Não existem apenas literalidades nas nossas vidas, provando isso, “SAPATÃO: uma racha/dura no sistema” mostra uma visão não ortodoxa do mundo enquanto lida com questionamentos fundamentais a nossa sociedade. De cunho predominantemente econômico, o filme de dévora mc mostra o último dia de trabalho de uma entregadora de aplicativo. Sua consciência de classe é o fio condutor que move toda a narrativa levemente surreal deste curta.
O desabafo é justo e claro, quase todos estão exauridos dos seus trabalhos e vidas maçantes. O constante fluxo de atividades desgastantes são um dos maiores males não só para o corpo mas para a mente. “SAPATÃO: uma racha/dura no sistema” apresenta uma crítica que vai além do puro desagrado com o atual sistema comercial. As bandeiras que o filme levanta são completamente humanistas e sociais num momento onde ignoram e violam os direitos constitucionais diariamente.
Carga Densa
Dada esta carga ideológica densa, é difícil avaliar se os visuais experimentais e rústicos ajudam ou não a manter a atenção. A experimentação com a proporção da tela mostra um conhecimento técnico de como o formato da imagem afeta a percepção da audiência. Entretanto, abandonam a ideia logo no começo, o que decepciona levemente. Mesmo assim, dado o notório baixo orçamento dos quais os curtas dispõem, é notável como “SAPATÃO: uma racha/dura no sistema” é eficaz em entregar a sua mensagem, e no fim do dia isso é o que mais importa.
Enfim, um filme que faz troça da atual precarização do trabalho enquanto apresenta um grito de revolta é relativamente raro, principalmente um que seja tão diferente na sua abordagem. Ao invés de palavras de ordem e uma verborragia marxista enlatada, “SAPATÃO: uma racha/dura no sistema” brinca com uma linguagem acessível que não só cativa como informa que assiste ao curta. No total, o filme é uma narrativa meio excêntrica meio iluminada, sendo simultaneamente fresca na sua abordagem.