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Literatura

No descarrilho do trem o samba segue dando o tom

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Dia do Samba no Vivente Andante

Samba?

A manhã dessa segunda acordou o trabalhador.

Um cheiro diferente permeia o ar, não se sabe se é brisa do mar ou se é fantasia.

Uma ilusão, descrença talvez.

Falta algo que não se explica, mas no caminhar do povo reside o ritmo sincopado e levando o andor e a labuta nas costas, transpira do corpo suor e amor.

Hoje amanheceu com frescor, porém soa distante a alegria e a esperança mora no final de semana que Toninho Geraes há tempos passou o roteiro. Ele vai a Gamboa e de lá vai pra Lapa e aí o bom senso escapa, ninguém consegue evitar.

Mas no balanço cadenciado desse comboio lotado, das pauladas diárias, do suspiro no vácuo, está a força motriz. Mora escondida entre os braços trocados, os cabelos entrelaçados e as pernas insistentemente arredias toda a vontade de ser feliz nessa corrida pela garantia do pão.

E tem até bala, biscoito e chiclete, ofertados de mão em mão pelo menino sorriso. Que vendendo alegria se faz firme diante toda essa correria.

É o alarme das estações da vida dando o toque nessa distopia.

Mas esse vazio insistente no peito nessa manhã do dia de hoje alerta que os vagões que trazem o samba pararam e o final de semana vai chegar e nos trazer a tristeza e ao atingir a maturidade da juventude, no auge dos seus 24 anos, o trem do samba não sai.

Decidiram eles.

E da Central a Oswaldo Cruz o vagão vai vazio, carregando a sobriedade do silêncio e o único som será o soluçar da dor.

Mas grita uma certeza com toques de beleza, que serão sempre vistos no ato de resistir. Os sorrisos continuarão sendo distribuídos nas tendas de Irajá, nos balaios das rodas de samba o cavaquinho vai chorar, na Pedra do Sal os tambores vão ecoar, em Madureira os pés vão descalços dançar e até nos mais altos dos morros do Rio poderá se escutar.

O samba sempre irá ecoar, no peito, no jeito, no andar, no olhar, no abraço, nos bancos de praça e no arrepio da pele ao sentir o tocar.

Segunda-feira, 02 de dezembro de 2019. Dia Nacional do Samba.

Ademais, Viva mais:

Bia Sion – A Bruxa ZZ do Gloob que encanta com seu canto
João Raphael fala sobre consciência negra, sociologia, educação e arte
Juliana Linhares do Pietá fala sobre arte – e Witzel

Aliás, leia outros textos de Kelly Lima em http://kellykristiny.wordpress.com/

Inclusive, também tem o @particulas_rotineiras 😉

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5 Comentários

5 Comments

  1. Liete

    2 de dezembro de 2019 at 15:41

    Muito lindo. So as pessoas que tem a facilidade de se apaixonar por coisas boas e que consegue fazer uma poesia linda assim

  2. Beto Souza

    2 de dezembro de 2019 at 16:00

    Muito lindo!! Sensibilidade é o seu nome.

  3. Anselmo Salles

    2 de dezembro de 2019 at 16:19

    Sensível ,suave e deixando o recado , magnífico 🌺🙏🏿🍀

  4. Délcio Teobaldo

    2 de dezembro de 2019 at 18:43

    Os Encantos dos (s/b)ambas te celebram, menina, pelo belo, sensível, ritmado e respeitoso texto…

  5. Pingback: Liniker e os Caramelows deixam Fundição Progresso em êxtase

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Literatura

Mês do Orgulho | Confira 8 livros com protagonismo LGBTQIAP+

Há uma obra que veio de pesquisas sobre a homossexualidade e as divindades mitológicas, texto sobre as vivências trans nas favelas brasileiras e sugestões de fantasia e romance

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mês do orgulho gay dicas de livros

Junho é o Mês do Orgulho LGBTQIAP+. Sendo assim, é um período que, além de celebrar, fala da conscientização e luta pelos direitos e igualdade. Durante essa época, diversos lugares do mundo realizam uma série de eventos, manifestações e atividades que buscam promover a visibilidade.

Mas e a representatividade na literatura? Em seguida, confira as indicações e escolha sua obra preferida:

A Banda Sagrada de Tebas

Quem foram os deuses homossexuais? Neste livro, o jornalista, escritor e pesquisador Thiago Teodoro apresenta uma perspectiva LGBTQIAP+ para as divindades. Ele aborda nomes como Pã, Apolo, Dionisio e Zeus, mas também mergulha na mitologia brasileira ao falar de Anhangá, o protetor da floresta, e Acauã, a defensora das mulheres. Um dos principais objetivos do autor é destacar como a homossexualidade era considerada sagrada e necessária em diversos períodos da antiguidade.

(Autor: Thiago Teodoro | Onde encontrar: Amazon)

Liberalismo Minoritário – Vida Travesti na Favela

A vida na favela é repleta de desafios, mas, para as pessoas LGBTQIAP+, essa rotina pode ser ainda mais árdua. Porém, mesmo neste cenário de poderes paralelos e liberdades cerceadas, as vivências queer florescem e ganham cada vez mais força. Esta é a conclusão do professor e pós-Doutor pela Universidade de Harvard, Moisés Lino e Silva, após morar na Rocinha e acompanhar de perto a vida de figuras como a travesti Natasha Kellem.

(Autor: Moisés Lino e Silva | Onde encontrar:  Amazon)

Amores, Marias, Marés

O lançamento Amores, Marias, Marés tem como pano de fundo São Luís, a capital do Maranhão, no ano de 1963. O leitor acompanha a relação amorosa entre duas mulheres que, naquela época, não fazia parte do imaginário coletivo. No enredo, uma professora recém-casada com um aristocrata se apaixona por uma jovem afrodescendente interessada em estudar a participação dos negros na construção da sua cidade.

(Autor: Chico Fonseca | Onde encontrar: Amazon)

Que vença o melhor

Capitão de torcida e presidente do grêmio estudantil, Jeremy não vai permitir que se assumir como um garoto trans arruíne o último ano escolar. Em vez de se esconder, decide concorrer ao título de Rei do Homecoming, o evento anual mais importante do colégio. O detalhe é que o ex-namorado dele, Lukas, estrela do futebol americano, é um dos principais candidatos a ganhar a coroa. Com bom humor e delicadeza, Z. R. Ellor aprofunda temas comuns entre os jovens, mas pouco abertamente falados na vida real: a dificuldade de lidar com o luto e o preconceito LGBTQIAP+ na sala de aula.

(Autor: Z. R. Ellor | Onde encontrar: Amazon)

Meu menino colorido

A pedagoga Zenilda Cardozo uniu os anos de experiência em sala de aula às vivências pessoais com um sobrinho vítima de homofobia para escrever o livro Meu menino colorido. Com foco no público pré-adolescente e inspirada na literatura de cordel, a história foca em um garoto que se descobre LGBTQIAP+ e enfrenta o preconceito das pessoas ao seu redor. Ele pensa em desistir de tudo, mas é salvo pelo amor da mãe.

(Autora: Zenilda Cardozo | Onde encontrar:  Amazon)

Um dia de céu noturno

Glorian, sucessora do rainhado de Inys, Tunuva, a irmã do Priorado, e Dumai Wulf, amante de dragões, se unem para enfrentar um maligno cuspidor de fogo vermelho conhecido como wyrm. A obra garante uma imersão no matriarcado, protagonismo feminino, representatividade LGBTQIAP+ e temáticas como busca pela identidade, maternidade e relacionamento sáfico. A história se passa 500 anos antes da duologia “O priorado da laranjeira”, best-seller de Samantha Shannon, e pode ser lido de forma independente.

(Autora: Samantha Shannon | Onde encontrar: Amazon)

Carmilla: a Vampira de Karnstein

A obra é narrada por Laura, uma jovem que vive isolada com o pai em um castelo. Mas uma hóspede inesperada despertará os sentimentos amorosos da personagem. Ao mesmo tempo, a visita causará na protagonista certo terror, ao trazer de volta antigos pesadelos da infância. Apesar do enredo acontecer em 1872, a autora não esconde a sexualidade da protagonista.

(Autor: Sheridan Le Fanu | Onde encontrar: Amazon)

A história de Carmen Rodrigues

Carmen já não podia aceitar a situação imposta por um marido negligente e opressor, mas livrar-se dele parecia utopia. Até descobrir o verdadeiro amor em Clarissa e encontrar a força necessária para viver o sonho de ser empresária e de ter uma família saudável. Mas, quando o ex-marido resolve tirar a guarda do filho e suas conquistas, a personagem precisa contar com os amigos e com a companheira para se reerguer.

(Autora: Ana Luiza Libânio | Onde encontrar: Amazon)

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