Para quem não conhece a produção cinematográfica do continente africano, O Enredo de Aristóteles é um ótimo convite para ver o quão diversa e rica é a produção do continente. O filme de Jean-Pierre Bekolo é uma obra de ficção que, para um olhar acostumado com produções ocidentais – principalmente os blockbusters americanos – pode parecer num primeiro momento boba e, depois, confusa. Porém, está longe de ser uma coisa ou outra.
Quem se baseia pela sinopse pode ter também essa impressão. Mas reduzir o filme a uma tentativa do personagem principal (um cineasta engajado) em valorizar a produção cinematográfica africana contra a influência dos filmes americanos de ação, vai se surpreender com a riqueza do roteiro. É um filme inteligente, que parte de uma metáfora – presente durante o filme todo -, metalinguagens, analogias e reflexões sobre neocolonialismo e a indústria cinematográfica mundial (do que ela vende e do que ela quer vender genericamente como “cinema africano”).
Filme inteligente
Aliás, as ótimas tiradas humorísticas de O Enredo de Aristóteles estão nas cenas em que os personagens comparam as produções hollywoodianas com as africanas. Mas, atenção: é um filme bastante inteligente sem ser soberbo ou presunçoso. É leve e, depois do “baque” de estar diante de um filme que não repete a fórmula ocidental de cinema, nem a visão estereotipada que temos sobre a África e sua produção cultural, vai divertir e, de quebra, vai fazer você se sentir mais inteligente.
Até que você lembra da metáfora com Aristóteles. O mantra aristotélico repetido durante o filme todo, “um bom enredo precisa criar compaixão e medo em quem o acompanha”. Não se preocupe. Talvez você chegue ao final sem entender essa insistência com Aristóteles. E, mesmo que você acredite que tenha entendido, não se engane, você não entendeu por completo. Contudo, podemos dizer que isso é um belo convite para ver, em seguida, a ótima entrevista do Bekolo à organização da mostra. Ela ajuda a encaixar as peças que faltam para entendermos algumas nuances do filme. A entrevista acaba aumentado a vontade de vê-lo novamente, bem como conhecer outros trabalhos do cineasta camaronês. Não há cartão melhor de visitas para a obra de Bekolo.
*Flavio Braga é professor de História, vocalista e baixista da banda Outros Caras e escritor. Escreve para as páginas Um Blog de Nada e Rolé Literário, que estão cobrindo a Mostra de Cinemas Africanos em parceria com o Vivente Andante.
Para ver os filmes e maiores informações, visite o site: mostradecinemasafricanos.com