Os 7 de Chicago (The Trial of the Chicago 7). Diversas cenas desse filme foram fundo no meu peito. Em especial uma com Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II). O filme é sobre justiça. Ou melhor, sobre injustiça. Cartas marcadas. Mas também sobre estratégias. É triste. Você vai rir de muitas das piadas, mas não sairá feliz. Faz refletir. Tem como base os protestos que ocorreram contra a guerra do Vietnã que interromperam o congresso do partido Democrata em 1968. Aconteceram confrontos entre a polícia e os participantes e dezesseis pessoas foram indiciadas pelo ato.
A princípio, os cortes iniciais entre as cenas são ótimos. São os raccords, brincando com a continuidade, onde a fala de um personagem acontece, outro termina a frase. Assim conhecemos alguns dos personagens principais e suas motivações. O uso do raccord dessa forma não é algo novo, mas fazia algum tempo que eu não via ter essa utilização com eficiência e objetividade para facilitar a apresentação do que virá a seguir. Ficou engraçado em diversos pontos e extremamente caracterizante. Ou seja, logo de início já conhecemos cada um dos que irão enfrentar as batalhas vindouras e como seus atos posteriores – e anteriores – ao acontecimento que gera o julgamento são relevantes na construção dos personagens e no andamento da película.
Justice
Tecnicamente o filme é redondo com cinematografia competente. A direção e o roteiro são de Aaron Sorkine e carregam o drama com desenvoltura, sem ser piegas, com a capacidade de nos indignar. É um bom filme de tribunal. Em seguida, vem todo o elenco de grandes atores como Eddie Redmayne (Oscar por “A Teoria de Tudo”) que vive Tom Hayden, figura central, e o carismático Sacha Baron Cohen como Abbi Hoffman brilha sempre que aparece. Frank Lagella como o juiz Julius Hoffman não deixa a desejar, com cinismo e autoritarismo fluindo pelos poros.
A participação de Michael Keaton em certo momento traz… hum, eu ia dizer um peso, mas não, mesmo que eu fosse usar no bom sentido, não é isso, não encaixa. A rápida participação magistral de Michael Keaton eleva a qualidade, pois ele chega fornecendo toda a vitalidade e a coragem necessária no que parece ser a hora da virada. O diretor coloca uma cena tão simbólica quando Ramsey Clark (Keaton) faz seu juramento de dizer somente a verdade. É uma das mais obviamente simbólicas, entre tantas outras mais sutis.
São duas horas de cinema de boa qualidade falando sobre o mundo em que vivemos, do sistema que nos rodeia, de ideais, sonhos – e pesadelos.