Conecte-se conosco

Cinema

Crítica | ‘Memoria’ exercita a fuga da delusão e a atenção plena

Publicado

em

crítica memoria

Memoria tem poder. Esse filme é extremamente contemplativo e meditativo. Fornece uma viagem para um mundo de silêncio e som. Ao sair do cinema, parecia realmente que eu havia meditado (ou tentado) pelo tempo da duração do longa, duas horas e dezesseis minutos.

Ainda é possível perceber outras mensagens, como o não uso de remédios para dormir, e outras fugas, as quais podem afetar a empatia e o poder de absorver e perceber o mundo.

Essa película com uma protagonista que cria orquídeas e vai para a Colômbia é poesia permeada por poesia. O diretor tem um tempo próprio, lento, diferente do ocidental. Na semana anterior, havia visto Elvis, de Baz Luhrman, e impressiona a oposição entre os dois. Enquanto Elvis procura iludir o espectador e refazer a imagem desse cantor com objetivos puramente capitalistas, Memoria é medicina mental para ter alguns momentos fora da ilusão de Maya. Na mitologia indiana, “Maya” é o universo ilusório em que vivemos, ou seja, a vida como ela é. Importante ressaltar que a cultura tailandesa tem a filosofia budista como base.

Esse filme fala das profundezas da delusão, no qual, segundo Buda e outros mestres, estamos vivendo. Roteiro e direção são do tailandês Apichatpong Weerasethakul.

Sono de Maya

Sim, o filme pode causar sono. Eu mesmo senti bastante e bati cabeça em diversos instantes. Lutei contra a vontade de dormir. Mas é isso que o filme pede, um estado de atenção plena. Meditação. Lembrei dos livros de Thich Naht Hahn um tempo depois da exibição, um monge vietnamita que fornece muitos ensinamentos em cima de como meditar e viver.

Memoria às vezes parece um sonho e é místico e sobrenatural em seu subtexto. Saí levemente desnorteado e aéreo da exibição, buscando digerir o que havia presenciado. Pensei em perguntar para algumas das poucas pessoas presentes na cabine o que tinham achado, mas não o fiz. Foi bom não ter feito. Fiquei um tempo na entrada do cinema, olhando para a rua, e, impressionantemente, com a audição muito mais aguçada. Ouvia melhor cada chiado, o som do ônibus vazio, as vozes das pessoas, os andares e andantes. Em verdade, a forma como o diretor usa a ambientação sonora e o poder da sala de cinema, protegendo do mundo exterior, possibilitaram essas sensações em mim.

Apichatpong Weerasethakul faz um cinema para isso: causar sensações. Senti perturbação, sono, impaciência. Cheguei a desejar que o filme terminasse logo, mas, após o término, queria ver de novo. De certa forma, se durante a exibição, quase dormi e há muitas metáforas que requerem muito foco, posteriormente, vi genialidade ali. A forma como o diretor deixa a câmera parada enquanto as cena se desenrolam.

Aliás, acredito que aqueles que possuem algum conhecimento ou se identificam com filosofias budistas podem apreciar e captar melhor algumas das mensagens do filme.

Por fim, Memoria estreia nos cinemas a partir de 21 de julho, e, em seguida, com exclusividade na MUBI a partir de 5 de agosto.

Enfim, se liga no trailer:

Ademais, leia mais

Crítica | ‘Ela e Eu’ é metáfora sensível da mudança incontrolável

Crítica | ‘1982’ é uma ode à inocência em tempos difíceis

Eike – Tudo ou Nada | Assista ao trailer do filme com Nelson Freitas

 

Anúncio
1 Comentário

Cinema

‘Aumenta que é rock ‘n roll’ traz nostalgia gostosa | Crítica

Longa protagonizado por Johnny Massaro e George Sauma estreia em 25 de abril.

Publicado

em

Uns anos atrás, mais especificamente em 2019, o Festival do Rio (e outros festivais do Brasil) trazia em sua programação um documentário sobre a Rádio Fluminense. “A Maldita”, de Tetê Mattos, que levava o título da alcunha pela qual a rádio era conhecida, narrava sua história e, além disso, a influência que teve em seus ouvintes. Para muitos, principalmente os que não viveram a época, foi o primeiro contato com a rádio rock fluminense.

Anos depois, no próximo 25 de abril, quinta-feira, estreia “Aumenta que é rock ‘n roll”, longa de Tomás Portella. O longa é baseado no livro “A onda maldita: Como nasceu a Rádio Fluminense”, escrito por Luiz Antônio Mello, criador da rádio. Protagonizado por Johnny Massaro na pele de Luiz Antônio, o filme foca em toda a trajetória do jornalista desde sua primeira transmissão na rádio do colégio, até o primeiro contato com a Rádio Fluminense (por causa de seu amigo e cocriador Samuca) e a luta pra fazer da Fluminense a rádio mais rock ‘n roll do Rio de Janeiro.

Muito rock

Pra começo de conversa, é preciso dizer que o filme é uma bela homenagem ao gênero rock. Além de uma trilha sonora com nomes de peso, como AC/DC, Rita Lee, Blitz e Paralamas do Sucesso, o longa consegue mostrar ao espectador do que o rock é verdadeiramente feito: de muita ousadia e questionamentos. Em uma época em que o gênero vem sendo esquecido, principalmente pelas gerações mais jovens, Tomás Portella consegue relembrar a todos que o rock é sinônimo de controversão e revolução, já que foi criado para questionar os ideais vigentes da época.

Isso fica muito claro nos personagens que compõem a rádio e que a tocam pra frente. A ideologia de fazer diferente fica tão nítida na tela que eu desafio o espectador a não sair do filme com vontade de revolucionar o mundo ao seu redor.

Roteiro

Isso se dá, obviamente, por um texto muito bem escrito e uma trama bem desenvolvida e bem amarrada. O que significa, portanto, que L.G. Bayão fez um ótimo trabalho na adaptação do livro.

Mas, além disso, as atuações dos atores em cena tambémajudam muito. Apesar de a maioria dos atores nem sequer ter vivido a época (no máximo, eram criancinhas nos anos 80), eles personificam a vontade de transformar da época. Principalmente Flora Diegues, que tem uma atuação tão natural que dá até pra pensar que ela pegou uma máquina do tempo lá em 1982 e saltou na época em que o filme foi gravado. Infelizmente, a atriz faleceu em 2019 e uma das dedicatórias do longa é para ela. Merecidissimo, porque Flora realmente se destaca entre os integrantes da rádio rock.

Sintonia fina

George Sauma interpreta o jornalista Samuca, amigo de colégio de Luiz Antonio que cria a rádio com o colega. A escolha dos dois protagonistas não poderia ser melhor, já que Johnny Massaro e George têm uma química que salta da tela. O jogo de dupla cheio de piadas, típico dos filmes de comédia dos anos 1980, funciona muito bem entre os dois. Os dois atores têm um timing ótimo para comédia e, ao mesmo tempo, conseguem emocionar quando o texto cai para o drama. Tanto George quanto Johnny brilham.

Também brilham a cenografia e o figurino do filme. Cláudio Amaral Peixoto, diretor de arte, e Ana Avelar, figurinista, retrataram tão bem a época que parece que estamos mesmo de volta aos anos 1980. A atenção aos detalhes faz o espectador, principalmente o que viveu tudo aquilo, se sentir dentro da rádio rock.

Nostálgico

Para resumir, é um filme redondinho e gostoso de assistir, com atuações incríveis e uma trilha sonora de arrasar. Duvido sair do cinema sem vontade de ouvir uma musiquinha de rock que seja!

Fique, por fim, com o trailer de “Aumenta que é rock ‘n roll”:

Ficha Técnica

AUMENTA QUE É ROCK ‘N ROLL

Brasil | 2023 | Comédia

Direção: Tomás Portella

Roteiro: L.G. Bayão

Elenco: Johnny Massaro, George Sauma, João Vitor Silva, Marina Provenzzano, Orã Figueiredo.

Produção: Luz Mágica

Coprodução: Globo Filmes e Mistika

Distribuição: H2O Films.

POR FIM, LEIA MAIS:

‘Evidências do amor’ | Crítica

‘Morte, vida e sorte’ é homenagem ao artista independente | Crítica

‘Saudosa Maloca’ leva personagens de Adoniran Barbosa à tela de cinema | Crítica

Continue lendo
Anúncio
Anúncio

Cultura

Crítica

Séries

Literatura

Música

Anúncio

Tendências

Descubra mais sobre Vivente Andante

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading