Cinema
Ficaremos Bem (Maria Sødahl, 2019) | Crítica – Vale a pena ter esperança
Publicado
1 ano atrásem
Por
Tunai Caldeira
Ninguém é “imorrível”, como alguns negacionistas costumam bradar. Como já dizia minha avó: basta estar vivo para morrer. Apesar da obviedade desta afirmação, a interpretação que eu tenho para essa frase é: prepara-se, ela vem para todos. No momento histórico no qual vivemos, com um certo sentimento de desespero e morte no ar, quase todos sentimos a corda no pescoço devido a ameaça do novo coronavírus. Questionamos com mais ênfase a nossa própria finitude e de nossos familiares e assim, avaliarmos nossa própria vida e a relação com o próximo.
O filme de produção norueguesa-sueca-dinamarquesa, Ficaremos Bem (2019), da diretora e roteirista Maria Sødahl, toca em algumas destas feridas que obrigatoriamente a pandemia abriu. Obviamente, o filme não fala da pandemia, mas alguns questionamentos da personagem principal, Anja, (interpretada pela ótima Andrea Bræin Hovig), nos pega pelas mãos e de forma sutil nos leva a uma breve viagem de autoconhecimento, frente ao reflexo do espelho da morte. Como se preparar para a “única certeza” que temos na vida e como não viver afogado em culpas pela falta de administração dos nossos relacionamentos?
Vale a pena ter esperança
Anja é dramaturga e diretora de dança-teatro. Logo na abertura do longa, temos uma cena de dança com uma leve pincelada de Almodóvar, diretor que costuma pontuar em seus roteiros, sua paixão por outras expressões artísticas. A sequência é pouco explorada, pois plasticamente é linda, mas está ali para ajudar a montar o arquétipo da pessoa comum, de uma mãe que trabalha e com muita luta está atingindo reconhecimento pelo seu trabalho. Após estrear um espetáculo novo, ela volta para casa para os preparativos para o Natal com a família. Após sentir uma dor de cabeça insistente, resolve procurar sua médica e passa por avaliações. Porém, o prognóstico não é favorável, indicando um tumor no cérebro um ano após entrar em remissão depois de tratar um câncer de pulmão. Começa então sua saga para descobrir se o tumor é operável e se vale a pena ter esperança.
A doença é pano de fundo para trazer à tona questões sobre o relacionamento ou a falta de relacionamento que há entre ela e o companheiro, Tomas (Stellan Skarsgård), com quem tem três filhos. Há o momento de luto e negação inerente à gravidade de um diagnóstico como câncer terminal, que serve como engrenagem para forçar o casal a se reconectar em prol dos filhos. Ela inicia um tratamento paliativo para amenizar as dores e o remédio tem severas implicações em seu humor, entre outros efeitos adversos. Este carrossel de emoções ajuda a dar o tom dramático pois Anja tem “surtos de sinceridade”. Isso alimenta os picos de embate nos diálogos e justifica até mesmo a coragem da personagem para pedir ajuda ao marido, após anos de um casamento distante; mais do que nunca ela precisaria dele para se preparar para a morte e também revelar à família que uma grande mudança estava por vir.
Medo e Culpa
Anja vai nos revelando uma grande culpa que sente pelo câncer de pulmão já que ela era fumante, acreditando ser somente isso, sem somatizar outros fatores, como a genética propensa a desenvolver a doença. Expõe uma culpa muito comum entre as mulheres: morrer e “deixar os filhos”, como se fosse uma espécie de “abandono”.
Paradoxalmente, uma grande culpa em ter se dedicado aos filhos, para que Tomas, também do teatro, pudesse evoluir cada vez mais em sua carreira, deixando sua própria para depois. Traz, sem levantar bandeiras, questões feministas entre a relação trabalho versus maternidade. Até chegar ao clássico questionamento “Por que eu? Logo agora que chegou a minha vez de chegar no topo”, mostrando um lado egocêntrico da personagem. Há um grande questionamento de Anja entre o pouco tempo que lhe resta de vida e a falta de percepção das conquistas já alcançadas.
A culpa recai também nos ombros de Tomas, que junto com a mulher, vai percebendo como ele passou uma vida inteira dedicada a trabalhar e isto fez com que o distanciamento entre eles fosse aumentando com o tempo. Os dois voltam a conversar mais, já que não havia mais cumplicidade, e passam a reavaliar o que sentiam um pelo outro.
Atuações Inspiradoras
Stellan Skarsgård faz uma excelente dupla com Andrea Bræin Hovig, apesar de seu personagem mostrar muita preocupação com a situação da esposa, ele mantém uma calma, uma nuance muito particular para exprimir tristeza e seriedade ao mesmo tempo. A atuação dos dois é inspiradora, talvez seja a melhor parte da obra, já que, convenhamos, a história é repetitiva. Filmes sobre “europeus com câncer” são muito comuns nos festivais e mostra de cinema e daqui a pouco poderia virar um “gênero cinematográfico” . O roteiro do filme tem muitos diálogos e reforça a ideia de que o foi escrito para o deleite dos atores. Imagino uma versão para teatro, já que tem poucas locações e é facilmente adaptável para os palcos.
O conteúdo não é tão interessante, pois já foi deveras explorado no cinema europeu, mas a forma como é conduzido, sim. O texto tem um percentual de clichês com frases de livros de autoajuda grande, mas no geral, tem bons diálogos e tiradas engraçadas em momentos mórbidos, eu particularmente gosto deste tipo de humor. Afinal, como disse o filósofo norte-americano Elbert Hubbard: Não leve a vida tão a sério. Afinal, você nem sairá vivo dela.
Por fim, o drama “Ficaremos Bem” (“Hope”), indicado pela Noruega para disputar uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2021, estará disponível a partir de 1º de outubro para compra e aluguel nas plataformas digitais Claro Now, Amazon Prime, Vivo Play, iTunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes.
Afinal, veja o trailer:
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Publicado
9 horas atrásem
24 de março de 2023
Na última quinta-feira (23), fomos convidados para o evento de lançamento do curta-metragem Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku. Aconteceu no Museu da República, no Rio de Janeiro.
Após a exibição um relevante debate ocorreu. Com mediação de Thales Vieira, estiveram presentes Raika Moisés, gestora de divulgação científica do Instituto Serrapilheira; Luiz Augusto Campos, professor de Sociologia da UERJ e Carol Canegal, coordenadora de pesquisas no Observatório da Branquitude. Ynaê Lopes dos Santos e outros que estavam na plateia também acrescentaram reflexões sobre epistemicídio.
Futura série?
O filme é belo e necessário e mereceria virar uma série. A direção de Fábio Gregório é sensível, cria uma aura de terror, utilizando o cenário, e ao mesmo tempo de força, pelos personagens que se encontram e são iluminados como verdadeiros baluartes de um saber ancestral. Além disso, a direção de fotografia de Yago Nauan favorece a imponência daqueles sábios.
O roteiro de Aline Vieira, com argumento de Thales Vieira, é o fio condutor para os protagonistas brilharem. Cida Bento e Daniel Munduruku, uma mulher negra e um homem indígena, dialogam sobre o não-pertencimento naquele lugar, o prédio da São Francisco, Faculdade de Direito da USP. Um lugar opressor para negros, pobres e indígenas.
Jacinta
As falas de ambos são cheias de sabedoria e realidade, e é tudo verdade. Jacinta Maria de Santana, mulher negra que teve seu corpo embalsamado, exposto como curiosidade científica e usado em trotes estudantis no Largo São Francisco, é um dos exemplos citados. Obra de Amâncio de Carvalho, responsável por colocar o corpo ali e que é nome de rua e de uma sala na USP.
Aliás, esse filme vem de uma nova geração de conteúdo audiovisual voltado para um combate antirracista. É o tipo de trabalho para ser mostrado em escolas, como, por exemplo, o filme Rio, Negro.
Por fim, a parceria entre Alma Preta e o Observatório da Branquitude resultaram em uma obra pontual para o entendimento e a mudança da cultura brasileira.
Em seguida, assista Nenhum saber para trás:
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