No mesmo dia vi dois filmes que traçam retratos históricos extremamente importantes. De um lado, um resistente cultural, um sobrevivente de tempos ainda mais preconceituosos que os atuais: Grande Otelo. Por outro lado, uma série nova, quente, puro fogo nos racistas: “Resistência Negra”, da Globoplay.
Tudo aconteceu na última sexta-feira (13). A princípio, no fim da tarde, ocorreu a estreia mundial de “Othelo, o Grande”, no Estação Net Gávea. O longa-metragem é mais drama do que comédia. Porque, no geral, mostra piadas que na época até poderiam ser consideradas engraçadas, nos contextos de racismo pesado, mas, hoje, são aberrações. Por essas e outras, o filme é um registro eficiente, ainda mais por fugir da fórmula comum de documentários biográficos com depoimentos de familiares, amigos, e etc. Aqui, o próprio Sebastião Prata, o Grande Otelo, conta sua vida a partir de entrevistas e depoimentos que ele mesmo concedeu.
“Otelo tem esse lugar de ser para mim, muito um griô, um mais velho, um ancestral, negro, sábio, que viveu a vida dele em outro tempo, muito antes do nosso e acho que conseguiu da maneira dele, que é outra maneira, diferente da nossa, do nosso tempo, contar a história que ele precisou para se inserir dentro do mercado, da indústrial cultural do Brasil naquela época.”, me falou o diretor Lucas Rossi.
Foi um bom trabalho de pesquisa e edição feito pela equipe, e Lucas Rossi entrega uma boa condução de tudo isso. Sebastião sofreu grandes tragédias na vida, muito racismo, e sobreviveu, fez o que pôde num contexto pesado e marcou sua imortalidade.
A Resistência Negra da Globoplay
Em seguida, “Resistência Negra” no Cine Odeon, trouxe o início de uma sequência de grandes aulas de história sobre os movimentos negros do país. A convite da Globoplay, pude ver o primeiro episódio da série documental “Resistência Negra” durante o Festival do Rio 2023, que traça a história da luta negra no Brasil com foco na resistência política.
“A chance de trazer esse movimento para que seja conhecido do grande público e chegue nas pessoas mais simples, porque a minha ideia é essa, que chegue nas pessoas mais simples que precisam desses direitos, entender que existe um ator central no Brasil, essa luta por direitos no nosso país. É mais um passo, e um passo qualificado.”, me disse o Professor Doutor Ivanir dos Santos, idealizador da obra.
O episódio aprofundou nas bases históricas que levaram ao aquilombamento e apresentou muitas falas de Erica Malunguinho, a primeira mulher transgênero da Assembleia Legislativa de São Paulo. Negra e orgulhosa de suas raízes afroindígenas, ela tem diversas falas contundentes, enquanto traça paralelos com sua própria história de vida.
A série valoriza com firmeza, uma produção caprichada e linda direção de arte a ancestralidade e personagens relevantes na história dos movimentos negros no Brasil.
Aliás, saiba mais no vídeo abaixo com Larissa Luz.
O episódio me fez pensar em outros grandes trabalhos afrocentrados que vi nos últimos tempos, como os filmes “Rio, Negro” e “Corpos Invisíveis”.
Ademais, veja mais:
‘Corpos Invisíveis’ é uma obra que transcende a tela e penetra na alma