O filme “Frida”, de Carla Gutiérrez, tem uma intensa beleza visual que o diferencia de outras produções. Desde a abertura, o documentário cativa com uma intervenção visual impactante sobre uma das obras mais conhecidas da artista, “A Coluna Quebrada” (1944). Usando o cinema de animação de forma criativa e sensível, a cineasta faz ruir a coluna grega que substitui a espinha dorsal de Frida. Tal cena mostra não apenas a fragilidade física da artista, mas também a força resiliente que definiu sua vida e obra.
Contudo, são várias as obras emblemáticas de Frida Kahlo que ganham vida. Essas intervenções dão um novo fôlego às pinturas, permitindo que ampliem as emoções de Frida para os espectadores, engatilhando emoções.
Schaeffer
Ao longo do documentário, o recurso de dar movimento às obras de Frida Kahlo é repetido de forma recorrente. Essa técnica não se limita apenas às pinturas, mas também envolve fotos em preto e branco que ganham elementos colorizados, tornando a experiência visual ainda mais impactante. Essas intervenções são resultado das mais avançadas técnicas do cinema contemporâneo, com a assinatura de Ernie Schaeffer, especialista em efeitos visuais.
Sendo assim, o trabalho de Schaeffer dá um toque inovador e poético ao filme, permitindo que as obras de Frida transcendam seu estado estático e dialoguem com o público de maneira profundamente emocional e visualmente impactante. Assim, as imagens passam a vibrar com cores e movimentos que intensificam a narrativa, conectando o espectador à intensidade da vida e das emoções de Frida.
A voz de Frida
Em paralelo, entendemos melhor a jornada da artista, suas escolhas políticas, seus amores, e, acima de tudo, suas dores. Essas últimas eram o motor principal de sua arte profunda. É interessante ver também a visão eurocêntrica e patriarcal em cima de sua arte, em especial na viagem para Paris com André Breton.
A cineasta escalou a atriz Fernanda Echevarría del Rivero para dar voz aos trechos dos diários de Frida em espanhol. Indubitavelmente essa interpretação faz toda a diferença para a imersão que o filme entrega. Carla também introduz as vozes de figuras importantes da vida de Frida, como Rivera, Alejandro Gómez Arias, Lucienne Bloch e André Breton, sem, no entanto, jamais tirar o foco da pintora como protagonista.
Outro elemento que se destaca é a trilha sonora cuidadosamente selecionada. Em vez de cair em clichês ou apostar em excessos, Gutiérrez opta por uma sonoridade sutil que evoca a essência do México de Frida, há sofisticação e autenticidade, marcas da artista. As canções e sons escolhidos servem como um bom pano de fundo para conectar o espectador à narrativa de forma mais ampla, fortalecendo a experiência sensorial do filme. Ou seja, a música complementa com eficácia o uso criativo da animação.
Valioso
Carla Gutiérrez conseguiu criar um documentário valoroso, que não apenas apresenta uma nova perspectiva sobre a vida de Frida Kahlo, mas também oferece uma imersão poética e emocional no universo da artista. Nessa mistura surrealista de imagens deslumbrantes, animação inovadora e uma trilha sonora eficiente, “Frida” se destaca como um dos retratos mais sensíveis e completos da pintora mexicana. É uma obra que, sem dúvida, vai além do tradicional e encanta por sua capacidade de trazer à tona as camadas mais profundas da vida de uma das maiores artistas do século XX.
Afinal, Carla Gutiérrez, montadora e documentarista norte-americana de origem peruana, mostra que sim, ainda há muito a explorar sobre a vida de Frida Kahlo e fornece um dos melhores filmes já feitos sobre a vida da artista que virou símbolo. “Frida” é um documentário de 88 minutos e fica disponível na Amazon Prime.
Onde assistir: Amazon Prime
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