Uma das graças da vida é sua mutabilidade. Para alguns essa pode ser uma das tristezas, mas não há para onde fugir, é a única certeza. A mudança é absolutamente a única certeza da vida. Buda já dizia isso, e Monja Coen reproduz. A melhor palestra que vi até agora na Rio Innovation Week teve a participação da Monja. E também de Marcelo Gleiser e Aílton Krenak.
O encontro “Realidade e Resiliência: Perspectivas Budistas e Indígenas sobre o Mundo Contemporâneo” proporcionou um diálogo profundo entre algumas das figuras mais respeitadas em seus respectivos campos: Monja Coen, líder espiritual e uma das principais difusoras do budismo no Brasil, Ailton Krenak, líder indígena recentemente nomeado como imortal pela Academia Brasileira de Letras (ABL), e Marcelo Gleiser, físico, astrônomo, professor e escritor.
Durante o evento, Monja Coen enfatizou a importância do presente e da vida, destacando que “precisamos cuidar da vida, que é o agora. Essa experiência sensível que é estar viva.” Ela iniciou a conversa convidando os presentes a participarem de uma sessão de meditação, reforçando a prática como uma ferramenta essencial para cultivar a consciência plena e a resiliência em tempos desafiadores.
Generosidade na Rio Innovation Week 2024
Porém, antes disso, do lado de fora da área RIW Talks, uma fila imensa esperava para entrar. Não havia mais espaço, e, além disso, faltava um telão por ali para que as pessoas acompanhassem, ou alguma solução. Mesmo com minha pulseira de imprensa os seguranças ainda tentaram me barrar, até que uma boa alma da produção me ajudou. Faltava humanidade ali. Faltava a generosidade que os palestrantes pregavam.
Enquanto a Monja guiava a meditação inicial, fui para um canto e mantive os ouvidos atentos para aprender – e apreender – o que era dito. Em dado momento, quis o destino, que uma pessoa da primeira fileira levantasse e fosse embora. Era o único lugar vago da palestra lotada. Peguei minha mochila e dei a volta por trás até chegar lá. O lugar me esperava, sabia que havia alguém ávido por aquele conhecimento.
Bem de perto, pude ver Marcelo Gleiser conectar a palavra gene com generosidade, explicando a importância disso e como precisamos dessa virtude para entrar verdadeiramente no século XXI.
Krenak
Ailton Krenak, por sua vez, trouxe à tona a riqueza e a diversidade das trajetórias culturais que o encontro representava. Ele descreveu o momento como um “presente”, mencionando a natureza imprevisível das experiências que surgem quando nos abrimos para o desconhecido: “O encontro com Marcelo e a Monja é um desses presentes de quando nós nos abrimos para experiências incontroláveis, e esses encontros se movem em nossa direção.”
Krenak destacou ainda a necessidade urgente de um processo de decolonização do pensamento e do corpo, um chamado para que se repensem as estruturas e mentalidades herdadas que continuam a perpetuar a opressão e a desigualdade.
Este diálogo entre perspectivas budistas, indígenas, científicas e, acima de tudo, otimistas, não só enriqueceu a compreensão dos participantes sobre resiliência e realidade, mas também sublinhou a importância de encontros interculturais como esse para fomentar uma visão mais ampla e integrada do mundo contemporâneo.
A conversa passou do horário determinado, enquanto a impressão era de que havia cristais por ali. Preciosos, únicos. Era o aroma da felicidade de vivenciar o presente, a certeza de que a vida pode ser melhor se acreditarmos, se fizermos nossa parte, se formos autênticos em nossa generosidade, que pode ser de uma escuta sincera, de olhos nos olhos atentos, de carinho genuíno. É uma forma de recarregar nossa bateria. Abrir-se para as possibilidades com coragem e determinação.
Enfim, o Rio Innovation Week segue sendo a cara do Rio de Janeiro e do Brasil. Uma mescla de cultura, natureza, tecnologia, música, inovação, caos, beleza. E esperança.
Por fim, leia:
Rock in Rio 2024: faltam 30 dias para a abertura da histórica edição de 40 anos