Panahi coloca na balança o leve limiar entre justiça, e sua irmã oculta, a vingança, e as feridas ocultas dentro de cada um, que somente são curadas por meio de combate íntimo e determinação própria.

A narrativa acompanha Vanid, um mecânico e ex-prisioneiro político iraniano, que acredita reconhecer em Eghbal, um cliente cujo carro sofre um acidente, o agente estatal responsável por sua tortura. Consumido pela dúvida e pelo desejo de vingança, busca outros antigos detentos para confirmar a identidade do homem, e decidir o que fazer com ele.

Vahid Mobasseri, Mariam Afshari, Hadis Pakbaten, Majid Panahi (II) e Mohammad Ali Elyasmehr em cena de "Foi Apenas um Acidente"- Divulgação Imovision

Vahid Mobasseri, Mariam Afshari, Hadis Pakbaten, Majid Panahi (II) e Mohammad Ali Elyasmehr em cena de “Foi Apenas um Acidente”- Divulgação Mubi

Panahi constrói o filme com planos estáticos de longa duração, alguns ultrapassando dez minutos, que evocam o rigor formal de uma tragédia grega por conta da maneira como o destino interfere na vida dos personagens, e os leva a tomar atitudes muitas vezes por impulso. O acidente que leva Eghbal à oficina de Vanid, ou o parto repentino da esposa do suposto torturador, fazem parecer com que tudo é guiado por uma mecânica cruel do acaso, impondo aos seus protagonistas a difícil decisão de avaliar a própria vida, e decidir moralmente quem eles são.

Apesar do contexto pesado, Foi Apenas um Acidente é árido não apenas por se situar majoritariamente no deserto, mas também por seu humor seco, fruto de mal-entendidos e situações absurdas, elementos que desaguam em um tenso terceiro ato que culmina em um desfecho aberto que convida o espectador a refletir. Ao longo de apenas dois dias, as situações escalam de forma rápida e anárquica, um deleite para quem assiste, mas um tormento para quem vive estes acontecimentos.

Mesmo com o peso moral de acompanhar pessoas torturadas reproduzindo a violência sobre um homem que pode, ou não, ser o responsável por seus traumas, Panahi constrói um filme esperançoso, sobretudo através da jornada de Vanid. As atitudes do mecânico contrastam com as posturas de Hamid, defensor da violência incontornável, e de Shiva, mais madura e controlada, algo que somente é ampliado por meio da escalação de atores não profissionais fazendo com que seus personagens carreguem uma franqueza que reforça o choque emocional.

Vahid Mobasseri em cena de "Foi Apenas um Acidente"- Divulgação Imovision

Vahid Mobasseri em cena de “Foi Apenas um Acidente”- Divulgação Mubi

Com quase duas horas de duração, a narrativa funciona como uma locomotiva em marcha lenta, e talvez seja um dos filmes mais políticos da carreira do diretor iraniano, criticando não apenas o regime, mas também o ciclo de violência que parece inato ao ser humano, e que precisa ser rompido para que avancemos enquanto sociedade, entregando ao espectador a responsabilidade ética para tirar sua própria conclusão, na medida que ele se mantém aberto, e é enfatizado por um meticuloso design de som que alcança o seu auge.

Assim como Filhos (2025, Gustav Möller) e O Homem Mais Feliz do Mundo (2025, Teona Strugar Mitevska), Foi Apenas um Acidente flerta no terreno do thriller ético. Com uma fotografia dura e sem floreios, tensiona a linha entre justiça e brutalidade, mostrando quão rapidamente vítimas podem se tornar algozes, funcionando como um modo de Panahi expurgar seus demônios internos e sua raiva contra o regime, sem deixar de sonhar com um futuro mais compassivo, afinal, pela lógica “olho no olho”, o mundo inteiro logo ficará cego.

Adendo: Após a publicação desta crítica, tive a informação que o diretor Jafar Panahi ganhou no Gotham Awards os prêmios de melhor roteiro, melhor diretor e melhor filme internacional, por Foi Apenas um Acidente, porém, também foi condenado pelo governo iraniano por “atividades de propaganda” contra o regime vigente. Sua sentença é de um ano de prisão, e dois anos sem viajar para o exterior, que o cineasta cumprirá assim que encerrar a temporada de premiação, já que no momento se encontra fora do país.

Distribuído pela MUBI, Foi Apenas um Acidente estreia nos cinemas em 04 de dezembro.

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Tags:apenas um acidenteCinemacinema iranianocriticacritica foi apenas um acidentefilme políticoimovisionJafar PanahijustiçamubiOscar 2026Vingança
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