Conceição e Orlando Senna, cineastas provenientes da Bahia, unidos em sagrado matrimonio por Jorge Amado, amigos de Glauber Rocha e participantes de um momento histórico no cinema brasileiro do último século. Além disso, passaram anos em Cuba apresentando um programa cultural em portunhol. Esse pequeno resumo já mostra uma certa excentricidade especial do powercouple que se mostrou fonte do documentário O Amor Dentro da Câmera.
Em pouco mais de uma hora, as diretoras Jamille Fortunato e Lara Beck Belov mostram uma mistura do dia a dia e do acervo dos artistas Orlando e Conceição. Ainda que ambos sejam relativamente desconhecidos fora do círculo cinéfilo, ambos são partes essenciais do cinema brasileiro da segunda metade do século XX.
Em termos da montagem, existe uma certa lentidão meditativa nas cenas mais íntimas do casal. Por mais interessantes que sejam, o marasmo da intimidade acaba por ser mais cansativo do que reflexivo. Ambos estão num estado de relaxamento tão profundo que as cenas de interação entre os pombinhos parecem naturais demais, como um extremamente bem atuado. Os silêncios são pontuados com pequenas frases bobas e máximas meio sem nexo que provam que mesmo durante uma dentre milhares de refeições tomadas a dois, os Senna não perdem as suas individualidades e manias, nem a paciência para com o seu próximo.
Devagar
Entretanto, se o documentário parece lento é porque ambos tem uma vida mais lenta, seja pela sua idade relativamente avançada, seja por terem uma vida de aposentados que não requer uma corrida desesperada para resolver afazeres. O timing de O Amor Dentro da Câmera é preciso justamente por acompanhar as suas estrelas de órbitas vagarosas; não se pode apressar uma vida, e na sua aparente lentidão que se observa melhor o amor entre Conceição e Orlando.
O Amor Dentro da Câmera parece ser o fruto da admiração e carinho de Fortunato e Belov. Aliás, por mais que seja um filme à quatro mãos, a assinatura é apenas uma. O escopo do filme é bem simples, apresentar o casal Senna e como o seu relacionamento duradouro está entrelaçado no cinema latino-americano. Só isso já basta para criar uma aura singular que chama a atenção da audiência.
Afinal, O Amor Dentro da Câmera já se paga apenas com as cenas domésticas do duo retratado; nem se fala o incrível acervo cinematográfico deles. É difícil não recomendar um filme tão genuíno e pacífico num momento em que tanto se precisa de férias da vida.
Onde que podemos assistir o filme?
Olá, Lívia! O crítico Felipe Novoa viu na 16a CineOP 🙂