Filmes sobre escritores me fascinam. Vi “Mulher Oceano”, um longa-metragem de Djin Sganzerla, escutando o barulho do mar, essa orquestra sinfônica divina. Aqui a artista viaja pelo Japão em busca de inspiração. Um país que também exerce fascínio sobre mim, afinal, cresci vendo séries e animações japonesas, além de ler mangás.
A outra personagem da película é uma nadadora. Mais conexões. Cresci fazendo natação e cheguei a participar de muitas competições quando era criança. No caso dela, nada no mar. Nadar é bom demais, flanar pelas águas transformadoras, entre limpeza, esforço e relaxamento. Compreendi a ligação das protagonistas com aquelas águas. Meu nascimento e criação foram no Rio de Janeiro. Jamais morei de frente para o mar, mas a diversão de muitos fins de semana e férias era exatamente ir para a praia. Bastava pegar o transporte público. Voltava com as pernas cheias de areia no ônibus. Lembro até hoje quando aprendi a pegar jacaré, o famoso surfe de peito, na praia da Barra da Tijuca sob as instruções do amigo de um amigo. Que sensação maravilhosa é descer junto com a onda.
Mergulho
Assim como é apaixonante viajar, como faz a escritora pela terra do sol nascente, pescando referências e personagens. “Publicar é como morrer, escrever é como viver”, diz um escritor japonês no filme. Fiquei pensando nessa frase. A publicação é como um fim. Enquanto escrever permite sempre mudanças, um ato contínuo. É uma necessidade muitas vezes dolorosa, conseguir transformar as divagações da mente em palavras. Essa á arte do escritor, do poeta. Fazer tal coisa com eficiência que vai além da técnica, que seja como um mergulho em novos mundos.
Por fim, não consegui encontrar conclusões, nem sobre o filme, nem sobre o que é ser escritor. Mas fiquei satisfeito com essa passagem que me ocorreu:
O deslumbrante mar, com cara de infinito, jeito de abismo, cheiro de poesia. A mulher oceano é meu amor, é sereia encantadora de força destrutiva e consciência construtiva.