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Crítica | Sra Harris vai a Paris

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Sra Harris vai a Paris, é um filme dirigido por Anthony Fabian, adaptação do livro “Mrs Harris goes to Paris” por Paul Gallico. Nele acompanhamos uma faxineira na meia idade que, ao ver o vestido da marca Dior que uma de suas chefes têm, resolve economizar seu dinheiro para conseguir um também. É esse sonho de consumo que, embora possa-se dizer simples, irá levar Ada Harris (interpretada por Lesley Manville) em uma aventura digna de contos de fada.

Apesar de sua trama parecer bem boba e simples, o filme nos traz temas importantes para serem discutidos, principalmente em relação ao lugar social dos trabalhadores em uma sociedade de consumo. Ada Harris, é uma mulher que trabalha muito, fazendo também bicos e trabalhos extras para tentar alcançar seu sonho e, mesmo assim, ainda é uma pessoa “invisível”. Ninguém liga para ela, seus sonhos para a sociedade são a mesma coisa que nada, ou risíveis.

Além disso, vemos como ela está ali para servir os outros, sempre não podendo “esperar nada em troca”, o que faz com que, de forma consciente ou não, várias pessoas abusem de sua bondade de formas diferentes. Como um Patrão que vai enrolar para não pagar, um outro que simplesmente não liga para nenhum dos sentimentos dela e dá mais trabalho ao bagunçar tudo novamente, amigos que às vezes pedem pequenos favores inconvenientes ou que inicialmente não darão o apoio que ela precisa para realizar os seus sonhos.

Aliás, veja o trailer, e siga lendo:

Isso tudo é mostrado não só em relação a vida da protagonista, mas também daqueles que estão ao seu redor. Os trabalhadores são tratados e vistos, na maior parte do tempo, como substituíveis, descartáveis ou como se fossem lixo. Pessoas invisíveis que estão ali só para servir os mais ricos ou seus chefes. Os sonhos e desejos das classes pobres são a mesma coisa que nada. Isso fica claro no filme: Ada Harris, por ser de classe mais baixa o tempo todo, tem sua vida e sonhos sendo motivo de piada para os mais abastados. Como se ela, e todos os outros como ela, devessem só fazer seus trabalhos e aceitar tudo.

Apesar do longa demonstrar temas como esse, como exploração do trabalho, como a classe pobre é vista, e que, apesar de vários trabalhadores trabalharem para uma marca rica e famosa, ainda assim vivem como lixo; no máximo apenas com uma vida um pouco melhor do que uma “simples faxineira”. O filmes não se aprofunda nos seus temas propostos fazendo, na maior parte do tempo, uma caricatura superficial e dando a trama aquele ar de contos de fada. O que faz com que todos os problemas e conflitos, alguns até interessantes de se explorar, sejam resolvidos como mágica, o que acaba sendo bem bobo.

Não que isso seja de todo ruim; podemos inclusive discutir como essa visão de contos de fadas se realiza e de como o sonho dessa viúva se baseia em conseguir um vestido caro e como isso mostra o fetiche do consumo que se tem hoje em dia. De que o que somos é a partir do que consumimos, daí a necessidade de consumir e almejar consumos que muitas das vezes não são propositalmente planejados para os mais pobres; porém mesmo assim, ainda sentimos a necessidade de ter simplesmente por ter, sendo algo como um desejo vazio. Entretanto, já que o filme não parece querer se aprofundar ou mesmo realmente discutir tudo isso, o longa acaba meramente parecendo um conto de fadas de meia idade, o tipo versão açucarada que é feita para se aproveitar sem parar por um momento para pensar melhor na história; uma versão talvez fofa e engraçadinha da história de uma senhor viúva, faxineira, que ao conseguir comprar um vestido super caro, por esse motivo, de alguma forma milagrosa, consegue tocar o coração de várias pessoas e as transforma, sem nenhum motivo aparente, só porque o roteiro quer.

O filme não é de todo mau, mas também não é nada impressionante. Vale ressaltar que apesar desses problemas, o longa de certa forma consegue tocar para uma discussão, nem que seja rasa, sobre trabalho e fetiche do consumo, podendo ao menos ser um filme divertido de se assistir, que talvez divirta adoradores de contos de fadas e, talvez, sirva como combustível para gerar discussões futuras.

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Estudante de Cinema, editora de vídeo e formada em Design de Animação. Ama jogos, filmes, séries, quadrinhos, mangás, livros, não importa a mídia sempre procura histórias.

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‘Aumenta que é rock ‘n roll’ traz nostalgia gostosa | Crítica

Longa protagonizado por Johnny Massaro e George Sauma estreia em 25 de abril.

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Uns anos atrás, mais especificamente em 2019, o Festival do Rio (e outros festivais do Brasil) trazia em sua programação um documentário sobre a Rádio Fluminense. “A Maldita”, de Tetê Mattos, que levava o título da alcunha pela qual a rádio era conhecida, narrava sua história e, além disso, a influência que teve em seus ouvintes. Para muitos, principalmente os que não viveram a época, foi o primeiro contato com a rádio rock fluminense.

Anos depois, no próximo 25 de abril, quinta-feira, estreia “Aumenta que é rock ‘n roll”, longa de Tomás Portella. O longa é baseado no livro “A onda maldita: Como nasceu a Rádio Fluminense”, escrito por Luiz Antônio Mello, criador da rádio. Protagonizado por Johnny Massaro na pele de Luiz Antônio, o filme foca em toda a trajetória do jornalista desde sua primeira transmissão na rádio do colégio, até o primeiro contato com a Rádio Fluminense (por causa de seu amigo e cocriador Samuca) e a luta pra fazer da Fluminense a rádio mais rock ‘n roll do Rio de Janeiro.

Muito rock

Pra começo de conversa, é preciso dizer que o filme é uma bela homenagem ao gênero rock. Além de uma trilha sonora com nomes de peso, como AC/DC, Rita Lee, Blitz e Paralamas do Sucesso, o longa consegue mostrar ao espectador do que o rock é verdadeiramente feito: de muita ousadia e questionamentos. Em uma época em que o gênero vem sendo esquecido, principalmente pelas gerações mais jovens, Tomás Portella consegue relembrar a todos que o rock é sinônimo de controversão e revolução, já que foi criado para questionar os ideais vigentes da época.

Isso fica muito claro nos personagens que compõem a rádio e que a tocam pra frente. A ideologia de fazer diferente fica tão nítida na tela que eu desafio o espectador a não sair do filme com vontade de revolucionar o mundo ao seu redor.

Roteiro

Isso se dá, obviamente, por um texto muito bem escrito e uma trama bem desenvolvida e bem amarrada. O que significa, portanto, que L.G. Bayão fez um ótimo trabalho na adaptação do livro.

Mas, além disso, as atuações dos atores em cena tambémajudam muito. Apesar de a maioria dos atores nem sequer ter vivido a época (no máximo, eram criancinhas nos anos 80), eles personificam a vontade de transformar da época. Principalmente Flora Diegues, que tem uma atuação tão natural que dá até pra pensar que ela pegou uma máquina do tempo lá em 1982 e saltou na época em que o filme foi gravado. Infelizmente, a atriz faleceu em 2019 e uma das dedicatórias do longa é para ela. Merecidissimo, porque Flora realmente se destaca entre os integrantes da rádio rock.

Sintonia fina

George Sauma interpreta o jornalista Samuca, amigo de colégio de Luiz Antonio que cria a rádio com o colega. A escolha dos dois protagonistas não poderia ser melhor, já que Johnny Massaro e George têm uma química que salta da tela. O jogo de dupla cheio de piadas, típico dos filmes de comédia dos anos 1980, funciona muito bem entre os dois. Os dois atores têm um timing ótimo para comédia e, ao mesmo tempo, conseguem emocionar quando o texto cai para o drama. Tanto George quanto Johnny brilham.

Também brilham a cenografia e o figurino do filme. Cláudio Amaral Peixoto, diretor de arte, e Ana Avelar, figurinista, retrataram tão bem a época que parece que estamos mesmo de volta aos anos 1980. A atenção aos detalhes faz o espectador, principalmente o que viveu tudo aquilo, se sentir dentro da rádio rock.

Nostálgico

Para resumir, é um filme redondinho e gostoso de assistir, com atuações incríveis e uma trilha sonora de arrasar. Duvido sair do cinema sem vontade de ouvir uma musiquinha de rock que seja!

Fique, por fim, com o trailer de “Aumenta que é rock ‘n roll”:

Ficha Técnica

AUMENTA QUE É ROCK ‘N ROLL

Brasil | 2023 | Comédia

Direção: Tomás Portella

Roteiro: L.G. Bayão

Elenco: Johnny Massaro, George Sauma, João Vitor Silva, Marina Provenzzano, Orã Figueiredo.

Produção: Luz Mágica

Coprodução: Globo Filmes e Mistika

Distribuição: H2O Films.

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