Pele de Vidro, documentário de Denise Zmekhol, é uma obra sensível, que apresenta não só a arquitetura como arte e estética, mas também como esta pode refletir a história de onde está inserida.
O filme fala do edifício projetado pelo arquiteto Roger ZMekhol, o ‘Pele de Vidro’, construído no centro do maior estado econômico do país à época em que justamente a economia e o crescimento social do Brasil ganhavam sonho – e até certeza – de um grande futuro.
Contudo, assim como esse ideal de um “pra frente, Brasil” vendido por um país imerso em uma ditadura militar, o prédio Paes de Almeida – sede da Companhia Comercial de Vidros do Brasil – também teve uma derrocada.
A lindíssima obra levantada em São Paulo, toda em vidro importado e com uma icônica escadaria, passou ao poder do governo para pagar dívidas da empresa que a ocupava, estando em uma situação paradoxal: o edifício, que representaria transparência e evolução do país, passou a ser sede da Polícia Federal, no fechar das portas do regime militar, cercado de obscurantismo e violência.
Pele de Vidro viraria laboratório cultural
Em 2008, já há cinco anos desocupado, mais uma reviravolta: a possibilidade do Pele de Vidro ser transformado em um grande laboratório cultural, onde haveria espaço para diversas linguagens artísticas. Contudo, devido à crise economia mundial daquele ano, mais uma vez, o gigante arquitetônico ficou com um futuro incerto.
Pouco tempo depois, o Pele de Vidro encontra mais um personagem histórico: a crise de moradia do país.
Com milhões de pessoas sem teto, um dos diversos movimentos de moradia ocupou o prédio idealizado pelo pai de Denise Zmekhol. A cineasta, aliás, faz de toda a trajetória da obra de seu pai um objeto de reflexão não só histórico-social, mas também de seus próprios caminhos pessoais, individuais e como família.
Aliás, veja o trailer de Pele de Vidro:
O documentário ainda sofre mais uma mudança de percurso quando, durante as filmagens, o Pele de Vidro pega fogo, deixando pessoas mortas e desaparecidas, desabando e levantando uma “caça” aos movimentos dos sem-teto na cidade de São Paulo.
Desta forma, Pele de Vidro acaba se tornando uma representação de um microcosmo do Brasil, em que se idealizou algo que não foi, de fato, colocado em prática do ponto de vista tanto social como econômico. A obra acaba por se tornar uma grande (e triste) ironia do destino…ou, como a própria cineasta fala: o ‘Pele de Vidro’ é um espelho do Brasil.
Premiado como Melhor Documentário de Longa-Metragem nos festivais internacionais de arquitetura de Barcelona e Milão; Prêmio de Audiência no Mill Valley Film Festival, EUA; e Menção Honrosa no Ischia International Film Festival, na Itália, o documentário Pele de Vidro estreia no Brasil no Festival do Rio.
Sessões: Dia 11/10 – Estação Net Gávea 3 – 20h45; 12/10 – Estação Net Rio 5 – 19h ; 13/10 – Estação Net Rio 3 – 14h
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