Faz menos de dois anos que Rita Lee faleceu, no dia 8 de maio de 2023. Cantora, revolucionária, ativista, fundadora de Os Mutantes, atriz, compositora e, acima de tudo, mulher. Seu legado se manteve tão vivo que, em 2024, ganhou até mesmo um dia para chamar de seu: 22 de maio.
Escolhido como filme de abertura, em SP, da edição de 2025 do Festival de documentário “É Tudo Verdade”, Ritas inicia com um vídeo amador gravado pela própria deusa do rock no qual ela explica que sua data de aniversário muda para o dia 22 de maio, porém, ela se mantém capricorniana. Este tom humorístico e de leveza, que Rita Lee fala no vídeo, é o tom presente ao longo de todo a produção.
Começando com uma abertura psicodélica que nos remete aos anos 60, Ritas destaca os anos fundamentais de Rita Lee, desde sua infância por meio de fotos de arquivo e comentários mordazes da própria documentada, até depois da criação de Os Mutantes. A produção opta por explorar diversas imagens da cantora que são vistas ao longo da produção, não existe somente uma Rita Lee, existem várias em diferentes situações, a Rita cantora, a Rita ativista, a Rita que existe em cada mulher que foi inspirada pela sua força e determinação, por conta disso, o documentário propriamente recebe o nome de Ritas.

Rita Lee em cena de “Ritas”- Divulgação É Tudo Verdade
Semelhante à Viva Marília (Zelito Viana, 2024), Ritas também se utiliza em peso de entrevistas, imagens de arquivo e a narração da própria poeta, musa, escritora e deusa que foi Rita Lee.
Ritas é mais orgânico do que a produção de Viana, sendo um documentário muito mais vivo e experimental, principalmente em sua estética, uma marca clássica de Rita, porém, por conta de escolhas temáticas semelhantes, ambos os filmes acabam cometendo os mesmos erros.
A narração da cantora passa uma visão muito boa sobre a pessoa maravilhosa que ela foi, porém, em um documentário, é sempre bom apresentarmos diferentes pontos de vista da mesma situação, com o risco de a produção se tornar tendenciosa caso o contrário, em um filme chamado Ritas, é curioso pensar como em nenhum momento é explorado os relacionamentos de Rita e suas complicações, nem mesmo com os próprios filhos, ou o fato de ter lutado tanto contra o câncer de pulmão.
Claro, a produção é uma homenagem à Rita Lee em toda a sua glória, e sim, ela deve ser elogiada e enaltecida de todas as suas formas por conta da importância em diferentes escalas da sociedade e da cultura brasileira como um todo, porém, a ideia de uma pessoa tão livre e pra cima, um exemplo de feminismo, até mesmo depois de falecida, e não mostrar nenhuma de suas polêmicas, ou prisões, ou o uso de drogas? Enfatizando uma idolatria constante sobre a vida da cantora? Faz a produção perder parte de seu brilho.
Reflito que para aqueles que amam Rita Lee, o documentário será um presente, para aqueles que já não apreciam a cantora por um ou outro motivo, a produção não mudará o seu ponto de vista sobre. Ao final, goste ou não de Lee, ou de suas músicas, é inegável os marcos, as ondas, e a importância que ela ocasionou na sociedade e na cultura brasileira, e até mesmo mundial. E este impacto, por meio de perfomances captados na integra e um humor e leveza tão marcante da cantora, permitem que Oswaldo Santana mostre o legado e passe uma parcela do brilho desta mulher que foi tão marcante.
Dirigido por Oswaldo Santana, Ritas terá a sua pré-estreia mundial no dia 02 de Abril em uma sessão no CineSesc, abrindo oficialmente, no estado de São Paulo, a edição de 2025 do festival de documentário É Tudo Verdade.
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