Euráculo é uma banda que preza por um rock de estilo quase místico, bebendo nas fontes de Raul Seixas e da psicodelia. Formada no ano 2015 e que se considera enraizada no rock visceral. Aliás, acabam de lançar um single que tem tudo a ver com o momento de quarentena e isolamento social: “Gaiolas-casas”. Além disso, seus seis integrantes estão na fase de finalização do álbum independente “Jantando com a Esfinge Coruja” cuja estreia está prevista para 1º de maio de 2020. Segundo eles, as nove faixas autorais trazem referências diversas e fazem uma sátira aos tempos atuais, com tributo ao regional e ao universo mystic n’roll. No dia 24 de abril lançam o clipe da balada psicodélica “O compositor se mudou”. Em seguida, confira a entrevista:
Alvaro Tallarico: O que significa estar enraizado no rock visceral?
Euráculo: Significa dar importância a expor um lado mais profundo, mais interno. Expor com visceralidade as profundezas do que a gente pensa, e não ficar tanto preso à questão estética, à maquiagem externa. Hoje em dia, vemos a música muito entrelaçada com os mercado têxtil, alimentício e outros. É uma infinidade de músicas falando “vou beber marca X”, “vou andar no carro Y”. Estar enraizado no rock visceral tem muito mais a ver com ‘’colocar as entranhas pra fora’’ do que ficar “exibindo a vitrine’’; ou ainda, com um compromisso maior com o que a gente sente do que com o projeto de fazer poesia por sonho de fama e sucesso.
Alvaro Tallarico: Vocês se descrevem como som em forma de acidez e livre-palavra. O que seria isso?
Euráculo: Isso tem a ver com não ficar medindo a poesia. Não tolher a poesia só porque ela veio de uma maneira, digamos, mais “vomitada”. Não ter medo de expor a acidez do trabalho pensando no que os outros vão pensar. A gente acabou regurgitando mesmo esse trabalho, sem muito senso crítico do que o público vai achar e sentir, e sem controlar a parte poética que vem como impulso e inspiração dinâmica. E a livre palavra tem a ver com isso. Se de repente surge uma palavra ou ideia, e que depois vem a soar como algo caótico, não nos antenamos muito em modificar. A gente gosta da origem das coisas, e a livre palavra tem a
ver com essa origem. A acidez também tem a ver com essa regurgitação poética, e até melodicamente se pode ser colocado assim: poesia e melodia de uma forma menos lapidada.
Alvaro Tallarico: “Gaiolas-casas” é a cara do isolamento forçado que o mundo está passando, fizeram pensando nisso? E como está sendo esse momento para a banda?
Euráculo: É anterior a ele, mas realmente é uma música que combina com o momento. Porque o isolamento de forma efetiva está sendo feito agora, mas e o isolamento da consciência? O que se projeta muitas vezes é a vontade do mercado e não aquela que nos é interna, a nossa vontade própria. “Gaiolas Casas” seria a ideia da consciência que vive presa e não se liberta devido às condições e exigências de um mundo onde todo mundo vigia, culpa e julga todo mundo. Então a música toma uma dimensão bastante válida nesse momento de quarentena, porque fala dessa questão num âmbito mais metafísico.
Ouça “Gaiolas-casas”:
AT: Como estar “Jantando com a Esfinge Coruja”?
Euráculo: É melhor estar jantando com a Esfinge Coruja do que ser jantado por ela! O título sugere que a gente convidou essa personagem pra um jantarzinho, porque de barriga cheia o ‘decifra-me ou te devoro’ fica pra outra hora.
AT: Se cada um de nós é um universo, em que universo está o Euráculo?
Euráculo: Euráculo está no universo individual e na projeção dele no infinito. Ou seja, tem a ver com se reconhecer internamente, mas também com os movimentos de reconexão com a amplitude e de expansão das liberdades.
AT: Vocês bebem na psicodelia e no rock místico. Tem influências da Ave Sangria?
Euráculo: Com certeza temos influência de toda essa camada do rock mais antigo. A psicodelia era muito mais presente em termos de poesia, de expressão melódica e experimentação. Aquela coisa de experimentar algo que, mais a frente, pode virar uma tendência que o mercado vai utilizar e desgastar. Certamente, a Ave Sangria é uma banda presente no conhecimento musical de todos os integrantes da banda e uma das nossas muitas fontes inspiradoras.
AT: Se o compositor se mudou, quem vai escrever?
Euráculo: Se o compositor se mudou, quem vai escrever é o próprio compositor, mas de uma nova perspectiva! Essa mudança tem a ver com a capacidade de se reinventar, experimentar e abandonar antigas ideias para abraçar o novo a qualquer momento.
AT: “Casaco Preto” tem uma cara de Raul Seixas, até a forma de cantar em alguns trechos, a melodia. É o grande mestre de vocês?
Euráculo: Sem dúvidas, Raulzito é a porta e a chave que nos colocou em acesso ao aprendizado do que estamos fazendo.
Veja o clipe de “Casaco Preto”:
AT: Rock tem que estar ligado a um lado de escuridão? Vocês são adeptos da tríade sexo, drogas e rock n roll?
Euráculo: Tudo está neste momento, mas nada “tem que’’. O lado da escuridão independe de negá-lo ou não: ele é existencial, assim como a luz, que promove o equilíbrio. Desdenhar da dor e só glorificar o suposto amor é desconhecer a própria existência. Quando nos afastamos da escuridão, ela nos domina pelas costas, assim como a luz pode também cegar. O equilíbrio está em perceber que ambas as forças provém da sua capacidade e responsabilidade. A questão da escuridão tem que ser compreendida, e não tem eliminada.
Já o “sexo, drogas e rock n’ roll”… quem não gosta, né!? O sexo é a explosão criativa, e também a beleza do contato íntimo. A droga é parte da expansão, da capacidade de atingir outras camadas de perspectiva, seja através de substâncias, ou através do auto-conhecimento e mergulho interno. E o rock n’ roll é o contato com essa possibilidade de expor tudo o que se adquire nessas e em outras imersões.
AT: O que é Deus para vocês e qual a importância da fé e da bondade?
Euráculo: Tentando sintetizar uma resposta, diríamos que talvez Deus seja essa capacidade de expressar o infinito particular dentro de uma comunhão coletiva de infinitos que se direcionam para um mínimo de harmonia. Difícil dizer, mas talvez seja a potência capaz de apresentar nossas vontades e vísceras de forma harmônica e organizada. Trazer à tona nossa expressão própria é o que a gente tem de mais próximo com Deus e com a capacidade de criar e recriar o mundo. A importância da fé e da bondade está na elevação da frequências, que nos leva ao mergulho numa existência com grandiosidade, na qual a capacidade de expansão está para além do encontro com Deus.
Segue o nosso material, com o lançamento recente do álbum
Gostaríamos que escutassem e se possível comentassem
Plataforma SPOTIFY
https://open.spotify.com/album/2MYHmIzSFexX2wnK7W6Ssh?si=8uXgaXjxSj2rfEWaWsHCxg
Plataforma BANDCAMP
https://sequito.bandcamp.com/album/est-tica-de-queda
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O Séquito é uma banda de rock. Trafegando entre o garage e o alternativo, permite-se dialogar livremente com o stoner e, em alguns momentos, o post, o que lhe confere eventuais características.
A temática das letras – todas em português – está quase sempre associada a questões existenciais, tais como aspectos conflituosos do comportamento humano; complexidade nas relações pessoais;Dessa forma, a proposta é a construção de um ambiente pesado, denso e dissonante; mas, ao mesmo tempo, lírico, utilizando-se de melodias que buscam revelar a beleza no estranhamento, a poética no desconforto.
A banda é formada por músicos de São Gonçalo, embora atualmente apenas o guitarrista e vocalista, Carlos Vinicius Ribeiro, resida no município, sendo o baterista, Vander Nascimento, radicado em Itaboraí e o baixista, Bruno Hosp, em Campo Grande. A formação é a mesma desde 2004, ano em que o projeto teve início. Desde então, o Séquito já se apresentou em espaços gonçalenses como o HardCore Café, o Metallica Pub, o Clube Esportivo Mauá e o Recreativo Trindade; assim como na Comunidade S8 de Botafogo, no Espaço Box 35 e no Espaço Convés, ambos em Niterói; e, mais recentemente, no Teatro Odisseia, na Lapa, e na sede do Sinpro em Campo Grande, em ocasiões de eventos em apoio aos professores do Rio de Janeiro.
Discografia:
2012- EP: Na Urdidura do Mundo
2020- EP: Groenlândia
2020- Álbum: Estética de Queda
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