Um filme francês de 1980, “Meu Tio da América”, com um jovem Gerard Depardieu, deveria ter em sua sinopse, como se fosse uma bula, o seguinte aviso: “pode causar angústia”. Pelo menos, naquela noite chuvosa de outono, onde ao mesmo tempo em que escutava os grossos pingos explodindo, também ouvia o som das ondas do mar, resolvi assistir a esse longa-metragem no 47º Festival Sesc Melhores Filmes. A duração era de mais de duas horas, e a impressão é que fosse ainda maior. Não por ser ruim, mas por ser rico em simbologias e informações.
Histórias de três personagens que acabam por ser cruzar, laureadas pelos pensamentos filosóficos e o conhecimento do Professor Henri Laborit que fala sobre a personalidade humana – e suas angústias. Até onde o estresse pode levar o ser humano? Somos cobaias de um experimento alheio? Estaria Deus brincando conosco? Outro dia, ouvi um padre dizendo que o propósito da vida é servir a Deus. E Deus é amor? Para uns Deus pode ser punição, e o filme mostra como a punição é estressante.
Interessante pois, após ver o filme, acabei por meditar. Foram mais de 30 minutos meditando. A angústia que sentia antes desapareceu e me restou uma leveza, uma paz, uma tranquilidade, um bem estar. A angústia deu lugar à confiança, deu lugar ao amor, deu lugar a Deus.
Planeta Dourado
Ainda por cima, abri uma cerveja – sem álcool – e coloquei numa bela taça. O dourado prevaleceu e desceu num gelado refrescante como se manjar dos deuses fosse. Enquanto escrevi, observava essa cor, divina, a pequeninas bolhas, o suor do copo em sua forma arredondada. Mais bolhas subiam e estouravam, enquanto digitava, a mesa balançava, e o líquido também. Cada vez que teclava, reverberava no ínfimo planeta que imaginava como sendo a taça cheia.
Dei outro gole, não está mais tão gelada e uma espuminha parecia o mapa do Brasil. Agora aqui é como se não estivesse nesse país em crise, mas sim, num mundo paralelo, onde a paz reina. Saí da meditação, porém ela não saiu de mim. Meditar é estar presente.
“Meu Tio na América” é um ótimo filme, uma grande crônica sobre estresse, seres humanos, uma homenagem ao cinema francês e amplifica a necessidade de parar, respirar, se entender como ser e louvar a Sétima Arte.