“João Sem Deus – A Queda de Abadiânia” é uma série que chega com uma proposta intrigante. É sobre um tema que, infelizmente, continua relevante nos dias de hoje: o abuso de poder e a exploração sexual disfarçados sob o manto da fé e da espiritualidade. A convite da Primeiro Plano e do Canal Brasil, estive na pré-estreia que aconteceu na noite da última segunda-feira (09) no Festival do Rio 2023.
A princípio, sempre é uma experiência diferenciada ver uma série no cinema. E não era qualquer cinema, mas o imponente Odeon, patrimônio da região da Cinelândia, no Rio de Janeiro. Nunca canso daquela arquitetura única e belíssima.
Uma das primeiras coisas que chama a atenção em “João Sem Deus – A Queda de Abadiânia” é o elenco de alto nível. Marco Nanini, Bianca Comparato, Karine Teles e Antonio Saboia, entre outros, entregam atuações potentes e convincentes. É particularmente notável o desempenho de Bianca Comparato no papel de Carmem, uma personagem que promete bastante ao ter que rever sua fé, até então inabalável, e suas crenças.
Aliás, confira abaixo a conversa que tivemos com Marco Nanini, Karine Teles, e a roteirista da série “João Sem Deus – A Queda de Abadiânia”, Patrícia Corso:
A narrativa já começa mesclando imagens reais de pessoas que estiveram em busca de João, e trechos de depoimentos que foram veiculados na televisão. Isso traz um leve tom documental e ajuda a situar o espectador naquela triste realidade. Além disso, alterna de maneira eficiente entre passado e presente. Ou seja, acompanhamos os eventos que levaram duas irmãs bem diferentes até aquela cidade de Goiás, onde João de Deus exercia sua influência. E, ao mesmo tempo, vemos como a vida das personagens mudou completamente de rumo após passarem pela cidade de Abadiânia.
O primeiro episódio não se esconde em subterfúgios e aborda bem os temas da fé cega, do abuso de poder, da manipulação e do silenciamento das vítimas. Há ao menos uma cena perturbadora, mas que foi dirigida com maestria por Marina Person. No geral, é uma história que nos faz refletir sobre como a religião pode ser explorada por figuras carismáticas em busca de ganhos pessoais. E isso acontece em diversas linhas religiosas.
Abordagem feminina
Marco Nanini está assombroso como João. A diretora Marina Person usa bem os detalhes, com closes nos momentos e objetos certos para mostrar o poder de João, como seu relógio de ouro, seus aneis, sua face fria. Ela conduz o episódio de forma sensível e faz toda a diferença na representação da visão feminina que a obra busca entregar – e consegue.
Essa abordagem feminina da série é, indubitavelmente, um dos seus maiores trunfos. Ainda por cima, a presença predominante de mulheres na equipe de produção e a colaboração com a iniciativa de apoio a mulheres vítimas de violência, a Bem Querer Mulher, demonstram um outro nível de comprometimento da série.
Em resumo, o primeiro episódio de “João Sem Deus – A Queda de Abadiânia” promete uma obra bem feita e relevante sobre questões profundas e perturbadoras da nossa sociedade. Estreia dia 13 de outubro, no Canal Brasil.
Ademais, leia:
Preto de Azul | Samba jazz que une Brasil e Cabo Verde está nas plataformas digitais
Arigó e o Espírito do Dr. Fritz | Livro conta a trajetória do médium que curou milhares