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Entrevistas

Luca Argel | “Noel Rosa falava das coisas do tempo dele, eu falo das coisas do meu tempo.”

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Luca Argel, sambista brasileiro no Porto, falou com Alvaro Tallarico

Luca Argel é compositor, sambista, professor de música. Nascido e criado no Rio de Janeiro, Brasil, agora está radicado no Porto, em Portugal, onde une as referências brasileiras com as novas que vem aprendendo e apreendendo no país europeu. As influências de grandes nomes do samba como Noel Rosa e Aldir Blanc ficam claras em seu trabalho, que percorre os diversos gêneros dentro do ritmo. Inclusive, hoje (dia 1 de maio), ele se apresenta no Festival Live in a Box, na rede social instagram, no horário das 22h, em Portugal, e 18h, no Brasil. Conversei com Luca quando esteve no Clube Manouche, no Jardim Botânico (RJ) para fazer uma participação no show do Pedro Luís.

Alvaro Tallarico: De onde você veio, para onde vai e por que está em Portugal agora?

Luca Argel: Eu vim da Tijuca (RJ), fui para Portugal em 2012. Cheguei lá no meio da crise portuguesa e fiquei lá. Estou lá desde então. Sete anos já. Fui para estudar como tantos brasileiros que vão. Conheci muitos brasileiros, alguns voltaram, outros não, e fui um pouco de surpresa. Apesar de já trabalhar com música, era professor de música aqui (RJ) antes de ir para lá, acabei formando alguns grupos lá. Comecei a cantar, tocar, compor, e fui engrenando um trabalho que me manteve lá e me mantám até hoje.

Alvaro Tallarico: E o que é o “Conversa de Fila”?

Luca Argel: Meu último disco que saiu em março (2019). Já é o meu terceiro disco e é o meu segundo disco de samba. Eu lá em Portugal comecei a… Acho que um dos motivos que fiquei em Portugal esse tempo todo foi por causa de um grupo de samba que eu formei lá chamado Samba sem Fronteiras por causa do falecido Ciência sem Fronteiras, em homenagem. O Ciência sem Fronteiras acabou e o Samba sem Fronteiras  ainda está lá, firme e forte. E eu comecei a pesquisar e me aprofundar muito dentro da linguagem do samba nesses anos em Portugal, e o “Conversa de Fila” eu acho que é um… Meu álbum anterior já é um mergulho no universo do samba e o “Conversa de Fila” é um aprofundamento ainda mais de pesquisar essa linguagem nos vários estilos que… é… como o samba de breque, como um samba de breque que escrevi e toquei aqui hoje, marcha rancho também que foi a que toquei com Pedro Luís e partido alto, sambas dos mais variados tipos, reinventados, né.

Alvaro Tallarico: E por que a escolha de vender vinil?

Luca Argel: Na verdade, o vinil… Na verdade assim, o CD é uma coisa que eu tenho percebido cada vez mais que ele está agonizando, né? Cada vez menos gente tem aparelho para ouvir CD em casa. Já tem carros que saem aí, novos modelos de carros que nem tem mais aquele lugar para colocar CD. Hoje em dia é tudo digital. E o pessoal que tem aquele fetiche grande com o formato físico acaba indo muito mais para o vinil do que para o CD. Eu ainda faço CD na verdade, mas é que eu esqueci de trazer aqui hoje(risos). Mas eu faço CD também. Só que eu comecei a receber muitas mensagens de pessoas perguntando se não tinha vinil também. “Ah, não vai fazer vinil?”, e eu dessa vez fiz um esforço para editar em vinil. E realmente o vinil ele é muito bonito. Vale a pena. Quando você vê aquela bolachona pronta, dá um orgulho.

Alvaro Tallarico: “Anos doze” pode ser considerado até o retrato de uma geração, como se Noel Rosa jogasse Super Nintendo. Como foi fazer essa canção?:

Luca Argel: Exatamente. O “Anos doze”, assim, o samba em geral ele tem uma vocação muito grande para cronista, né? O Noel Rosa era um grande cronista e escrevia crônicas em forma de samba. É, e crônica nada mais é do que um retrato do presente, né? Do momento presente. Então Noel Rosa falava das coisas do tempo dele, eu falo das coisas do meu tempo. E o “Anos doze” tem uma inspiração muito grande nos doze anos que a música do Chico Buarque como o Moreira da Silva, que está na Ópera do Malandro, que o Chico Buarque fala de uma infância de vida correndo na rua, pulando muro, subindo em árvore, olhando mulher pelada pela fechadura, trocando figurinha e tudo. É uma infância muito diferente da que eu tive e muitos amigos meus tiveram, que viveram, cresceram em prédio de apartamento e não tinham essa liberdade toda. Então eu resolvi, inspirado por essa música do Chico, fazer uma minha que contasse um outro tipo de infância. E é muito divertido, as pessoas realmente se identificam muito com ela.

AT: As semelhanças e diferenças entre Brasil e Portugal? E dentro disso, você sente falta do Brasil? Sente que seu peito ficou banguela?

Luca Argel: Eu sinto… Olha, esse do peito banguela isso é uma frase do Aldir Blanc. É super Brasil, até porque lá eles não falam banguela, eles não tem essa palavra. Eu descobri isso por causa dessa música. É, mas eu sinto falta principalmente das pessoas aqui, dos amigos. E sinto falta de uma coisa muito particular, assim, do ponto de vista de compositor, que é a nossa, a nossa… as referências que a gente tem referências culturais, de coisas do cotidiano, algumas palavras. Por mais que a gente divida uma língua, um idioma, com Portugal, tem certas coisas que são referências locais que ele não têm. Palavras que a gente usa aqui que não se usa lá, programas de televisão, músicas, artistas, personagens, ruas, bairros, que só quem é daqui reconhece essas referências. E eu sendo um compositor que está baseado mais lá (Porto) do que aqui (RJ), quando estou escrevendo alguma coisa e quero usar uma referência tenho que ter muito cuidado para não excluí-los, mas ao mesmo tempo nao perder o que é no fundo o diferencial de um brasileiro fora do Brasil, que é ser brasileiro, né?

AT: O que é arte para você, Luca?

Luca Argel: Arte para mim é liberdade, arte não existe sem liberdade e talvez seja uma consequência dela o criar arte, né? É um ato de liberdade e é uma liberdade que é muito especial porque ela pode ser compartilhada tanto por quem faz tanto por quem aprecia e ouve. É uma espécie de liberdade usufruída em conjunjo.

AT: E qual você diria que é o papel do artista, então?

Luca Argel: Eu acho que o artista está numa posição muito cruel porque ao mesmo tempo que ele nunca pode ser obrigado ou proibido de fazer nada, claro, desde que não prejudique outras pessoas, né? É, ele também tem uma responsabilidade por aquilo que ele fala, pelas consequências do que ele fala. Acho que o artista é uma pessoa que funciona ao longo do tempo e da História muitas vezes como o porta-voz de um tempo, ou de uma sociedade, então dentro dessa função de representante ele tem… talvez essa seja a função dele, cantar o seu próprio tempo, com atenção, com respeito, com consciência, para que gerações futuras consigam entender ou aprender, às vezes, né, com erros do passado, por exemplo.

Afinal, ouça a entrevista completa aqui:

Apresentação, produção e roteiro: Alvaro Tallarico // Edição: Fachal Júnior //

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Cinema

O Pastor e o Guerrilheiro | Confira entrevista exclusiva com Johnny Massaro

Longa-metragem chega aos cinemas brasileiros com distribuição da A2 Filmes

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O Pastor e o Guerrilheiro, entrevista com Johnny Massaro

Nesta quinta-feira, dia 13 de abril, o longa-metragem O Pastor e o Guerrilheiro, do cineasta José Eduardo Belmonte, chega exclusivamente aos cinemas brasileiros com distribuição da A2 Filmes. O protagonistas ganham vida através dos atores Johnny Massaro e César Mello, em grandes atuações. Além disso, o filme ainda conta com a presença do saudoso Sérgio Mamberti (O Homem Que Desafiou o Diabo e Castelo Rá-Tim-Bum), em seu último trabalho.

A trama se passa nas décadas de 1960, 1970 e nos últimos dias de 1999, na virada do milênio. Em 1968, o jovem comunista João (Johnny Massaro) deixa a universidade e vai para uma guerrilha na Amazônia. Lá é preso, sofre torturas e vai para a prisão em Brasília, onde encontra Zaqueu (César Mello), um cristão evangélico, preso por engano. Então sofrem juntos, superam diferenças ideológicas, se ajudam e marcam um encontro para 26 anos depois, à meia-noite, na virada do milênio, em cima da Torre de TV de Brasília.

Em seguida, confira nossa entrevista com Johnny Massaro:

Produzido por Nilson Rodrigues e com o roteiro de Josefina Trotta, inspirado em uma história real, o filme foi rodado no Estado do Tocantins, às margens do Rio Araguaia, e em Brasilia, e conta com a produção executiva de Caetano Curi, direção de fotografia de Bárbara Alvarez, direção de arte de Ana Paula Cardoso, direção de produção de Larissa Rolin, música de Sascha Kratzer e figurino de Diana Brandão.

Quer saber se é bom? Já vimos. Olha aí a crítica:

Com distribuição da A2 Filmes, a estreia do filme O Pastor e o Guerrilheiro aconteceu no Festival de Gramado e o filme chegará agora no dia 13 de abril de 2023 aos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre, Vitoria da Conquista, Tocantis, Palmas, Campo Grande, Niterói, Macéio, Natal, Manaus, João Pessoa, Guararapes, Goiania e Fortaleza.

Ah, também conversamos com Túlio Starling, que também participa do filme. Confira:

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