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Crítica | Los Hermanos: Musical Pré-Fabricado

Musical traz a sensação de como se você estivesse lendo um livro de contos

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A sensação de assistir o musical é como se você estivesse lendo um livro de contos, todos baseados na mesma situação, ou em um mesmo acontecimento. No caso, a situação, ou o acontecimento é a banda Los Hermanos. Ou as músicas da banda.

No início, parece ser quase uma biografia. O primeiro personagem conta a história da formação da banda da visão de Rodrigo Amarante, um dos guitarristas, vocalistas e compositores da banda. Mas, com o passar da peça, o público percebe que não é bem isso. Ou não é SÓ isso.

Como tudo que Michel Melamed, o diretor, faz, não é um musical tradicional. Nem mesmo é uma peça tradicional, do sentido que o espectador vai sentar na sua cadeira e entender o rumo que a peça vai caminhar. Não. Cada vez que parece que ela está caminhando para um lado, bum, vem um desvio e ela anda para outro totalmente diferente. Mas não pense você que isso deixa a peça confusa ou sem nexo. Muito pelo contrário: é exatamente o fio condutor sem direção certa que deixa tudo muito bem costurado e poético. Exatamente como as músicas de Los Hermanos.

Avisa que é de se entregar

Foram escolhidas 28 músicas dos quatro álbuns de estúdio da banda carioca para compor o musical. Das mais conhecidas (e tocadas até exaustão), como Anna Júlia, até as conhecidas apenas pelos fãs fervorosos, como “A Outra” ou “O pouco que sobrou”. E esses – os fãs – podem até matar a saudade de cantarem, eles mesmos, um pouquinho as músicas que os acompanharam por tantos anos quando Ariane Souza propõe uma espécie de desafio. Da ponta do palco, ela canta frases de diversas canções dos Los Hermanos (me intriga saber se em toda apresentação serão as mesmas) e aguarda a plateia continuar. A plateia, obviamente, continua. Todas as vezes. Não importa a música escolhida e nem se é um trecho do refrão, do início ou do final, a plateia sempre continua. Fãs, não é mesmo.

Mas, aqui, vou fazer uma pausa para falar o único ponto negativo da peça, na opinião dessa que vos fala. Qual seria ele? O local. “Los Hermanos: Um Musical Pré-Fabricado” está em cartaz no Teatro Casa Grande. Teatro esse que fica no Leblon. Para não conhece o Rio de Janeiro ou por aqui chegou há pouco tempo, o Leblon é um bairro rico e caro. Bastante elitista, e conservador. E o público “Los Hermanístico” não é uma galera conservadora. Longe disso. Tudo bem que aqueles jovens cresceram e hoje têm condição de pagar mais de 30 reais em um show, mas o Leblon com certeza não é o bairro que vem à cabeça quando se pensa na banda.

Talvez tenha sido esse o motivo de, justamente no desafio lançado por Ariane, não se ouvir um grande número de vozes em uníssono (como acontecia em todos os shows da banda), e somente alguns gatos pingados aqui e ali – mas que sabiam as letras inteirinhas. Nisso a produção do espetáculo errou e se fosse em um bairro mais “alternativo”, o público condiziria mais com a proposta.

Pra fazer da nossa voz uma só nota

Quem está totalmente condizente à proposta, contudo, é o elenco. Formado por oito atores e sete músicos, pois, sim, os músicos também integram à peça de forma física, esse elenco é um verdadeiro achado de Melamed e da produção. Um elenco que, além de diverso (o que é, sim, muito importante ser dito), é altamente qualificado. Em todas as vertentes propostas por um musical, mesmo sendo ele não convencional: atuação, canto, dança. E no caso dos músicos, claro, proficiência em seus instrumentos.

É visível a entrega de cada um dos atores (e músicos, mas vocês entenderam, não preciso ficar repetindo aqui, né?) para cada um dos personagens que fazem ao longo da peça. Não importa se você está sendo perto do palco ou quase na ultima fileira do balcão (onde a repórter aqui estava), é possível sentir na pele a emoção que eles despejam em seus movimentos, falas e, lógico, no seu cantar. E que cantar, senhoras e senhores! Aquelas vozes em cima do palco fazem qualquer um sair arrepiado do teatro.

É difícil, também, não sair arrebatado pelas cenas construídas por Michel Melamed. Cada uma delas, que, no geral, tentam dar um sentido, verdadeiro ou inventado, às letras das músicas dos Los Hermanos, parece ter sido feita pra não só encantar o espectador no sentido musical (cada arranjo lindo!), mas, também, e principalmente, na evocação de sentidos. Sejam eles físicos (um arrepio, uma boca aberta, uma lágrima que escapa), sejam eles mentais (é um musical que também faz pensar e sair se questionando sobre a vida). O espectador passa por várias emoções durante os 130 minutos de peça: da gargalhada ao choro solto. Os atores preenchem o palco de forma espetacular (louros, também, da coreógrafa e preparadora de corpo, Daniela Visco).

Prepara uma avenida

Não vou me prolongar muito nos aspectos mais técnicos do musical, como cenografia, figurino, iluminação, som, porque sei que são coisas muito específicas e que nem todo mundo se interessa tanto assim. Mas não posso deixar de mencionar que tudo se encaixa perfeitamente para formar a moldura mais clara e simples e linda possível. Tudo é o que se vê, e tudo que se vê (e se ouve) está em seu devido lugar, mesmo quando o lugar é inesperado – e a peça inteira é formada de lugares inesperados (ainda bem).

O cenário, composto por 4 cubos que se movem, lembram muito a capa do DVD “Los Hermanos no Cine Íris”. E a escolha de, no início, cada música ser decomposta aos poucos em cada um dos cubos foi sensacional. Como uma história mesmo, vamos entendo o enredo em cada palavra – ou nesse caso, imagem – e a escolha da divisão dos cubos foi muito acertada. A iluminação brilhou – perdão pelo trocadilho infame -, principalmente no segundo ato. Não vou adiantar o que acontece, pra não dar um spoiler. Mas posso dizer que ficou difícil não chegar às lágrimas, e a iluminação teve grande papel nisso. Mas não foi só a iluminação, foi cada aspecto dessa obra de arte que se discorre em cima do palco.

Pra resumir e não deixar essa resenha, crítica, resumo, mais longo do que já está, é uma peça completa, que até os que não são fãs de musical vão gostar. Ou os que odeiam Los Hermanos. Ok, talvez não esses.

Enfim, quando tudo tiver fim

Quem se animou com o musical, fique ligado! A peça tem curta temporada no Rio de Janeiro e fica em cartaz até o dia 07 de maio. A partir de 13 de maio entrará em cartaz no Teatro Liberdade (R. São Joaquim, 129), em São Paulo. Ou seja, galera de São Paulo, vocês também terão chance de assistir esse musical espetacular!

Serviço

Los Hermanos: Musical Pré-Fabricado

Apresentações: Quinta a Sábado, às 20h | Domingo, às 18h. Até dia 07 de Maio.

Ingressos: Plateia VIP R$180 | Plateia – R$1600 | Balcão R$75.

Local: Teatro Casa Grande.

Endereço: Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – Loja A (Shopping Leblon).

Duração: 130 minutos.

Classificação: 14 anos

Dramaturgia e Direção Artística: Michel Melamed.

Direção Musical: Felipe Pacheco Ventura e Pedro Coelho.

Elenco: Ariane Souza, Estrela Branco, Felipe Adetokunbo, Leandro Melo, Matheus Macena, Mattilla, Paula Fagundes e Yasmin Gomlevsky.

Músicos: Bianca Santos, Estevan Barbosa, Evelyne Garcia, Felipe Pacheco Ventura, Marcelo Cebukin, Pedro Coelho e Yuri Villar.

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Escritora, autora dos livros Queria tanto, Coisas não ditas e O semitom das coisas, amante de cinema e de gatos (cachorros também, e também ratos, e todos os animais, na verdade), viciada em café.

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Cinema

EO – O mundo visto pelos olhos de um burro

Foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023

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Estreia neste dia 01/06, “EO” do diretor polonês Jerzy Skolimowski. O filme acompanha a incrível jornada de um burro, após ele ser tomado de um circo por autoridades locais em uma campanha contra maus tratos a animais.

Foi indicado ao Oscar de melhor filme internacional de 2023. “EO” é uma homenagem ao filme “A Grande Testemunha” (1966), de Robert Bresson. Segundo Jerzy, esse filme também centrado em um burro, foi o único que o fez chorar.

Acompanhamos a jornada de EO por meio de encontros e desencontros, enquanto ele observa um mundo totalmente novo. Sua visão inocente e passiva do mundo atua como a visão do próprio espectador. Um olhar sobre um mundo contemporâneo.

EO. (Imagem de divulgação).

A jornada de EO

O burro é um animal que costuma aparecer em algumas fábulas. E nesta fábula moderna, onde nem tudo é o que parece, embarcamos com EO em uma jornada perigosa com muitas descobertas e uma alternância entre momentos de angústia e outros sublimes.

O filme busca representar a percepção e a sensibilidade de EO em relação ao que ele vê e o que interage. A fotografia, a edição e a trilha musical funcionam nesse sentido de uma forma tão harmoniosa que dificilmente um espectador não se sentirá conectado ao simpático burrinho.

Kasandra (Sandra Drzymalska) e EO. (Imagem de divulgação).

A interpretação de EO

xistem alguns filmes estrelados por animais. Porém animais realmente interpretam ou simplesmente reagem a estímulos? No início do filme, EO é um artista, pois participa de um espetáculo circense-teatral com Magda. Ironicamente, após a ser libertado ele passa a ser um simples burro de carga.

Muitas vezes, EO não reage ao que acontece à sua volta no filme. Porém quando isso ocorre, é de forma surpreendente. Segundo o diretor, algumas cenas que pareciam ser complicadas sucediam de forma tranquila. Enquanto, outras que pareciam mais simples foram mais trabalhosas. 

EO. (Imagem de divulgação).

Algumas cenas também foram adaptadas de acordo com as reações e comportamento do burro. Aliás, dos burros, pois EO foi interpretado por seis burros: Tako, Ola, Marietta, Ettore, Rocco e Mela.

O poder e o mistério da natureza

Eventualmente, durante a jornada de EO vemos muitos cenários belos e solitários. Ou seja, o filme mobiliza o espectador por meio da articulação entre as locações, os sons e as cores. A natureza é exuberante. Essa exuberância é mostrada como um mundo, o qual nós humanos não paramos para prestar atenção. Um mundo que estamos despreparados para lidar ou que encaramos com descaso.

EO. (Imagem de divulgação).

Enfim, outro aspecto abordado é a comunicação. Afinal, nós, humanos, temos diversas barreiras de idiomas, presentes nos personagens dos filmes. Desse modo, essa barreira que também nos impede de entender os animais, parece inexistente para EO, inclusive quando ele se depara com outras espécies. Nesse sentido, o filme também funciona como uma defesa da causa animal.

Onde assistir EO

Em suma, o filme possui um ritmo agradável com uma trama cativante. Portanto, vale a pena conferir na tela grande!

Por último, consulte a rede de cinemas de sua cidade para encontrar sessões disponíveis.

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