O Paraíso, Provavelmente (It Must Be Heaven) é um longa do diretor e ator palestino Elia Suleiman. É (sobre) comédia humana. O cineasta é um sagaz observador e fez uma obra focada em… observação. Foi o primeiro filme que pude ver no cinema desde o início do isolamento. Que saudade da tela grande, da sala escura. Foi um ótimo presente de retorno. Elia sabe usar muito bem a câmera e me fez viajar junto com ele. Senti sua pequenez como sendo minha perante o mar infinito na beira do horizonte, ou em frente ao Museu do Louvre.
Contudo, em verdade, o foco parece ser em alguns pequenos detalhes da humanidade. Em alguns momentos, lembrei de Woody Allen, apesar de não ter nada a ver. Os estilos são completamente diferentes, mas ambos se encontram na esquina da comicidade. O filme de Elia Suleiman está bem longe de ter aquela quantidade de diálogos de Woody. Muito pelo contrário, O Paraíso, Provavelmente fala através das imagens. São pouquíssimos diálogos. O humor salta através das diversas esquetes que formam a obra. Indubitavelmente, as faces espantadas do protagonista e sua elegante singeleza são um belo show sutil.
Sozinho
Um solitário cineasta olhando o mundo, e, por mais que ele viaje, não percebe grandes novidades, porém sim as mesmas contradições. Uma das coisas que chama bastante atenção é a importância do som. Cada passo dado, cada palma, o barulho dos aviões. As cenas são poéticas e brincam dentro da solidão de um café.
A metalinguagem está presente. O protagonista está procurando fazer um filme e os oferece nos lugares que visita, Paris e Nova Iorque. Porém, seu roteiro parece não ser exótico como deveria. O filme de um palestino deveria ter mais conflito, é o que dizem para ele. Enquanto isso, diversas imagens trazem coreografias, cenas belíssimas de uma busca que encontra a fina ironia. O desfile na chegada em Paris é um show de extravagância pelo olhar daquele senhor. É um dos poucos momentos que os sons dão lugar a uma música: “I Put a Spell On You”. Um videoclipe de uma vida ilusória.
Às vezes parece até desenho animado pela forma que certas sequências acontecem. Interessante ver a visão que o cineasta tem sobre a polícia, sempre igual onde quer que ele esteja. Além disso, temos a participação de Gael García Bernal, rápido e eficiente no recado. O Paraíso, Provavelmente está nos olhos de quem vê. Eu vejo genialidade e sorrisos.