Dirigido por Esmir Filho, Homem com H é uma representação humana e honesta da potência que é Ney Matogrosso
Segundo o dicionário Michaelis, uma pessoa masculina é alguém que apresenta características másculas, denotando força, vigor ou virilidade. Esta é uma construção social, presente em um dos maiores dicionários da língua portuguesa, uma de suas maiores referências no campo, assim, podemos raciocinar por um momento. O que seriam estas características másculas? Voz grave? Postura ereta? Olhar centrado? Uma pessoa estoica? E logo em seguida podemos nos questionar se um homem que é tudo menos isso, voz fina, sem noção de postura, olhar fluido, uma pessoa ansiosa, seria menos homem, dentro da sociedade? Podendo ser enxergado como inferior, por não se encaixar nesta caixinha social? Esta é somente uma das reflexões que Homem com H ocasiona.
Homem com H é a mais nova cinebiografia nacional, desta vez contando a história da lenda, da potência, do homem, que é Ney Matagrosso. Interpretado por Jesuíta Barbosa, em uma performance tão orgânica e confortável que o fez receber o apelido de “JesuNey”, por conta da mescla entre ambos, aonde o ator se parece com o Ney, mas, ainda apresenta traços de Jesuíta, afinal, segundo o conselho do próprio retratado, Jesuíta Barbosa não reproduziu nada e tentou encontrar o seu caminho.
Confira abaixo o trailer de Homem com H, e continue lendo a crítica
Em coletiva realizada em SP no dia 23 de Abril, Jesuíta Barbosa, Esmir Filho, a produtora Veronica Stumpf e o próprio Ney Matogrosso, contaram bastidores sobre as filmagens e execução de Homem com H. Logo no início do evento, Ney Matogrosso falou como foi sua primeira conversa com Esmir Filho, segundo o cantor: “As pessoas falam muita mentira de mim, neste filme tudo tem que ser verdade, sem nenhum pudor de contar a história exatamente como ela é”.
Com um orçamento expressivo para um filme independente, 17 milhões e 968 mil reais, segundo fala de Veronica Stumpf, Homem com H mostra este dinheiro a todo momento na tela, sejam nos ricos e detalhados figurinos, alguns sendo os oficiais usados por Ney Matogrosso, outros produzidos pela equipe de design, pelo design de produção preocupado em cada detalhe, e pelas 17 músicas licenciadas que o filme apresenta, segundo Veronica Stumpf, Homem com H é um filme que vale sair de casa e assistir no cinema.
E não é somente na questão sonora que o filme se destaca. A fotografia de Azul Serra, cinematógrafo de projetos como Turma da Mônica: Lições (2021, Daniel Rezende), auxilia em uma composição de época que não apresenta medo de ser colorida, segundo Esmir Filho, Azul foi contra o filme de época a paleta sépia usada em tantos outros filmes de época, assim, Homem com H é tudo menos isso, principalmente em seu uso constante de azul e vermelho, transmitindo uma magia, principalmente nas performances de “JesuNey” como Sangue Latino e uma montagem maravilhosa ao som de Homem com H.

Julio Reis e Jesuíta Barbosa em cena de Homem com H- Divulgação Paris Filmes
O filme aborda aproximadamente 50 anos da vida de Ney Matogrosso, desde a infância sofrendo abusos de seu pai, que desejava torná-lo homem, até o fim dos anos 90, com uma pequena palhinha aonde acompanhamos o show que Ney Matogrosso fez ano passado no Allianz Parque. O que parece muita informação, afinal, retratar a infância de Ney, sua vida na aeronáutica, Secos e Molhados, sua carreira solo, sua relação com Cazuza, seu amor com Marco de Maria, além de diversos momentos musicais e performáticos, poderia ser muita coisa, porém, se torna coeso por conta da sabedoria e dedo meticuloso de Esmir Filho, que escolheu um fio condutor perfeito: a relação de Ney Matogrosso com seu pai.
Segundo fala de Ney ao longo da coletiva, ele não reavalia sua vida porque é tarde demais para reavaliar algo, assim, um filme como Homem com H ter como condutor narrativo sua relação com seu pai, a maior figura de autoridade que ele enfrentou em sua vida, é perfeita para manter ela nos trilhos, afinal, todas as relações futuras de Ney Matogrosso, seja como membro da banda Secos e Molhados, seu relacionamento com Cazuza, ou seu grande amor, Marco de Maria, apresentam como gatilho inicial esta relação que ele apresentava com o seu pai, uma questão que gira muito em torno da masculinidade como um todo.
Um dos maiores paralelos de Homem com H é a comparação constante entre animal e gente, desde a performance inicial de O Homem de Neandertal, em paralelo com um jovem Ney Matogrosso explorando a mata, até sons não diegéticos que transporta o público para este universo selvagem, perigoso e de certa forma extremamente masculino, sendo esta somente um dos muitos paralelos imagéticos presentes no filme, podendo ser citado também a cobra como símbolo para a Aids, uma doença que tristemente levou a vida de Marco de Maria.

Cena de Homem com H- Divulgação Paris Filmes
Homem com H não é um filme para Oscar, porém, não deixa de ser um belo drama e uma linda homenagem à potência que é Ney Matogrosso, transportado para a tela com muita graça por um Jesuíta Barbosa que treinou por quase 3 meses, e emagreceu 12kg para alcançar o shape ideal do papel, tudo para transmitir com muito zelo as dores e animações que Ney passou em sua vida, e que com certeza transmitirá ao público algum paralelo com sua própria vida, seja a questão de masculinidade, a liberdade, a rebeldia, ou algum outro fator transgressor de Ney Matogrosso, Homem com H vai da biografia ao musical, encerrando em um drama que merece ser visto na tela grande.
Homem com H encerrará o festival parisiense de cinema brasileiro, e estreará em todo o Brasil no dia 1º de Maio, com sessões já no dia 30 de Abril.
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